Os fatos que narrarei aqui seriam a minha sentença de morte, caso eu divulgasse a lista completa de políticos, empresários e autoridades do Judiciário, dentre outros, que estão envolvidos com o tráfico de cocaína no Brasil, pelo menos desde os anos 90.
No entanto, mencionarei as autoridades que me revelaram a estrutura, bem como os nomes de um magistrado, dois desembargadores, um prefeito, um deputado e algumas arraias-miúdas (traficantes), que participaram desse que é o maior produto negociado nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil.
O mundo jurídico brasileiro está tão pasmo e envergonhado com a nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que a única explicação plausível que tenho para tamanha desonra seria uma operação para “oficialização” do tráfico de drogas, algo já planejado no governo FHC.
Antes, porém, quero tratar de uma primeira hipocrisia nessa seara, que é a legalização do álcool e, ao mesmo tempo, a proibição da maconha, cocaína e heroína, dentre outros entorpecentes, posto que o etanol revela-se mais nocivo à humanidade do que aqueles outros psicotrópicos.
Pois bem: a Inglaterra foi a grande nação ocidental entre os anos de 1700 e 1945, porque inventou a industrialização e, naqueles 245 anos gloriosos, esteve à frente de todos os países, ditando as regras da modernização no planeta. O império inglês chegou a superar o romano.
Do final da década de 1950 para cá, porém, a Inglaterra entrou em decadência crônica, em comparação aos Estados Unidos e China, além da Alemanha, Japão e França, que saíram totalmente destroçados da Segunda Guerra Mundial, mas ultrapassaram os ingleses em duas décadas.
O desinvestimento sofrido nas décadas de 60 e 70 levou a Inglaterra à obsolescência industrial, sendo superada pela concorrência alemã, japonesa e francesa. Os ministros Margareth Thatcher e John Major deram até um suspiro nos anos 80 e 90, mas o país não conseguiu sair do quadro recessivo, o que ocorre até os dias de hoje.
Quando Margareth Thatcher enfrentava a barbárie dos “hooligans” (vândalos ingleses) no final dos anos 80 – após o episódio com uma centena de mortes num estádio de futebol –, ela afirmou que a embriaguez (cerveja) era a principal responsável pelo atraso que o país enfrentava desde 1960.
Thatcher falou em aplicar altos tributos sobre a cerveja, e o mundo então caiu sobre a primeira-ministra. Resultado: ela decidiu tirar “o sofá da sala” para solucionar o adultério na residência inglesa, isto é, quintuplicou o preço dos ingressos nos estádios de futebol.
Então, de 1990 até os dias atuais, somente a classe média alta inglesa passou a frequentar os estádios (outros países copiaram o modelo), enquanto a galera impossibilitada de pagar os ingressos altíssimos passou a lotar os pubs (bares) para assistir às partidas enchendo a cara de cerveja.
Eu estive recentemente em Londres e fiquei pasmo com a quantidade de jovens bebendo cerveja nas calçadas dos pubs – eram dezenas, quiçá centenas –, porque lá dentro não tinham vagas. Percorri inúmeros bairros da capital, e aquilo me pareceu um enorme bar a céu aberto.
– Um país bêbado desse jeito não vai voltar a crescer nunca mais, comentou minha esposa, também assustada com a cena “etanólica”.
Naquele momento, inclusive, lembrei-me da velha Queimadas, onde algumas pessoas colocam mesas nas calçadas e enchem a cara o dia inteiro. Aliás, aqui em Lauro de Freitas, de segunda a domingo, essa cena pode ser constatada em vários bairros, já nas primeiras horas da manhã.
Em 2014, especialistas britânicos do “Centro da Grã-Bretanha para o Crime e Estudos de Justiça” fizeram estudos sobre o álcool, cocaína, heroína, ecstasy, crack, LSD e maconha, “classificando-as com base no poder destrutivo para o indivíduo que a utiliza, e para a sociedade como um todo”.
Segundo a revista Lancet, que publicou o estudo, os pesquisadores analisaram não apenas como essas drogas prejudicam o corpo humano, mas os danos que causam ao meio ambiente, além de problemas familiares e custos econômicos, tais como os cuidados com a saúde, serviços sociais e prisão.
No cômputo geral, o álcool ultrapassou todas as outras substâncias, seguido pela heroína e o crack. A maconha, o ecstasy e o LSD alcançaram marcas bem inferiores. Não obstante, a reação na Europa – e dos próprios pesquisadores – foi a de que o álcool não deveria ser proibido.
