Fevereiro de 2021, quase um ano completo de isolamento social no Brasil, ocasionado pela Pandemia do Coronavírus – COVID-19. E mesmo com todo esse tempo transcorrido, muitos ainda não conseguiram se habituar às mudanças na rotina diária de todos os lares. O certo é que as medidas de prevenção se generalizaram em todas as idades e classes sociais, sejam crianças, jovens ou idosos (especialmente).
Com essa realidade, o trabalho home office substituiu as tarefas nas empresas, com a junção das rotinas domésticas e atividades laborais, com uma sobrecarga, especialmente para as mulheres (no caso, esposas/mães, que se transformaram em professoras).
Assim, a casa deixou de ser o local de chegada e de acolhida, depois de um dia árduo de trabalho e passou a ser o único lugar de reunião da família, para todas as atividades que se impõem a uma sociedade.
Alguns setores já estão retornando, gradativamente e com bastante cautela, às atividades habituais, porém as escolas ainda não conseguiram encontrar um alinhamento para retornar às aulas, sem que cause um impacto maior às famílias, no contagio do Coronavírus.
E, talvez a tarefa maior para os pais tenha sido com as aulas remotas para as crianças (especialmente da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental), que tem necessidade de um acompanhamento sistemático para que haja uma aprendizagem mais efetiva, além da necessidade da convivência social, para se desenvolverem emocionalmente.
Com as aulas remotas várias atividades rotineiras de um ambiente escolar ficaram comprometidas, ou simplesmente foram substituídas pelos afazeres domésticos, com o intuito de otimizar as tarefas do dia a dia de um lar. Só ficou a saudade nas crianças do correr, do brincar, do conversar com amigos e de rir juntos, ou uma de fazer uma partida de futebol no pátio da escola, na hora do intervalo. Tudo isso deixou de existir de um dia para o outro, sem admitir ensaios e muito menos admitir a rejeição.
O que se pode perceber, em muitas famílias, é que com pais e filhos em casa por 24h, houve a necessidade de se desenvolver um certo grau de disciplina, para um convívio harmonioso e uma rotina a ser cumprida, que pode ajudar as crianças na participação das aulas remotas e na realização das atividades escolares, com a ajuda dos pais. Nesse aspecto é que se fala que nesse momento das aulas remotas iniciou-se (ou se deu continuidade) a um grande investimos na autonomia das crianças, na construção de atitudes proativas, que irão valer para toda a vida, não apenas durante este período de isolamento social.
E nesse caos que se instalou, o desenvolvimento e a utilização das tecnologias digitais teve uma explosão. Observou-se que, o que estaria previsto a acontecer em 10 ou vinte anos, antecedeu-se pela necessidade de comunicação.
E não se pode negar que foi um ano um tanto desafiador, mas também promissor para a inovação da educação, quando as tecnologias digitais puderam se tornar grandes aliadas no processo de ensino-aprendizagem em todos os níveis de ensino.
O que os grandes estudiosos da área afirmam é que o contato via equipamentos tecnológicos até ajudam, mas também não conseguem substituir na íntegra a complexidade social. Mas sem esses equipamentos nesse momento de isolamento, teria sido quase que impossível a realização de inúmeras atividades que garantem a sobrevivência do ser humano, seja nos aspectos de atendimento às necessidades básicas ou necessidades emocionais.
A educação seria um dos setores mais comprometidos sem a utilização nesse momento de isolamento social. As escolas e professores tiveram pouco tempo para se reinventar, para não comprometer mais ainda o ano letivo.
E se nossa temática é falar de Autonomia, que se relaciona diretamente com independência, liberdade ou autossuficiência. Pode-se dizer, que é a capacidade de um indivíduo fazer por si, gerir livremente a sua vida e a resolução dos seus problemas. Para isso, a pessoa conta com a capacidade de refletir e discernir as suas próprias escolhas, quando educada e preparada para tal.
A construção da autonomia nos seres humanos ocorre desde os primeiros anos de vida, auxiliando no desempenho cognitivo e social das crianças, ou seja, na capacidade de compreender, refletir, inferir e ainda, trazer soluções.
O próprio ato de começar a andar, comer e se vestir com independência são os primeiros exemplos de desenvolvimento da autonomia. Aos poucos a criança vai aumentando a possibilidade de fazer as coisas mais sozinha. Ela vai dominando as pequenas práticas do dia a dia e ganhando novas habilidades.
E para uma criança construir uma autonomia saudável é preciso que o adulto participe ativamente neste processo. O fazer junto é de suma importância, lembrando que cada estágio de desenvolvimento da criança corresponde a um grau de autonomia e que cada criança é uma criança diferente em seu histórico e em seu ritmo.
Esse fato da presença dos pais e/ou outros familiares no ensino remoto, pode ser teoricamente explicado através dos estudos de Vygotsky, quando fala sobre o desenvolvimento das funções mentais, no conceito da Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKY, 1998, 2007).
Denominada de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKI, 1998, p.112).
E no caso das aulas remotas, ficou bem claro que a tarefa dos pais (ou outros adultos) ajudarem aos filhos na construção da autonomia através das atividades do dia a dia da rotina de casa e na aprendizagem escolar fez a diferença. E se fez bem, deve ter continuidade.
Quando em casa há limites, rotina, respeito, diálogo e acompanhamento das tarefas, a criança e o jovem conseguem se organizar melhor e se sentem mais dispostos a estudar. Desta forma, há real incentivo na autonomia e na aprendizagem das crianças.
Portanto, apesar das dificuldades que vieram com a pandemia da COVID-19, as tecnologias digitais, que eram utilizadas como recursos de apoio ao processo de aprendizagem, tornaram-se o artefato principal do ensino remoto.
E ainda podemos citar a grande empatia que as crianças da atualidade, considerados nativos digitais, tem com as tecnologias, superando-se consideravelmente na utilização a muitos adultos. Com a utilização dessas tecnologias no ensino-aprendizagem esse processo pode estar ocorrendo de forma mais prazerosa para as crianças.