Atualmente, mais de 60 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos todos os anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O enfrentamento de doenças que ameaçam a continuidade da vida é um processo desafiador e doloroso. Internações prolongadas e a ausência da perspectiva de cura ou melhora funcional que podem dificultar ainda mais este processo. Nesse sentido, os cuidados paliativos são uma opção mais humanizada para a assistência. Promovidos por uma equipe interdisciplinar especializada, têm como objetivo controlar os sintomas em todas as suas dimensões (física, psicológica, espiritual e social), além de acolher e promover melhora na qualidade de vida para pacientes e familiares.
“Nos cuidados paliativos, o paciente é visto por uma equipe interdisciplinar como protagonista do seu cuidado, valorizando tudo aquilo que faz sentido para ele e lhe proporciona bem-estar”, explica a pneumologista Yanne Amorim, pós-graduada em cuidados paliativos e coordenadora médica da Clínica Florence, primeiro Hospital de Transição de Cuidados do Norte/Nordeste.
Este modelo de assistência é realizado em um ambiente humanizado, com interações flexíveis, a partir da necessidade de cada paciente e seus familiares e é conhecido fora do Brasil como Hospice. Ele é indicado em casos de doenças avançadas como câncer, demências em fase terminal, insuficiência cardíaca grave, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), condições degenerativas e outras crônicas progressivas.
“Os cuidados paliativos cumprem o papel de oferecer a atenção necessária ao paciente e seus familiares, promovendo o controle adequado de dor e demais sintomas, mas também respeitando as crenças, valores e outras questões pessoais de cada indivíduo. O sofrimento evitável de sintomas tratáveis é perpetuado pela falta de conhecimento sobre cuidados paliativos e é por isso que se torna tão importante falarmos sobre o assunto.”, acrescenta a médica.
Dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 625 mil brasileiros necessitam de cuidados paliativos. A The Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), organização internacional voltada ao desenvolvimento dessa abordagem, também reforça a importância de se ampliar o acesso a esses serviços, especialmente em um modelo que prioriza o bem-estar físico, emocional e espiritual de pacientes e suas famílias. De acordo com a OMS, menos de 15% das pessoas recebem cuidados paliativos, especialmente nos países de baixa renda. A maioria (67%), ainda segundo a OMS e a WHPCA, é formada por adultos com mais de 50 anos e pelo menos 7% são crianças.
Yanne ressalta que essa abordagem não é restrita ao período que antecede o falecimento, sendo ideal que se comece de forma precoce quando ainda há possibilidade de tratamento capaz de modificar a doença. Essa é uma forma de garantir mais qualidade de vida, conforto e acolhimento ao paciente e seus familiares. “O foco deixa de ser na doença. Reforçamos a vida do paciente, quem ele é, o que ele gosta, o que lhe traz bem-estar. Reafirmamos a vida sem travar uma luta contra a morte. Afinal, a morte é uma etapa natural da vida.”, acrescenta.
Esta abordagem permite que o paciente e seus familiares vivenciem o processo de fim de vida com mais leveza e consciência, minimizando a dor da despedida. O filho da dona de casa Delzemir Rodeiro, diagnosticado com câncer de intestino, foi acompanhado pela equipe de cuidados paliativos da Clínica Florence, em Salvador. onde pôde conviver com a família e realizar atividades que lhe traziam alegria. “As pessoas pensam apenas em morte quando se trata deste assunto, mas a gente também vive em cuidados paliativos. É feliz, como meu filho foi. Primeiro trata-se o paciente para que ele possa passar pelo momento com muita paz, muita tranquilidade e muita segurança. E foi isso que meu filho viveu. Então, para mim, isso é qualidade de vida. ‘Ah, mas ele morreu…’, mas ele teve qualidade de vida. Até o fim, ele teve qualidade. O acolhimento e a assistência de uma equipe multidisciplinar durante 24h por dia são essenciais. E isso, meu filho e a nossa família receberam!”, compartilha Delzemir. Ela destaca ainda que esse tipo de cuidado deveria ser acessível a todos, independentemente de condições financeiras, garantindo apoio e suporte durante esse momento delicado. “Este é um cuidado que todo mundo deveria ter em qualquer hospital, aqueles que podem pagar e aqueles que não têm plano de saúde ou recursos particulares. É um direito! Uma pessoa não pode entrar e sair no desespero na partida de um ente querido sem ter um apoio, um suporte, não pode. Em nenhum momento meu filho deixou de ser assistido. Isso é de extrema importância. Eu, como mãe, sou eternamente grata. O preparo que a gente tem para quando chega aquele exato momento é determinante.”.
O depoimento de Delzemir está alinhado com o tema criado pela WHPCA em 2024: “Meu cuidado. Meu direito.“, que visa chamar a atenção para o direito que todas as pessoas com uma doença grave têm de receber o atendimento de cuidados paliativos adequados, dentro da política pública de saúde, e a necessidade de se priorizar o financiamento de cuidados paliativos na Cobertura Universal de Saúde. O acesso a cuidados paliativos e medicamentos essenciais contribui para a realização do direito de desfrutar do mais alto padrão possível de saúde e bem estar.
Em maio deste ano, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), visando ampliar o acesso a essa importante assistência. Na Bahia, a Clínica Florence se destaca neste trabalho, sendo especializada no atendimento a pacientes em reabilitação e cuidados paliativos.