Na últinma sexta-feira (22), mais de duas mil pessoas compareceram à Expo Favela Innovation Bahia, uma feira de negócios e empreendedorismo voltada para iniciativas das periferias. Focada na potência das comunidades, a primeira edição da feira na Bahia tem a presença de 60 empreendedores de todo o estado, com produtos que vão de artesanato a alimentos e projetos de impacto social. A Expo Favela também aconteceu neste sábado (23), no Parque Shopping, em Lauro de Freitas, e recebeu nomes como os artistas MV Bill e Igor Kannário.
O evento contou com palestras e workshops com nomes do empreendedorismo e ativismo social, como a gestora de projetos sustentáveis Hellen Nzinga e a coordenadora de responsabilidade socioambiental do iFood, Daniela Sá, além de pitchs de startups, mentorias, gastronomia, shows e exposições de arte e cultura.
Para Márcio Lima, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) na Bahia, realizadora da feira, um evento como esse possibilita que empreendimentos das favelas possam mostrar sua competência. “Aqui, nós temos o compromisso de mostrar para a sociedade que a favela não é carência, é potência. Nós convidamos os empreendedores e empreendedoras das favelas para dar um match de negócios, entre a favela e o asfalto. Estamos conectando todos e todas num espaço plural e diverso”, afirma.
Uma dessas empreendedoras é Roseane Braga, que, por meio da culinária, mantém vivas tradições afro-indígenas. “O nosso negócio potencializa mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais, porque toda a nossa produção é oriunda dessas mulheres. A gente trabalha com o resgate da culinária ancestral através das tecnologias de nossos povos, resgatando essas receitas de culinárias que estavam se perdendo e trazendo para o cotidiano”, conta. Natural da comunidade de Buri Satuba, ela traz em seus pratos elementos como plantas tradicionais e o dendê, com o qual prepara cocadas e tapiocas saborizadas.
Em uma etapa anterior, empreendedores cadastraram seus projetos para uma seletiva, e a lista dos selecionados já está disponível no site da regional. As dez melhores ideias e negócios do estado irão para a etapa nacional, a Expo Favela Innovation Brasil, que será realizada em dezembro em São Paulo.
Defensor das periferias desde o início da carreira, o cantor Ed City foi um dos presentes no primeiro dia da Expo Favela. Segundo o artista, as maiores riquezas vêm das comunidades. “No esporte, na arte e na cultura, a favela para mim é o maior símbolo de superação. Eu tenho o maior orgulho de ser da favela. Nós devemos mostrar aos nossos jovens que independente das dificuldades é possível, sim, vencer”, diz.
O evento é uma oportunidade para as mentes criativas das favelas, como cantores, dançarinos, designers e modelos. Beatriz Ursulano, de 23 anos, está no mundo da moda desde os 12. Para a jovem do Subúrbio Ferroviário, que conta que a moda surgiu em sua vida para livrá-la de uma depressão, a oportunidade de desfilar num evento como esse é significativa para pessoas periféricas.
“A gente luta muito pela visibilidade, porque para a juventude periférica, a visibilidade é muito rasa. E é muito importante ter esse espaço onde nós podemos ser vistos, descobertos e abrir espaços para mostrar o que sabemos. A gente vai pisando devagar e, aos poucos, chegamos onde sempre sonhamos em estar”, diz.
Potência social
O filho de Nilza Carla, bióloga de 45 anos e moradora de Valéria, nasceu com paralisia cerebral e usa sonda gástrica. Sofrendo ao ver os sangramentos, infecções e odores fortes causados por vazamentos de suco gástrico pela sonda, Nilza desenvolveu por conta própria, em 2016, um absorvente dérmico para o filho. Nesta sexta, ela teve a oportunidade de expor o objeto para possíveis financiadores na Expo Favela.
“Nosso produto permite agregar valores emocionais, financeiros, tirar essa família de dentro de casa e inserir na sociedade, para que consumam lazeres como cinema de forma tranquila”, diz.
O absorvente dérmico, chamado de JO+ em homenagem a João, filho de Nilza, foi feito em parceria com o SEBRAE, onde a produção foi acelerada. Ela cita com orgulho as conquistas da criação: o protetor foi selecionado pela Embaixada dos Estados Unidos como um produto de impacto social, foi contemplado pelo edital Centelha, em que recebeu o fomento necessário para fazer o modelo piloto do absorvente.
O projeto também foi escolhido para ser apresentado oficialmente à indústria farmacêutica em Brasília em outubro. Para isso, Nilza arrecada doações para conseguir arcar com os custos de passagens, hospedagem e da cuidadora que ficará com João durante sua viagem.
Por: Raquel Brito
Foto: Fernando Vivas/Govba