“Nós não podemos voltar aos dias de proibição”, disse Leslie King, conselheiro do Observatório Europeu da Droga e um dos autores do estudo publicado na Lancet. “O álcool está muito enraizado em nossa cultura e não vai embora”, justificou King, revelando a hipocrisia da sociedade ocidental dita cristã.
Aliás, isso explica porque evangélicos lotam a Igreja Batista de Villas do Atlântico, e muitos deles, após louvarem a Deus, atravessam a rua e entram no Boteco do Caranguejo. Se você duvida, fique ali de espreita, na frente da Bella Massa, para assistir à cena hilária aqui em Lauro de Freitas.
Eu conheço três pastores na capital baiana que enchem a cara em casa, “porque pega mal beber na rua”, como me disse um deles, que adora “uma loira estupidamente gelada”. Aqui na rede social, por exemplo, tenho amigos evangélicos que bebem muita cerveja – alguns deles se embriagam todos os dias.
– E são contra a maconha e a cocaína. É muita hipocrisia -, disse Mônica, a minha esposa, quando soube que eu iria escrever sobre isso neste domingo.
– Você também é contra a legalização da maconha e cocaína, mas adora uma cerveja -, retruquei, aos risos.
– Olha, só porque está deixando de beber, você agora mais parece com aquelas putinhas que davam a todo mundo, mas, assim que se evangelizam, passam a criticar mulheres descoladas, gays e lésbicas -, replicou ela.
– Nem pensar… Eu não estou condenando o álcool, mas a hipocrisia -, sentenciei, finalizando nosso diálogo.
Isto posto, ressalto que os norte-americanos passaram a ditar o rumo do mundo após a Segunda Guerra Mundial, exatamente porque, dentre outros fatores econômicos importantes, “oficializou” o consumo da cocaína no país – onde mais se cheira o pó no planeta – sem facções criminosas.
Estudos já mostraram que, ingerida moderadamente, a cocaína tem o condão de provocar respostas fisiológicas muito positivas – principalmente triplicando a energia para o trabalho, a criatividade e a inspiração –, enquanto o álcool revela-se apenas relaxante em quantidade idêntica.
Agora, se a cocaína for ingerida com exagero, o indivíduo experimentará os mesmos dissabores do alcoólatra, com efeitos bastante negativos no trabalho, na criatividade, enfim, extingue-se a responsabilidade social, porque o indivíduo mergulha numa depressão sem fim.
Ivete Sangalo é uma prova desse diagnóstico. Enquanto ela cheirava o pó moderadamente, foi um furacão. Veio o uso desmedido e então foi internada várias vezes em coma no Hospital Aliança, em Salvador. Hoje, distante do pó, a energia de outrora se escafedeu, mas ela parece feliz.
Roberto Carlos foi denunciado, em 1975, como usuário de cocaína. No ano seguinte, o rei do pop, em tom de ironia, desconversou sobre as acusações na imprensa, mas lançou “Ilegal, Imoral ou Engorda”, num disco em que aparece sintomaticamente vestido totalmente de branco (ver vídeo no comentário abaixo).
Eu citei esses dois artistas, mas poderia enumerar milhares, apenas para lembrar que a cocaína é muito presente entre músicos, industriais, banqueiros, profissionais liberais, estudantes e até entre donas de casa, posto que, como já dito, ingerida com moderação, ela potencializa o trabalho e o talento.
Wálter Maierovitch, desembargador aposentado, foi secretário nacional de antidrogas da Presidência da República, no governo FHC. No segundo semestre de 1999, ele nos concedeu uma aula de quatro horas num curso de pós-graduação de jornalismo que eu fiz, pela Universidade de Navarra (Espanha), ministrado em São Paulo.
Cercado por inúmeros seguranças durante a aula, Maierovitch abriu o jogo para nós naquele dia. Mostrou como a cocaína entra “limpinha” nos Estados Unidos, pelo golfo mexicano, num processo de “oficialização” do negócio. Na época, ele nos disse que a droga movimentava três trilhões de dólares por ano nos Estados Unidos.
Maierovitch nos disse que os norte-americanos adotam uma espécie de filtro, uma barreira, daí que a desgraceira (os conflitos com o tráfico) fica do lado de fora – restrita à Colômbia e ao norte do México. Dentro dos Estados Unidos, o pó é administrado por um só grupo – o “oficial” –, daí a total inexistência de facções criminosas.
