Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
A saída de Temer e de seus asseclas tucanos para responder às acusações de estarem incorrendo nas práticas administrativas que ao menos o PSDB e seus pistoleiros condenavam quando estavam na oposição foi insinuar na TV ou dizer claramente nas redes e no rádio que no governo Dilma os suprimentos do avião presidencial também eram caros e sofisticados.
Veio à tona nesta semana notícia de que o Palácio do Planalto abrira licitação para comprar alimentos para viagens aéreas da Presidência. O valor total da contratação: 1,748 milhão de reais. Entre os diversos itens listados, chamou a atenção o pedido por 500 unidades de “sorvete tipo premium” Häagen-Dazs, 120 potes de creme de avelã Nutella e 500 quilos de gelo seco.
Na noite da última terça-feira, o Jornal Nacional noticiou o cancelamento da licitação insinuando, ao fim da reportagem, que no governo anterior também ocorriam gastos iguais.
A revista Veja, por sua vez, noticiou assim o cancelamento da licitação:
“(…) Os detalhes do pregão não repercutiram bem e o governo correu a cancelá-lo nesta terça-feira. O edital foi formulado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) e publicado no Diário Oficial da União no dia 19 de dezembro. O primeiro a anunciar o seu cancelamento foi o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, por meio do Twitter. Depois, o governo federal enviou uma nota, dizendo que Temer ficou sabendo da licitação hoje pela imprensa (…)”
Note, leitor, que Temer “ficou sabendo da licitação pela imprensa” – provavelmente, pensava que o “Häagen Dazs” era de graça… Vai saber.
Esse comportamento compassivo da Globo ou da Veja, porém, não existiu quando o jornal O Globo opinou, ano passado, que “Dilma” custava ao Brasil “o dobro da rainha Elizabeth II ao Reino Unido”.
Na matéria, o jornal descreve gastos da Presidência da República que existiram desde sempre e continuariam existindo, mas que, naquele texto, limitaram-se a acusar Dilma e Lula de gastar muito com a estrutura presidencial, como se tivessem fugindo ao padrão de gastos dos presidentes da República.
A matéria também cita compras parecidas às de Temer para o avião presidencial. E com custo similar. Daí a matéria do Jornal Nacional lembrar ao distinto público o “governo anterior”.
Porém, quem começou a criticar esses gastos foram os tucanos e seus pistoleiros na mídia quando eles eram feitos por presidentes petistas.
As licitações corriqueiras do cerimonial do Planalto eram criticadas furiosamente por Veja,Globo, por blogueiros tucanos, por golpistas e por partidos políticos que, agora que estão no poder, calam-se sobre o que criticavam, pois passam a fazer igual.
Sabe o que essa canalhada disse agora sobre gastos iguais de Temer? ABSOLUTAMENTE NADA. Caras-de-pau.
Convenhamos que esses gastos da Presidência não pegam bem para ninguém em tempo algum. Contudo, pega mais mal ainda quando tem gente que critica quando não gosta do presidente que usufrui e se cala quando apoia esse presidente.
Essa fascistada ultradireitista que assola o Brasil tem um costume curioso. Quando os políticos que apoia são pegos com a boca na botija, faz cara de paisagem e solta um quase inaudível “que punam todos”, mas o fato é que essa gente só se dá ao trabalho de criticar suposta corrupção ou supostos abusos se o acusado for petista. Corrupção ou abusos de políticos de direita esses hipócritas nunca tomam a iniciativa de criticar.
Não é correto, não é aceitável que presidentes e demais autoridades gastem tanto dinheiro público com mordomia, com altos salários, mas isso não deveria valer só para presidentes da República.
Será que esse pessoal já viu qual é o custo de um desses procuradores-playboys da Lava Jato ou de um governador de Estado? Se alguém se ocupar dos gastos do governador Geraldo Alckmin, certamente o político mais blindado do Brasil, vai cair de costas.
Na foto abaixo, por exemplo, Sophia Alckmin (no banco), está em Nova Yorque. Foi clicada “ao acaso” ao lado de Kim Kardashian, na semana de moda de Nova York.
O custo do Estado brasileiro é alto não por conta de políticas públicas, mas pelas mordomias que o sujeito granjeia quando assume cargos importantes. Recentemente, o procurador da República Deltan Dallagnol foi flagrado comprando imóveis subsidiados do Minha Casa, Minha vida para revende-los pelo dobro do preço.
Os vencimentos totais brutos de Deltan Dallagnol são de R$ 35.607,28, segundo o Portal da Transparência do Ministério Público Federal, mas neste ano houve um mês – abril – em que ele recebeu líquidos R$ 67.024,07, com “indenização” e “outras remunerações retroativas/temporárias”, acima do teto constitucional.
Os salários e as mordomias do Judiciário e do Ministério Público são um abuso tão grande quanto o dos gastos da presidência.
Essa história de pegar presidentes para Cristo por conta de seus vencimentos ou por gastos de representação da Presidência – que incluem despesas até com chefes de Estado estrangeiros – é trapaça. Tais gastos são encarados seletivamente conforme o ocupante do cargo que se quer atacar ou proteger. Ninguém deveria dar bola a esses factoides.