Por Altamiro Borges
Patrocinada pela mídia falsamente moralista, a escandalização da política segue nas alturas – o que ajuda a explicar o recorde de votos nulos e brancos nas eleições de outubro e também a vitória de tantos prefeitos e vereadores picaretas. O caso do momento é o da chamada “farra das passagens”, em que a reputação de inúmeros deputados federais é jogada na lata de lixo de forma sumária. O Ministério Público Federal apurou que 433 parlamentares repassaram os seus bilhetes aéreos para terceiros, o que é uma prática prevista no Legislativo. De imediato, a imprensa transformou a denúncia em um novo escândalo midiático, ajudando a satanizar ainda mais a política.
O curioso, porém, é que a mídia segue seletiva na sua indignação com o mau uso do dinheiro público. Entre os listados pelo MPF, encontra-se o Judas Michel Temer. Quando presidente da Câmara Federal, ele teria usado sua cota de passagens para uma viagem de turismo a Porto Seguro (BA), acompanhado de mulher, familiares e amigos. Se na lista constasse o nome de Dilma Rousseff, com certeza seria manchete dos jornalões e motivo de comentários hidrófobos na TV Globo. Como o usurpador assaltou o poder graças a um golpe midiático, o seu nome só apareceu discretamente no corpo das matérias e rapidamente sumiu do noticiário. Como dizem na internet, “não vem ao caso”!
Também participaram da chamada “farra das passagens aéreas” vários deputados que hoje ocupam postos de destaque no covil golpista. É o caso do “ético” Moreira Franco, homem de confiança de Michel Temer responsável pelo programa de “parcerias” com o setor privado. Ele hoje é o queridinho dos empresários que orquestraram e financiaram o “golpe dos corruptos” e, por isto, também foi blindado pela mídia. O único até agora que não foi poupado no novo escândalo patrocinado pela imprensa é o ex-deputado Ciro Gomes, um ácido crítico do Judas Michel Temer que desponta como potencial candidato da oposição em 2018.
De imediato, Ciro Gomes reagiu ao estilo. Disse que a acusação “é uma mentira, cabalmente esclarecida”. Lembrou que a própria companhia aérea citada na denúncia, a TAM, afirmou em 2009 que errou na cobrança das passagens aéreas dele e de sua mãe, Maria José Gomes, para um voo de São Paulo para Nova York. A empresa alegou ter inadvertidamente cobrado as passagens da mãe da cota do deputado. Mesmo assim, o seu nome foi o que ganhou maior destaque na imprensa. O “decorativo” Michel Temer foi poupado. Os seus ministros, também.