De acordo com Wálter Maierovitch, sua equipe mapeou todo o esquema da entrada, transporte e saída da cocaína no Brasil, sendo que as principais “cidades polos” para o escoamento terrestre são Foz do Iguaçu, Cascavel, Maringá e Londrina, todas no Paraná, em direção a São Paulo, Rio e outras capitais.
O Mato Grosso e o Acre são estados com algumas “cidades polos”, mas, em face das dificuldades logísticas, Maierovitch disse que 90% do produto passa pelo Paraguai, seja diretamente por Ciudad del Este, ou por barcos motorizados em pontos próximos a Foz do Iguaçu. A corrupção na fiscalização é institucionalizada.
– A cocaína que chega no Brasil visa também o consumo interno, mas, principalmente, a exportação clandestina pelos portos para a Europa, disse Maierovitch.
O seu planejamento, que, segundo ele, foi mostrado ao próprio FHC, seria criar um filtro, nos moldes dos Estados Unidos, não apenas no Paraná, mas em todos os estados ao norte que fazem divisas com os demais países sul-americanos, para que a desgraceira ficasse do lado de fora – Paraguai, Bolívia e Colômbia.
– É a melhor saída, porque a demanda pela droga é gigantesca, e não há trabalho social que dê jeito, visto que o consumo ocorre no mundo inteiro, justificou, sem nos revelar se Fernando Henrique Cardoso aceitara ou não aquele plano. A enorme sala, com jornalistas de todo o país, ficou silenciosa, estupefata.
Dias depois, eu retornei à Bahia muito intrigado com aquela aula sobre o tal sistema de “oficialização” da cocaína nos Estados Unidos, sendo que, no final daquele ano (1999), estourou o escândalo do narcotráfico na imprensa brasileira. No jornal A Tarde, eu fui o repórter escolhido para cobrir o assunto na Bahia.
Magno Malta, na época deputado federal pelo PTB, foi eleito relator da “CPI do Narcotráfico” no Congresso Nacional, porque era combativo. Ele veio à capital baiana e nós conversamos por um bom tempo, quando ele me passou uma lista de políticos, empresários e autoridades do Judiciário, dentre outros, envolvidos no tráfico.
Acontece que o deputado não tinha coragem de revelar os nomes na CPI, e nem os jornalistas de denunciá-los na imprensa sulista. E mais: o deputado recebeu pressão e fez o possível para que a “CPI do Narcotráfico” não prosperasse, o que acabou acontecendo, frustrando a sociedade brasileira.
Aliás, nos anos seguintes, Magno Malta deu uma guinada na sua vida política, inclusive se envolvendo em casos de corrupção, como o foi naquele escândalo dos combustíveis no Espírito Santo. A verdade é que, ao contrário de Magno Malta e da imprensa covarde sulista, eu fui a campo investigar o narcotráfico, no ano de 2000.
Foi uma das séries de reportagens mais bombásticas que produzi no jornal A Tarde.
Revelei as ligações do juiz Ivan José Oliveira Rocha, da comarca de Juazeiro, com os traficantes Wander Dornelles, Francisco de Assis Lima, Manoel Evangelista dos Santos e Eydimar de Almeida Medrado. Em razão dessas reportagens, o juiz foi exonerado pelo Tribunal de Justiça da Bahia.
Mostrei a ligação entre o traficante Eydimar de Almeida Medrado com o prefeito de Juazeiro, Misael Aguiar, e com o deputado Pedro Alcântara, ambos do PFL. Com essa denúncia, os deputados tentaram abrir uma CPI na Assembleia Legislativa da Bahia, mas o rolo compressor de ACM abortou a investigação.
Com muitos documentos, revelei também a história do traficante Otaviano Alves Neto, irmão da secretária de Segurança Pública, Kátia Alves, que estava preso no município de Ruy Barbosa. Ele arrolou como testemunhas os parceiros de Wander Dornelles, presos em Juazeiro (400 quilômetros de distância).
Mostrei que a secretária de Segurança Pública estava envolvida até o pescoço, juntamente com o desembargador Walter Brandão. O cunhado de Kátia Alves, o senhor Liberato Carvalho de Mattos, era assessor do desembargador Walter Brandão, que, por sua vez, pressionou o desembargador Louviral Ferreira, para soltar Wander Dorneles, sem lograr êxito.
