Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Seguem os protestos contra a decisão da atual diretoria da EBC de não renovar o contrato da empresa com a apresentadora Leda Nagle, pondo fim ao programa Sem Censura, um dos mais prestigiados da televisão brasileira, um dos destaques da programação da TV Brasil desde sua criação, pois que anterior a ela (antes de 2007 já era veiculado pela incorporada TVE-RJ). Não nos enganemos, Leda. Não foi nada contra você, uma das mais talentosas profissionais de televisão do Brasil. Foi contra a comunicação pública. A ideia é ir minando a TV Brasil enquanto TV Pública, tirando da grade os melhores programas e os melhores profissionais, criando as condições para o completo desmonte. Seu programa sempre foi relevante, tinha uma das maiores audiências e contribuía enormemente para a difusão da diversidade cultural e a reflexão sobre nossa realidade.
Arthur Xexéo, criticando a medida em O Globo, classificou-a como a única iniciativa do atual presidente Laerte Rimoli. Não foi não, Xexéo. De natureza destrutiva, ele já tomou muitas. Acabou com os contratos que sustentavam a existência da rede pública de televisão. No segundo dia útil de sua gestão, rescindiu unilateralmente os contratos de um grupo de jornalistas em que figuravam, além de mim, Luis Nassif, Paulo Moreira Leite, Sidney Resende, Paulo Markun, entre outros. Todos fizemos nossas carreiras em veículos privados, temos reconhecimento e credibilidade.
Mas não é só no plano federal que a comunicação pública está sob ataque de forças conservadoras. Nos estados muita emissoras educativas vêm sendo asfixiadas pelos governos locais. Mais grave é o caso da TVE do Rio Grande do Sul, uma das mais qualificadas neste grupo, que está sendo ameaçada de extinção pelo governador Ivo Sartori. A rádio pública também. Ontem, cerca de 400 pessoas deram um “abraço” no prédio em que funciona a Fundação Piratini, no Morro de Santa Tereza. Os gaúchos não querem abrir mão de sua TV Pública;
Sartori baixou um pacote de austeridade que acaba com várias fundações culturais e científicas do estado, como a Fundação de Economia e Estatística e a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). É o atraso, é o obscurantismo. Mas quando toda esta devastação terminar, vamos reconstruir o que está sendo destruído. A comunicação pública, como atributo das sociedades democráticas, reencontrará seu lugar. A MP, já aprovada em comissão especial, recria para a EBC um simulacro de conselho, um comitê editorial nomeado pelo presidente da República. A participação da sociedade é mais que isso mas o rolo compressor do governo é pesado, não permitiu mudanças restauradoras da lei original.