Quem é o senhor Francisco Everaldo Oliveira Silva? Talvez a maioria dos brasileiros não reconheça esse nome, mas ele foi o mais votado no Brasil para deputado federal em 2010, o segundo em 2014 e o sexto em 2018.
Talvez o desconhecimento desse nome de registro seja porque os seus eleitores não votaram nele e sim no personagem chamado Tiririca.
E por que tanta gente vota em Tiririca e não vota em Francisco Everaldo? Porque seus eleitores não querem no Congresso o ator, o comediante, o profissional, o cidadão chamado Francisco Everaldo, eles querem no Congresso o personagem Tiririca.
Por que tanta gente escolhe para um cargo que irá discutir, propor, aprovar, alterar, emendar, suprimir as leis do país, que interferem na vida de todos, alguém para desestruturar, brincar, ironizar com o sistema?
Isso se dá porque emergiu na sociedade um sentimento de vingança a todo o sistema político brasileiro. Já que, uma grande parte do povo não identifica no Parlamento uma interferência prática no seu dia a dia. E ainda lhe convenceram que a política é totalmente corrompida e sem solução, que serve apenas para enriquecer os políticos que fazem parte dessa armação.
“Então vamos esculhambar de vez!”. Esse é o raciocínio de quem não suporta raciocinar.
Os eleitores de Tiririca adorariam ver no congresso as palhaçadas, a fala engraçada, a risada hilária, as gaiatices de Tiririca.
Seria o máximo se ele fosse à tribuna para fazer o discurso transmitido para todo o país e começasse assim: Estou aqui pra falhar pra vochês uma coisa muito importante: Florentina, Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me amas, por que tu me seduz?
Mas, para decepção dos seus eleitores, não é o personagem que vai ao Congresso, e sim o cidadão Francisco Everaldo Oliveira Silva, sem a graça e sem o brilho do Tiririca. Deixou de ser um palhaço engraçado para ser um político medíocre.
Sua última piada, antes de ser deputado, foi: “vote no Tiririca, pior que tá não fica”. Como ele contou essa em 2010, não se pode negar, foi uma grande piada.
A única vez que discursou no Congresso durante dois mandatos foi para anunciar, num tom sério e até emocionado: “estou decepcionado com a política, não me candidato mais”.
Mas na eleição de 2018 se candidatou de novo, dizendo: “aquele discurso foi uma piada, abestado”. Muita gente achou engraçado e o elegeu pela terceira vez.
Entretanto, nas eleições de 2018, o povo que ansiava para vingar-se dos políticos, elegendo os bobos da corte, descobriram um novo tipo de bagunceiro do sistema, os trogloditas.
Esses, apesar de serem menos engraçados durante a campanha eleitoral, trazem uma grande vantagem, pois diferentemente do palhaço Tiririca, são trogloditas o tempo inteiro. As mesmas asneiras que falam e fazem durante a campanha, falam e fazem também após as eleições e em todos os ambientes, inclusive no Congresso, no Governo e em Davos.
Já que, ao contrário de Tiririca, acreditam nas suas próprias bobagens. Oh! Abestados.
Os candidatos trogloditas também serviam para incentivar seus eleitores a serem trogloditas, uma vontade que teve de ficar escondida durante um bom tempo.
Pois, para os eleitores dos trogloditas, a sociedade brasileira já estava ficando muito chata, muito séria, muito complicada e, principalmente, muito civilizada e humana.
Não se aceitava mais bater nas mulheres, linchar os pequenos ladrões na rua, já não se podia fazer piada abertamente sobre os negros, ser gay não era mais pecado, até empregada doméstica tinha que ter carteira assinada. Nem onça se podia matar. “como é chato ser civilizado!”
Seus eleitores já estavam cansados dessa exigência sem sentido de ter que raciocinar sobre tudo. “Para que ler livros se podemos saber de tudo pelo zap?” “Bem que eu sabia que a Terra é plana, se fosse redonda a gente escorregava”. “Como a mulher pode querer ser igual ao homem, se Eva foi feita da costeleta de Adão?” “Claro que comunista come criancinhas, o termo ‘nista’ significa ‘criança’ em russo”.
E tome voto nos trogloditas em 2018, Eduardo Bolsonaro foi o deputado federal mais votado no Brasil, Janaina Pascoal foi a deputada estadual mais votada de todos os Estados, Flávio Queiroz Laranjeira Miliciano Bolsonaro fraquejou e foi o terceiro senador mais votado do país.
E, para coroar a respeitadíssima avacalhação eleitoral, o cargo máximo do país foi para o Bozo!
Existe uma série em desenho animado brasileiro chamado “Irmão do Jorel”.
A história se passa no início dos anos 80 no Brasil, em plena Ditadura Militar.
Os militares são representados por palhaços de farda, cujo líder chama-se Rambozo, a mistura do Rambo com o Bozo.
Desse jeito é malvado e engraçado. Desde que, a malvadeza, é claro, seja com os outros.
O nosso Bozo é malvado, mas é também atrapalhado. Nem Chicó, no Alto da Compadecida, esqueceu de levar uma bolsa cheia de sangue de boi debaixo da camisa para fingir que recebia uma facada de João Grilo.
Mas no teatro de circo mambembe é assim, pode faltar algum elemento na cena que os atores fingem que existe e o público completa com a imaginação.
Eu vi o sangue, era azulzinho! Aquela camisa amarela, representando a bandeira brasileira, jamais poderia ter uma mancha vermelha!
O Bozo, para não decepcionar seus eleitores, montou seu ministério com trogloditas palhaços-malvados, uns mais palhaços, outros mais malvados.
E inventou o antiministério, cuja função é fazer tudo ao contrário do que a pasta exige.
O da Justiça é injusto e incentiva o crime, o da Educação propõe a precarização do ensino, o de Relações Exteriores destrói as relações com outros países, o do Meio Ambiente é um criminoso ambiental, a da Mulher diz que ela tem que vestir rosa e subir na goiabeira, os militares entregam o Brasil aos Estados Unidos, o da Economia acaba com o dinheiro e o sustento do povo.
E o Presidente Desgoverna o Brasil.
Quanta graça! Ou será o contrário? Quanta desgraça!
Mas o que é isso?!
Os eleitores do Bozo estão descobrindo, bem devagarzinho, que no circo da política, o povo não fica na arquibancada, está no meio do picadeiro, e é dele que os palhaços riem, é ele que está na corda bamba e é a sua cabeça que está enfiada na boca do leão.
Hoje tem marmelada?
Tem sim, senhor!
E o palhaço quem é?…
Texto de:
Antonio Augusto Pereira
(Pedagogo, Especializado em Política da Educação)
Mais conhecido como
Scuby Du
(Militante)