Enfim, fiz o trabalho na Bahia que deveria ser feito pela “CPI do Narcotráfico”, no Congresso Nacional, mas, como a imprensa não pode grampear telefones – a tarefa investigativa depende às vezes de certos elos, principalmente nessa área de crime organizado –, algumas autoridades ficaram impunes.
Bem, ainda na arraia-miúda, eu pude constatar recentemente o que me disseram Walter Maierovitch e Magno Malta. É o seguinte: em 2016, recebi a ligação de um policial civil, que é meu cliente numa ação de indenização por dano moral, pedindo para que eu fosse até a delegacia.
– Qual é o problema?, perguntei.
– Tem um traficante aqui preso, que pagou a dois advogados, mas os caras sumiram sem dar satisfação, respondeu.
– E o que eu tenho a ver com isso?
– Ele chora o tempo inteiro, está aqui há mais de um mês, então eu disse que conhecia um advogado sério. Você pode pegar o caso?
– Eu vou aí amanha conversar com ele, prometi.
Quando lá cheguei, conversei por meia hora com o traficante paranaense M. L. T., 35 anos de idade, que tinha sido preso na Estrada do Coco transportando 30 quilos de cocaína de Cascavel (PR) para Aracaju (SE). Eu peguei a causa, mas não foi fácil libertá-lo. A sua esposa, uma moça muito bonita, é minha amiga nessa rede social.
Nas conversas que tive com M. L. T., confirmei tudo que Wálter Maierovitch nos ensinou naquela aula, em 1999, porém com mais detalhes. Ele me contou como se dá todo o processo de escoamento da cocaína pelas cidades do Paraná – ele fala em “polos de impulso” –, para chegar a Sampa, Rio e outras capitais.
Ainda em 2016, numa outra causa criminal, o tenente V. S. R., da Polícia Militar, narrou para mim como foi removido para o interior da Bahia, porque descobriu que, parte da cocaína que sai do Paraná, entra na capital baiana pelo Aeroporto de Salvador, e é levada direta para o porto.
– Eu fui afastado do caso pela Polícia Federal, e, como percebi que estava correndo risco de vida, pedi minha remoção para o interior da Bahia, contou.
Até hoje, nada foi publicado na imprensa sobre a carga, sendo que o episódio ocorrera em 2014. O tenente V. S. R. atuou com outros dois colegas e um delegado, quando grampearam ligações entre traficantes. Um detalhe: o tenente me falou de dois políticos (flagrados nessas ligações), que, por incrível que pareça, faziam parte da lista que Magno Malta me forneceu em 1999.
Ora, como eu já afirmei aqui, o ex-presidente Lula cometeu o crime de corrupção passiva, sim, no caso do Triplex. Isso é fato. Mas também é fato que o “traficante” Aécio Neves, flagrado com aqueles R$ 2 milhões, portanto, com prova muito mais robusta – não foi apenas um crime formal, como ocorrera com Lula –, está livre, leve e solto.
Essa e outras questões atestam que a “Lava Jato” não foi uma operação para combater “a” corrupção, mas apenas “uma” corrupção – a do PT. Trata-se, sem dúvida, de algo arquitetado para destruir tão somente o Partido dos Trabalhadores, ainda que alcançasse agregados menores, a exemplo de Sérgio Cabral, Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha.
Não bastasse isso, a condução processual protagonizada por Sérgio Moro envergonhou a todas as pessoas honestas do mundo jurídico, seja pelo fato de ele entregar à TV Globo as gravações telefônicas de Lula/Dilma, seja por divulgar a delação de Antonio Pallocci durante a campanha eleitoral para presidente da República.
Esses dois atos de Sérgio Moro são tipificados como crimes no Código Penal. No primeiro caso, ele não tinha competência para grampear a presidente da República, que dirá divulgar o grampo. No segundo, a delação de Pallocci já pertencia ao STF, daí que ele estava proibido de usá-la nos autos, que dirá entregar à imprensa.
Moro chegou até a desautorizar ordem de superiores, sendo que nenhuma das suas arbitrariedades sofreu reprimenda do Supremo Tribunal Federal, o que deixou o mundo jurídico mais atônito, incrédulo, porque, sem dúvida, o país passou a ter uma espécie de “República do Paraná”.
