O mundo inteiro fala em sustentabilidade, mas firmada em quê? Em geral, num pensamento econômico que sobrevive pela avidez. E vai liquidando os seres humanos não apenas por força do desemprego, da fome — em várias regiões de nosso orbe —, mas também pela carência de instrução. E esta, muitas vezes, nega melhor perspectiva à juventude e até a indivíduos na idade adulta. Não obstante, existe, por todo lado, o empenho de pessoas decididas a corrigir tal situação, que impede o crescimento sustentável de inúmeros países. E não basta instruir e educar. É imprescindível reeducar e ecumenicamente espiritualizar as nações, fazendo com que vejam além do intelecto.
Com isso, pode-se notar que, em diversos lugares onde a Economia se tornou mais forte, após certo tempo, por ausência de maior investimento nos princípios espirituais e éticos, a violência, que diminuíra, ressurge, advinda tantas vezes da indiferença aos que têm menos em suas fronteiras ou fora delas. Disso decorrem muitos conflitos internacionais. Por quê? Porque faltou não somente o ensino, todavia muito mais: a Reeducação, que é somar aos conteúdos formais a sabedoria universal da Alma.
As ações humanas com frequência refletem uma cultura em que o futuro depende unicamente das coisas que se pode tocar, segurar. Ora, e se existir algo além? É importante priorizarmos o Espírito, que antes de tudo somos, aguardando por ser esclarecido, iluminado pela Verdade e pelo Amor. Uma fórmula cujo resultado constitui a elevada Justiça, aquela que alcançará a eficiência de ser, de acordo com o que dizia Confúcio (551-479 a.C.), “o castigo para acabar com o castigo”. Ou seja, corrigir a criatura, livrando-a de seus enganos e conduzindo-a por caminhos acertados. A Reeducação, portanto, é uma escolha que nos deixa mais receptivos ao apoio celeste, pois o governo da Terra começa no Céu.
As bases renováveis eternas do Espírito
A sustentabilidade é o desafio das nações emergentes ou das que já atingiram o mais alto nível de crescimento material de suas economias. Ela igualmente é a luta dos ecologistas e a meta a ser alcançada pelos administradores da Terra. Jesus, o Economista Divino, por Sua vez, nos oferece um caminho novíssimo, porque firmado em bases renováveis eternas do Espírito, o moto-contínuo, a curul do desenvolvimento planetário intermundos.
No Evangelho do Cristo Ecumênico, o Estadista Celeste, segundo João, 15:1 a 11, podemos ler:
A videira e os ramos
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai, o viticultor. Ele corta os ramos que não derem fruto em mim e limpa todos os que dão fruto, para que o deem mais em abundância. Já estais limpos pela palavra que vos tenho anunciado; permanecei em mim e Eu em vós. Assim como o ramo não pode dar fruto de si mesmo, se não se conservar na videira, o mesmo vos sucederá se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim, e no qual Eu permaneço, dá muito fruto, pois sem mim nada podereis fazer. Se alguém não o fizer, será lançado fora como a vara e secará; e será jogada ao fogo para queimar. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras em vós permanecerem, pedi o que quiserdes, e vos será concedido. A glória de meu Pai está em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu Amor; assim como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no Seu Amor. Tenho-vos dito estas coisas a fim de que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.
É preciso iluminar o Espírito Eterno da criatura humana, origem da sua liberdade ou do seu cativeiro. A chave dessas afirmativas encontra-se no Evangelho, segundo Mateus, 6:33, preconizada pelo saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, Alziro Zarur (1914-1979), como a “Fórmula Urgentíssima de Jesus”: — “Buscai primeiramente o Reino de Deus e Sua Justiça, e todas as coisas materiais vos serão acrescentadas”, que considero ser a Lei Econômica Urgentíssima do Supremo Comandante da Terra, o principal pilar da Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, que há décadas pregamos. A Fórmula do Cristo é valiosíssimo preceito que impulsiona e ilumina os Estatutos Superiores da Esperança e da Paz, que só podem vicejar onde imperam a Verdade e o Amor, a Humildade e o Bem.
Reforma a partir do Espírito
Em meu artigo “Leis, homens etc…”, publicado há mais de 30 anos na Folha de S.Paulo, já alertava para o fato de que é urgente educar. A Lei Áurea capaz de abolir a escravatura em qualquer país é livrar seu povo da ignorância. Escreveu Rui Barbosa (1849-1923) que “instruir não é simplesmente acumular conhecimentos, mas cultivar as faculdades por onde os adquirimos e utilizamos a bem do nosso destino. Se não as educamos simultaneamente na direção da esfera intelectual e na direção da esfera moral, tê-las-emos condenado a um desenvolvimento incompleto. Conhecer é possuir a noção plena e o conhecimento perfeito da lei no mundo moral, como no da criação material. A ausência da percepção do dever é, pois, uma das faces da ignorância, no sentido em que entendemos, quando lhe opomos como antídoto a escola”.
Não basta, portanto, apenas instruir, informatizar, digitalizar, porque a Espiritualidade Ecumênica é fator de comedimento que sustenta a ética nas ações humanas, particulares ou públicas. Levemos em conta esta reflexão do velho Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), filósofo estoico, arrastado à morte por Nero (37-68): “A estrada para a sabedoria é longa através de preceitos, breve e eficaz por intermédio de exemplos”.
O que não se faz por reformas que flagrantemente batem à porta pode vir a ser realizado por meio de processos traumáticos. E aí, além dos anéis, vão-se os dedos (…).
Razão além da razão
Aliás, uma de minhas grandes lutas tem sido demonstrar, por meio da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico1, que existe uma Razão além da preconizada pelo Iluminismo. E que Razão é essa? Aquela aclarada pelo Amor Celeste, que, pela intuição — a competência de Deus em nós —, conduz seguramente a criatura ao Bem, isto é, à Ciência do Criador. Naturalmente, nos referimos ao conhecimento livre de preconceitos e dogmatismos medíocres, bafejado pela necessária Caridade. Ela é uma função espiritual e social, não apenas um ato particular de socorrer apressadamente o mais próximo. É uma política dignificante, um planejamento humanitário, uma estratégia, uma logística de Deus, entendido como Amor, a nós oferecida, de modo que haja sobreviventes à cupidez humana. A Caridade é a Força Divina que nos mantém de pé. Sabemos, e basta ir ao dicionário, que ela é sinônimo de Amor. Portanto, é respeito, generosidade, solidariedade, companheirismo, cidadania sem ferocidades. O mundo precisa de carinho e Amor Fraterno.
Em suma, a Caridade é o conforto de Deus para as Almas e o relacionamento cordial entre aqueles que firmemente desejam a preservação deste orbe.
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com