As celebrações do Orgulho LGBT+ têm crescido em visibilidade e importância no mundo ocidental, frequentemente comparadas ao Carnaval. No entanto, apesar de algumas semelhanças superficiais, esses dois eventos possuem lógicas diferentes e inversas, refletindo suas raízes culturais e sociais únicas.
O Carnaval tem origem ancestral com base em festas pagãs e é um momento de subversão social, trocas de papéis e suspensão das normas sociais por uma semana. Durante esses dias, as pessoas se lançam à liberdade de expressão e à extravagância, muitas vezes de forma inconveniente. O Carnaval é um tempo de licença poética, onde tudo é virado de cabeça para baixo e toda a repressão durante o ano pode ser liberada.
A lógica do Carnaval é, portanto, a da suspensão da norma e libertação temporária: é uma pausa no tempo formal para o mitológico, onde se pode fugir da realidade, brincar com identidades trocadas e explorar o proibido sem as perseguições habituais.
Em contraste, as celebrações do Orgulho LGBT+ nasceram de um movimento de luta por direitos e reconhecimento social. O primeiro marco significativo desse movimento foi a rebelião de Stonewall em 1969, onde membros da comunidade LGBT+ se revoltaram contra a violência e a discriminação policial. Desde então, o Orgulho LGBT+ tem sido um símbolo de luta e afirmação da identidade.
Talvez o nome “Parada” atribuído no Brasil possa ter contribuído para algumas confusões, mas a lógica do Orgulho LGBT+ é de reivindicação e visibilidade: é um momento para sair às ruas, sendo você mesmo, celebrar conquistas, pautar novas agendas de lutas contínuas, e exigir igualdade e respeito.
Ao contrário do Carnaval, onde as normas são temporariamente abandonadas, o Orgulho LGBT+ busca transformar permanentemente a sociedade, derrubando barreiras construídas pela LGBTfobia estrutural.
Apesar dessas diferenças fundamentais, há momentos em que as celebrações do Orgulho LGBT+ podem dar aparência de Carnaval, isso não é problema. Ambas as festividades são marcadas por desfiles vibrantes, trajes coloridos, música e uma atmosfera de alegria, descontração e união. Esse aspecto festivo é muito importante, pois chama a atenção da comunidade e cria um espaço seguro onde todos podem ser autênticos.
No entanto, enquanto o Carnaval celebra a liberdade provisória, o Orgulho LGBT+ luta pela liberdade permanente e pelo direito de ser autêntico ao longo de toda a vida. A similaridade entre os dois eventos pode ser feita pela aparência e dimensão festiva, mas terminam aí. Os desfiles de Orgulho LGBT+ muitas vezes incluem fantasias elaboradas, trios e performances exuberantes, gogo boys, semelhantes aos desfiles de Carnaval.
Contudo, onde o Carnaval pode ser visto como um intervalo na seriedade da vida cotidiana, o Orgulho LGBT+ é uma declaração de seriedade em meio à celebração festiva. Cada bandeira arco-íris, cada slogan e cada passo dado nas são carregados de significado político e social, pedindo por reconhecimento e igualdade.
Valorizando ambos os movimentos, é crucial entender que o Carnaval e o Orgulho LGBT+ desempenham papéis distintos e fortes em nossa cultura. O Carnaval nos lembra da importância do escapismo, da alegria e da possibilidade de questionar e inverter nossas normas sociais, mesmo que seja por um tempo. Ele nos convida a imaginar um mundo diferente, a explorar nossas identidades secretas.
Por outro lado, o Orgulho LGBT+ nos ensina sobre a importância da visibilidade, da luta contínua por direitos e da celebração das conquistas obtidas. Ele nos chama a reconhecer e respeitar a diversidade, a apoiar a igualdade e a denunciar as injustiças. O Orgulho não é apenas um dia festa, mas um movimento vital desenvolver um mundo onde todos possam viver melhor.
Os dois podem compartilhar elementos festivos, suas lógicas não são iguais. Um oferece pausa efêmera da realidade, enquanto o outro trabalha para transformar essa realidade ainda melhor e duradoura.
Viver essas diferenças, podemos ver a riqueza e diversidade das nossas manifestações culturais e sociais, valorizando tanto a pausa efêmera quanto a luta permanente por um mundo mais justo e inclusivo.
Prefeitura de Salvador, através da Secretaria da Reparação consta relação de apoio a 72 manifestações que ocorrem nos bairros da cidade. A Bahia celebra em Salvador o 21º Orgulho LGBT+ no dia 8 de setembro na Ondina/Barra, às 15hs com muitas novidades. Toda essa efervescência, aliado ao apoio da gestão posiciona a cidade pelo pioneirismo.
Por: Marcelo Cerqueira