Por Altamiro Borges
Na sua campanha sistemática de satanização da política – que ajuda a explicar o aumento dos votos brancos e nulos e a eleição de tantos picaretas -, a mídia sem moral fabrica várias celebridades fugazes. Joaquim Barbosa, o Batman do STF, foi capa de revistas e destaque na tevê, e depois foi sumariamente descartado. Já o “Japonês da Federal” virou até máscara de Carnaval, mas foi defenestrado após o uso de tornozeleiras por contrabando. A celebridade midiática do momento é o tal do “Hipster da PF”, que ganhou os holofotes após conduzir o correntista suíço Eduardo Cunha à prisão em Curitiba. O policial Lucas Valença virou astro dos programas de entretenimento, como o “Encontro com Fátima”, da TV Globo. O estrelato, porém, parece que vai durar pouco tempo.
Na semana passada, seu aguardado desfile na Fashion Week, que reúne a elite ávida pelo consumo de roupas caríssimas, já deu zebra. Segundo a coluna de fofocas da revista Época, da famiglia Marinho, o “Hipster da PF” foi sondado pelos organizadores do evento. “Lucas Valença também foi convidado para assistir da fila A a alguns desfiles da semana de moda, que começou na segunda-feira e vai até sexta-feira (28), na Bienal do Parque do Ibirapuera. Mas também não topou dar o ar da graça, apesar de ter sido oferecido a ele um cachê pelo que se chama ‘presença VIP’ no mundo das celebridades. Especula-se que tenham sido oferecidos R$ 5 mil por uma presença de uma hora”.
Ainda segundo a coluna, o policial “agradeceu os dois convites que recebeu, alegando não ser – e nem querer se tornar – artista e muito menos modelo”. Parece, no entanto, que a recusa à fama não se deve à humildade do rapaz. Após a sua presença no “Encontro com Fátima”, a Policial Federal “confirmou que abrirá processo disciplinar contra Lucas Valença por conceder, sem autorização da corporação, entrevistas. A prática é contra as normas da PF”, afirma a revista Época. O jornalista Ricardo Feltrin, do site UOL, deu até maiores detalhes sobre as normas violadas pela nova celebridade midiática.
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“Lenhador Hipster” é suspeito de violar até 4 normas da Polícia Federal
Ricardo Feltrin – 27/10/2016
Enquanto estiver sob investigação interna na PF, por conta de seus atos midiáticos, o agente Lucas Valença, mais conhecido como o “hipster da federal”, foi aconselhado a parar de ir a programas e entrevistas na TV. E está proibido de aceitar presença em eventos mediante cachê.
Valença, 30 anos, engenheiro, já havia constituído até assessoria de imprensa e começou a trilhar o caminho da fama na semana passada, depois de ser protagonista na prisão do ex-deputado Eduardo Cunha.
Ele foi a programas como o “Encontro com Fátima” e “Programa do Porchat”, deu entrevista a sites e passou a receber convites para participar em eventos. Por esses atos, ele foi admoestado e está sob investigação interna.
Criado pela Lei 4.878/65, o regulamento interno da corporação policial proíbe esse tipo de autopromoção, e Valença já havia sido avisado que estava violando o estatuto da profissão desde que foi ao matinal da Globo.
No entanto, foi também ao “Programa do Porchat” e deu entrevistas a vários sites..
Segundo a investigação em andamento, o policial Valença pode ter desrespeitado ao menos quatro regras do artigo 43 do código de conduta da PF. A saber:
– Inciso IX: “auferir vantagens e proveitos pessoais de qualquer espécie e, sob qualquer pretexto, em razão das atribuições que exerce”;
– Inciso XX: “deixar de cumprir ou de fazer cumprir, na esfera de suas atribuições, as leis e os regulamentos” (como descumprir o inciso anterior, por exemplo)
– Inciso XXXIV – atribuir-se a qualidade de representante de qualquer repartição do Departamento Federal de Segurança Pública e da Polícia do Distrito Federal, ou de seus dirigentes, sem estar expressamente autorizado;
– Inciso LIII – exercer, a qualquer título, atividade pública ou privada, profissional ou liberal, estranha à de seu cargo;
Se apontado como responsável, Valença pode ser suspenso ou até mesmo ter de deixar a corporação.
Procurado por e-mail, o policial não se manifestou até o momento da publicação desta reportagem. Caso o faça, sua versão será aqui incluída.
De férias aparentemente forçadas, o “hipster” postou em seu Instagram declaração pública afirmando que sua participação em programas se deu em razão de sua beleza.
Segundo a coluna apurou, essa também será sua justificativa perante a comissão que analisa seus atos. Resta saber se a comissão aceitará o “argumento do belo”.
A Polícia Federal não comenta investigações ou sindicâncias internas e ou funcionais.
Código de Ética
O “hipster” Valença também pode ter ferido item da Resolução nº 004-2015 do CSP-Departamento de Polícia Federal, a respeito do código de ética dos profissionais da corporação.
Em seu artigo 4º, inciso I, ele antevê análise em caso de “conflito de interesses: situação gerada pelo confronto entre interesses públicos e privados, que possa comprometer o interesse público ou influenciar o desempenho imparcial da função pública”.
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Já neste sábado (29), o policial publicou sua versão na coluna de Ricardo Feltrin. Ele nega ter violado as normas da PF e garante que não sofreu qualquer punição. Sem qualquer modéstia, a sua assessoria de imprensa argumenta que “”Lucas Valença não foi convidado para conceder entrevistas enquanto representante da Polícia Federal, mas sim na condição de cidadão que possui interesse na sociedade. Valença não foi exonerado e nem afastado do cargo, nenhuma notificação chegou ao agente… Lucas Valença reforça todo seu respeito para com a PF e, principalmente, em relação a investigações protagonizada por profissionais, sempre protegidas pelo sigilo e confidencialidade”.
Sobre o argumento de que o policial foi convidado “na condição de cidadão que possui interesse na sociedade”, vale registrar que a mídia não dá ponto sem nó. Ele só virou celebridade porque serve aos seus intentos de negação da política e se encaixa no perfil dos antipetistas raivosos. Numa postagem no Facebook em 2014, ele declarou apoio às marchas golpistas pelo impeachment de Dilma. “Não sei quem foram os felas que colocaram ela lá! Mas faço questão de fazer parte de quem vai tirar”. Em outro comentário, ele questionou a vitória de Dilma: “Por mais que certa parte da população tenha votado nela, a despeito do seu despreparo, gagueira, insegurança, apoio de uma massa de corruptos, prefiro crer que a manipulação das urnas foi o grande responsável por esse lastimável resultado”.