Do GGB, em Salvador.
Com os olhos bem abertos na história, com os pés fincados no presente e abraçando com coragem e afeto o que estar por vir, o futuro. Grupo Gay da Bahia, Grupo Gay do Brasil!
Salvador, Bahia, 27 de fevereiro de 2021, ás 23hs23min
O dia 28 de ferreiro de 1980, entrou para a história do movimento de emancipação homossexual brasileiro, como o dia em que na Bahia, em Salvador, foi fundado pelo jovem antropólogo Luiz Mott, o Grupo Gay da Bahia (GGB). O sociólogo, Aroldo Assunção, 59 anos, relata o que motivou a fundação do grupo: “Eu e Luiz, estávamos sentados apreciando o pôr do sol no Farol da Barra, eu estava deitado e com a cabeça no colo de Mott, quando saímos, percebemos que a motocicleta estava suja de ketchup”. Aroldo conta que Mott foi reclamar em um carrinho de cachorro-quente, e um homem deferiu-lhe um soco no rosto, chamando-os de gays.
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Esse fato ocorrido em finais de 1979 deixou Luiz Mott completamente decidido a fazer algo para reverter esse tipo de preconceito.
No ano seguinte, Mott publicou um anúncio no jornal gay de ultraesquerda o Lampião da Esquina, do Rio de Janeiro. No anúncio, Mott, convidava as bichas da Bahia a rodarem a baiana contra o preconceito. As bichas botaram a baiana para rodar e fundaram o grupo, sobretudo com o apoio do Grupo anarquista Inimigo do Rei.
O GGB foi o primeiro grupo a possuir uma personalidade jurídica no Brasil, conseguida através de liminar expedida pelo Judiciário da Bahia.
Atividades de comemoração ao Dia 28 de Junho em Salvador, membros do (GGB) segurando feita, Marcelo Cerqueira, Luiz Mott, presentes.
Foi também o primeiro grupo, na Bahia, a combater o preconceito e discriminação, que hoje chamamos de Lgbtifobia. O GGB é referência na prevenção do HIV e AIDS, desenvolvendo campanhas de educação e prevenção, inclusive junto a várias casas a outras populações, assim como divulgando o “Safe Sex” com uso do preservativo. Nos anos 90, começou a denunciar as mortes relacionadas ao preconceito.
O relatório anual de crimes contra homossexuais do grupo se tornou uma referência internacional para a imprensa, OEA, ONU e governos, inclusive dos Estados Unidos, Bill Clinton e Obama.
O GGB sobreviveu a todo tipo de situação e sempre apresentou a sua contestação nos casos envolvendo os homossexuais na Bahia e no Brasil, se tornou uma referência para inúmeros grupos que começaram a surgir em todo o Brasil.
O desafio que o grupo enfrenta hoje, é evoluir a narrativa de atuação sem perder a sua identidade e originalidade. Nos últimos tempos, houve uma grande evolução que possibilitou pessoas interagirem, viverem e expressarem suas opiniões e individualidades, inclusive orientações sexuais e identidades de gênero, por meio das mídias sociais.
Apesar da discriminação que permanece em patamares altos, hoje a repercussão e visibilidade de temas associados a liberdade sexual e os direitos de pessoas LGBTI no Brasil assumiram grande espaço nas mídias sociais, o que há 41 anos atrás ainda não existiam e os meios de atuação e comunicação eram muito restritos, o Grupo Gay da Bahia está buscando refletir sobre os novos desafios de organização e comunicação para a promoção da cidadania LGBTI e o enfrentamento da discriminação que persiste com a reação do conservadorismo, do fundamentalismo religioso e o negacionismo científico.
Manifestação pedindo justiça assassinato de gay no Campo Grande, Centro de Salvador, Luiz Mott.
O STF reconheceu nossas lutas, garantindo avanços importantes nas conquistas legais dos direitos da população LGBTI, como casamento civil (2011), alteração de nome e gênero no registro civil para pessoas trans sem condicionar a cirurgia (2018), as práticas de discriminação contra pessoas LGBTI foram consideradas crime (2019) e a revogação da proibição da doação de sangue por gays, travestis e bissexuais (2020), um preconceito e discriminação cruel contra a nossa população.
A luta precisa continuar. Vislumbramos um mundo onde a liberdade de ser e viver não precise de leis normativas que protejam essas manifestações. “A liberdade de pensamento e conduta, e o respeito a diferença, seria a “normalidade” deste novo mundo” afirma o presidente do (GGB), professor Marcelo Cerqueira.
Enquanto houver manifestações de ódio, preconceito e discriminação, o GGB estará vivo e alerta. Que venham mais 41 anos!
Grupo Gay da Bahia. Grupo Gay do Brasil, porque sempre acreditamos que “Amanhã vai ser outro dia” (Chico Buarque).