Portanto, havia sinais claros de que algo realmente de podre pairava no Reino do Paraná, o que se constatou incontestavelmente ao longo dessa semana, com a sua nomeação para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, bem como na entrevista da assessora de imprensa da “Lava Jato” – a jornalista Christianne Machiavelli.
A entrevista é bombástica, mas eu só vou me apegar à informação da jornalista de que foi instalado um esquema na 13ª Vara Criminal do Paraná com o objetivo de municiar a imprensa nos mesmos moldes da “Operação Mãos Limpas”, que prendeu centenas de pessoas e mudou o cenário político da Itália.
E é exatamente aqui que está o elo entre Sérgio Moro e a “oficialização” da cocaína, posto que, na aula que ministrou para nós em 1999, Walter Maierovitch afirmou, por diversas vezes, que seria necessário termos um magistrado que fizesse o mesmo papel do juiz italiano Antonio Di Pietro, e que levou o magnata Berlusconi ao poder na Itália.
Vale lembrar que a “Operação Mãos Limpas” ocorreu entre 1992 e 1996, mas veio na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano, revelado em 1982, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a loja maçônica italiana. No caso da “Operação Lava Jato”, ela ocorreu entre 2014 e 2018, mas também vem na sequência do escândalo do Banestado, com o mesmo doleiro Alberto Youssef.
Coincidência?
Olha, o desembargador aposentado Walter Maierovitch é o maior especialista brasileiro sobre as investigações da “Operção Mãos Limpas” – gaba-se muito disso na imprensa –, bem como, desde a primeira hora, posicionou-se a favor das delações premiadas da “Operação Lava Jato”, fazendo mil elogios a Sérgio Moro.
Seria o juiz curitibano uma “cria” de Maierovitch? Sinceramente, não será novidade se ele, ou alguém da sua equipe, vier a compor o ministério de Moro. Ademais, Maierovitch é ligado às forças mais conservadoras e retrógradas de São Paulo, a exemplo da Opus Dei, seita espanhola que propaga as teses mais absurdas e retrógradas no mundo ocidental.
Ressalte-se que, antes da Operação Lava Jato, o juiz Sérgio Moro foi fazer um “curso” sobre lavagem de dinheiro nos Estados Unidos, e, desde que começou a perpetrar os seus desmandos, até informações sobre as tais investigações foram repassadas para o Departamento de Justiça norte-americano, à revelia do Congresso Nacional. Um absurdo. Um ataque à soberania.
E após tudo isso, esse mesmo magistrado aceita comandar o Ministério da Justiça e Segurança Nacional, embora ciente de que esse governo será comandado por um presidente que diz sonegar impostos, que afirma ser a favor da tortura e que ofende negros, gays e mulheres – tudo registrado em vídeos incontestáveis.
Que juiz é esse, meu Deus?
Agora percebemos mais claramente que aquele “auxílio-moradia” de R$ 4 mil por mês, sendo Moro proprietário de casa própria na comarca onde trabalha, não foi um “lapso”, como muita gente decente quis interpretar, mas apenas a ponta do iceberg de um homem disposto a matar até a própria mãe, se necessário.
Sérgio Moro é um monstro fascista!
Repito: o mundo jurídico está pasmo e envergonhado com essa nomeação do magistrado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, daí que a única explicação plausível que tenho para tamanho absurdo é, sem dúvida, uma operação arquitetada para “oficialização” do tráfico.
E os números do negócio falam por si só, afinal, nenhum produto rende tanto no nosso país quanto o tráfico de drogas – algo em torno de R$ 15 bilhões por ano, segundo levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados, realizado em agosto de 2016.
Só para se ter uma ideia, o mercado interno de sementes (soja, milho, feijão, cacau, etc) movimenta R$ 10 bilhões ao ano no Brasil, sendo a terceira maior indústria do mundo no setor, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Ou seja, o tráfico rende 50% a mais no mercado interno.
E no mercado externo?
Bem, os valores de exportação do tráfico brasileiro para a Europa ainda são desconhecidos, mas são números grandiosos, visto que somente a Inglaterra recebe um impulso de R$ 37 bilhões por ano, com dinheiro das drogas e prostituição, de acordo com a Office for National Statistics (NOS).
Por todo o exposto, é evidente que, no futuro governo fascista de Bolsonaro, a cocaína não chegará mais ao Rio, São Paulo e outras capitais, por intermédio das facções criminosas comandadas por alguns políticos, empresários e autoridades do Judiciário. E muito menos será exportada para a Europa pelo modelo até então vigente.
