Por Altamiro Borges
A exploração abjeta da fé dos brasileiros – que não tem nada a ver com a arraigada religiosidade popular, que deve ser sempre respeitada – dá muito dinheiro. Que o diga o “pastor” Valdemiro Santiago, o chefão da Igreja Mundial do Poder de Deus. Na semana retrasada, ele levou várias facadas no pescoço durante um culto em São Paulo. Com a camisa ensanguentada, ele passou a pedir aos fiéis a módica contribuição de R$ 8 milhões para pagar um mês de aluguel do seu programa de televisão. Já na semana passada, ele foi vítima de outra “tragédia”. Já recuperado das facadas, a lancha em que o pastor curtia a vida em uma luxuosa praia do litoral paulista foi à deriva e ele foi “milagrosamente” resgatado após quase 15 horas no mar.
Estes dois incidentes devem ter sido muito traumáticos para Valdemiro Santiago, mas serviram ao menos para resolver seus problemas financeiros imediatos. Eles foram quase uma benção divina. Em duas semanas de intensa exposição midiática, o “pastor” conseguiu superar a meta de arrecadação e atraiu novos crentes para seus cultos – que andavam meio esvaziados. Nem os comentários céticos e irreverentes de alguns internautas, que estranharam a ausência das marcas da facada no seu pescoço, foram capazes de reduzir a crença dos fiéis. O jornalista Ricardo Feltrin, do site UOL, postou neste sábado (21) mais um dos seus artigos demolidores contra a charlatanice do pastor. Vale conferir:
*****
Após campanha, pastor Valdemiro obtém de fiéis R$ 8 milhões para bancar TV
Além de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato, o pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, conseguiu outros dois “milagres” só neste mês: os templos voltaram a ficar lotados e ele já obteve os R$ 8 milhões que pediu aos fiéis para bancar um mês de seu canal, a Rede Mundial.
Conforme esta coluna antecipou, Valdemiro iniciou a campanha de doação para a TV logo após ter alta do ataque sofrido de um fiel, que o atingiu a golpes de facão.
Em um dos programas de seu canal 32.1 UHF (também presente na Net no canal 25), Valdemiro pediu que 8.000 de seus seguidores aceitassem o “desafio” de doar R$ 1.000 para ajudar na tele-evangelização.
Segundo esta coluna apurou, na semana passada a meta já havia sido não só alcançada, mas superada.
Segundo o pastor, R$ 8 milhões seria o custo mensal para bancar a emissora por cerca de um mês, mas provavelmente esse valor deve cobrir também as operações das muitas rádios que a Mundial tem espalhadas pelo país.
Outro “milagre” relatado por fontes da igreja à coluna é que, após o ataque, os templos da Mundial voltaram a ficar lotados como ocorria cerca de cinco anos atrás.
Não há dados exatos sobre o número de fiéis da igreja de Valdemiro Santiago. A última mensuração oficial (do IBGE) data de 2010 e apontava então 315 mil fiéis.
Porém, esse número certamente é muito maior, já que há muitos evangélicos que se recusam a dizer que linha seguem. A igreja está instalada em cerca de 20 países.
Ataques
Em março de 2012, auge da expansão da Mundial, Valdemiro foi duramente atingido por uma reportagem-denúncia da Record (“Domingo Espetacular”), que o acusou de desviar dinheiro de dízimo para compra de bens particulares, inclusive uma enorme fazenda com milhares de cabeças de gado.
A denúncia gerou uma investigação múltipla de promotores, procuradores, polícia e, o pior, da Receita Federal, que o autuou. Nos meses seguintes, Valdemiro ainda sofreria outro tipo de ataque – dessa vez da Igreja Universal.
Emissários de Edir Macedo iniciaram um agressivo processo de compra de horários em emissoras abertas, pagando valores bem maiores que os da Mundial. Com isso, a igreja de Valdemiro acabou sendo “expulsa” dos grandes canais.
Ao mesmo tempo, após a denúncia, muitos fiéis desconfiados abandonaram as fileiras de Valdemiro e muitos templos foram fechados (a igreja estima ter cerca de 5.000 deles).
Com o violento ataque sofrido a facão no início do mês, a situação se reverteu e a igreja voltou a atrair seguidores, segundo esta coluna apurou.
Na última quarta-feira, em mais um caso envolvendo o religioso, ele foi resgatado de um barco que estava à deriva no litoral de São Paulo, após pane elétrica.