Numa reunião do alto escalão do Governo da Bahia, a pauta era o projeto urbano da orla de Salvador. Um grupo francês fez um projeto, mas havia algumas aberrações. Como um estacionamento abaixo do Farol da Barra. O nome de Pedro Castro foi lembrado, pois meu pai foi também um profissional pioneiro de planejamento urbano. Mas um coronel disse: Pedro Castro não. Ele foi um dos líderes estudantis contra o golpe de 64. O caso foi levado a ACM. Ele perguntou se meu pai era bom no ofício. Com a reposta afirmativa, ACM, no seu jeito peculiar, pediu para o coronel não interferir. Assim, Pedro Castro tocou o projeto. O garoto do bairro da Liberdade que sempre lutou pela liberdade. Uma vez meu pai coordenava um relevante projeto social no Rio. Era a época do milagre econômico. Meu pai e nossa família prosperaram. Mas ele descobriu “malfeitos”. Estou em casa e descubro pela TV Band que meu pai pediu demissão e o vejo na TV dizendo: “um homem não fica em cima do muro”. Foram tempos difíceis, mas ele deu a volta por cima. A resiliência é o melhor termo para definir o menino que ia para a casa dos tios para poder comer. Tenente-coronel, sociólogo, escritor, professor universitário da UFF, aos 64 anos largou todo o conforto da sua casa para passar um tempo em outro continente, morando sozinho numa quitinete. E voltou de lá com o diploma de PHD. Tenente em 64 e ajudante de ordens do comandante da PM, meu pai era na mesma época, pasmem, presidente do Diretório Acadêmico da UFBa. E como fala meu tio George Ochoama. Seu pai era um líder nato e sua liderança entre os estudantes não era contestada por ele ser PM. Um dia meu pai viu um PM batendo numa pessoa. Imediatamente, ele deu voz de prisão ao policial. Ele nunca tolerou injustiças e sua vida foi dedicada à defesa dos fracos e oprimidos.Ele demonstrou numa carta, rigorosamente cumprida por mim e pela minha irmã Lola após o seu falecimento, o desejo de deixar uma ótima quantia para a trabalhadora doméstica da sua casa. A moça comprou sua casa própria. Um dia, em Ipanema, esqueci de agradecer uma senhora por algo. Meu pai disse calmamente, volte e agradeça. Nunca levantou a voz para mim. E nem precisava. Meu pai era a solidariedade em pessoa. Tirou todos os quatro irmãos de casa e arrumou uma nova moradia para todos e para minha vó Felícia devido a problemas familiares. Sabe o esteio de uma família. Esse era Pedro Castro. Fica uma saudade dentro do meu peito por não poder te ligar todos os dias. Isso foi o mais duro de tudo na sua partida. Porque era com ele que eu repartia tudo. Bem novo, eu disse, pai, quero ser feliz. Me ensine. FIlho, ninguém é feliz ou triste. O segredo está em ter mais momentos felizes do que tristes. Jovem, cheio de conflitos, ele dizia, filho, você tá progredindo. E na época eu não via progresso nenhum na minha pessoa. Ele poderia ter roupas de grife, carrão. Mas nunca almejou isso, como a maioria dos mortais. Ele simplesmente não precisava disso. Você, leitor, tem muita sorte se teve alguém que sempre acreditou em você e a quem você deve tudo. Eu tive. Sou jornalista porque meu pai insistiu, insistiu e insistiu em mim. Como ele dizia: “te darei asas filho, para você voar”. Onde você estiver meu pai, se realmente houver existência após a vida, eu te encontrarei, beijarei sua testa e me despedirei como você nos ensinou. Beijo Maior Que Tudo (BMQT). Te amo… te amo.. Te amo…Obrigado, Deus por ter me feito filho de Pedro Castro. Orgulho, saudades.