A cocaína será filtrada – como ocorre entre os Estados Unidos e o México –, para ser comandada por outro tipo de cartel, agora “oficializado”, com outros “businessmen”, outra sofisticação, posto que as classes mais abastadas exigem paz e segurança, nos moldes dos países desenvolvidos que, hipocritamente, consomem a maior parte da droga produzida nos trópicos.
Imperioso destacar que o Conselho Nacional de Justiça já realizou levantamento em todos os presídios do país, no qual revela que 78% dos detentos são criminosos relacionados ao tráfico de drogas, daí que, com a “oficialização” do comércio dos entorpecentes, essa mazela também deverá ser dirimida.
Tudo isso explica também porque Sérgio Moro foi o escolhido pelos norte-americanos para o tal “curso” sobre lavagem de dinheiro, afinal, sendo um magistrado que nasceu e trabalha no Paraná – o estado que inicia o escoamento da cocaína –, nada melhor do que entregar o galinheiro à raposa.
E assim seremos transportados para o mesmo mundo hipócrita das classes abastadas dos Estados Unidos e Europa, com uma paz e uma segurança mentirosas, posto que os próprios povos ditos desenvolvidos são os que consomem quase toda a droga produzida na América do Sul.
Tudo isso é muito semelhante com o período da escravidão, visto que, nesse momento, o nosso país candidata-se a ser também “desenvolvido”, almejando uma falsa paz, uma pseudo segurança, com a substituição das facções do tráfico por uma “oficialidade” sem concorrência, silenciosa, com serviços de “coca delivery”.
Espero estar equivocado com o que vislumbro, até porque, caso minha tese proceda, é óbvio que sem profundas mudanças estruturais no âmbito social – Paulo Guedes só fala em atochar o sistema em prol da oligarquia financeira –, os milhares de bandidos do tráfico vão migrar para outras modalidades da criminalidade.
Augusto de Campos, poeta paulista, simbolizou essa sociedade em “Luxo/Lixo” (foto abaixo), um poema concreto genial, que, não apenas critica a relação consumo/lixo, mas ressalta a relevância do lixo moral capitalista, um modelo econômico fundamentado no crime e na exploração das classes sociais menos favorecidas.
Mas, sem dúvida, essa é a única explicação que tenho para os absurdos perpetrados pelo senhor Sérgio Moro, com a anuência dos seus superiores, absurdos estes culminados agora com a sua nomeação para um ministério que será parceiro da oligarquia financeira comandada pelo superministro Paulo Guedes.
– Seria menos vergonhoso para Sérgio Moro se a sua esposa posasse nua para a revista Playboy, ou aparecesse num vídeo erótico com Alexandre Frota, do que participar desse governo, após tudo o que ele fez no Judiciário, comentou a minha esposa.
Perfeita a analogia.
Nessa medida, o governo de Jair Bolsonaro ainda nem começou e já revela ser tão escandaloso e cômico quanto o dos militares de 1964/1984. Naquela época, o poeta paulista José Paulo Paes, no livro “Meia Palavra”, sintetizou muito bem o regime ditatorial, com um poema curto e cômico, a saber:
“Ditadura Militar
Economiopia
Desenvolvimentir
Utopiada
Patriotários
Consumidoidos
Suicidadãos”
Esses versos já representam Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e Paulo Guedes, mas também alguns de seus eleitores, que, mesmo após a vitória nas urnas, continuam exibindo suas psicopatias nas redes sociais, como se tivessem sido derrotados – esses pobres coitados são os “patriotários”, “consumidoidos” e “suicidadãos”.
Volto a repetir que talvez eu possa estar equivocado, mas, neste caso, tudo isso (aceitar o cargo) seria apenas fruto da vaidade exacerbada, monstruosa, que cegou esse magistrado, a ponto de ele mesmo não perceber o precipício da sua desonra, do seu descrédito, da sua ignomínia, do seu opróbrio, da sua desgraça.
Enfim, como se vê, depois do drama da campanha, veio a tragédia do resultado eleitoral, e agora, sem dúvida, o teatro brasileiro prosseguirá com a comédia, inclusive cheio de personagens evangélicos hipócritas enchendo a cara de cerveja em casa, ou seja, conhecendo diariamente a ressaca, que, contrariando o apóstolo São João, não os libertará.