Por Altamiro Borges
As forças golpistas estão em uma encruzilhada. Elas patrocinaram uma aventura perigosa ao abortar a jovem democracia brasileira, depondo uma presidenta legitimamente eleita e alçando ao poder a quadrilha de Michel Temer. Com uma velocidade alucinante, elas impuseram uma pauta regressiva sem precedentes na história – que inclui, entre outras maldades, a PEC da Morte que congela por 20 anos os investimentos em saúde e educação; a “reforma” trabalhista que extingue a CLT; e o projeto de “reforma” da Previdência que elimina com a aposentadoria dos trabalhadores. Este plano, batizado de “Ponte para o futuro” – mas que na verdade é uma “pinguela para inferno” –, está sendo execrado pela sociedade em todas as pesquisas de opinião. O covil golpista tem apenas 3% de aprovação – dentro da chamada margem de erro.
Neste cenário devastador, as eleições marcadas para outubro de 2018 – quando deveriam ser escolhidos o novo presidente da República, os governadores dos 26 Estados e Distrito Federal, 513 deputados federais e 54 senadores – viraram um pesadelo para os golpistas. Mantidas as regras democráticas, eles temem perder importantes espaços de poder. Os parlamentares que se corromperam neste show de horrores e esfaquearam os direitos dos trabalhadores estão desgastados e correm o risco de não se reeleger. Eles são vaiados nos locais públicos e têm seus nomes estampados em vários cantos. Já os governadores que apoiaram as regressões também padecem com a queda de popularidade e são tragados por uma crise econômica que paralisa os Estados. O maior temor dos golpistas, porém, é com a eleição presidencial. O “fantasma” de Lula assombra a direita nativa. O golpe ficaria inconcluso com o retorno das forças de esquerda e centro-esquerda ao Palácio do Planalto.
Até agora, mesmo com o apoio da mídia chapa-branca e das elites empresariais, as forças golpistas não conseguiram construir um nome em condições de disputar o pleito com competitividade. Já fizeram vários ensaios, mas todos deram chabu. Henrique Meirelles, o queridinho do “deus-mercado”, nem aparece nas pesquisas eleitorais. Ele prometeu recuperar a econômica de maneira “instantânea”, mas o que se vê no país é o aumento do desemprego e da miséria. Além disso, o ex-executivo da JBS foi atropelado por várias denúncias de corrupção e de enriquecimento ilícito. João Doria, o “prefake” turista de São Paulo, virou capa de revistas e destaque na tevê, mas sua ambição logo virou farinata – como a que compõe sua desastrosa “ração para os pobres”. Luciano Huck, o garoto-propaganda da TV Globo, também já desistiu da disputa com medo de uma necessária devassa na sua vida empresarial. Sobraram o governador Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”, que nunca convenceu o eleitorado brasileiro, e o fascista aloprado Jair Bolsonaro, que não inspira confiança nem na chamada “zelite”.
Três saídas golpistas
A ausência de alternativas tende a estimular nas forças da direita – que têm no seu DNA os golpes e as saídas autoritárias – a busca de saídas ainda mais traumáticas para a combalida democracia brasileira. Três hipóteses parecem estar no tabuleiro. A primeira é a impugnação de uma nova candidatura do ex-presidente Lula. Sergio Moro e os seus cúmplices na midiática Operação Lava-Jato trabalham incansavelmente para realizar este trabalho sujo, que representaria um atentado à soberania do voto popular e à democracia. Sem provas, mas com muita convicção, eles correm atrás do tempo. O atraso na degola, porém, pode atrapalhar os planos golpistas, gerando forte reação na sociedade. A cada dia que passa, o líder petista se consolida ainda mais na simpatia do eleitorado. Há um típico “efeito saudade” do ex-presidente.
Caso esta manobra não se viabilize a tempo, as forças da direita podem apelar para outras duas saídas ainda mais bruscas. Uma seria a da imposição de um “parlamentarismo” de fachada, para aprisionar o presidente eleito em 2018. O jagunço Alexandre de Moraes, guindado ao posto de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo usurpador e compadre Michel Temer, já opera abertamente para viabilizar esta alternativa. Vale lembrar que esta saída antidemocrática já foi testada em 1961 contra o trabalhista João Goulart, mas durou pouco tempo. Um plebiscito anulou a mutreta. A outra seria a da pura e simples suspensão das eleições do próximo ano. Parece uma manobra extremada – mas é bom evitar novamente as ilusões como as dos que não acreditavam no golpe do impeachment contra Dilma Rousseff.
O que está em jogo no país é algo de dimensão colossal. O Brasil, com suas riquezas, potencialidades e bilionários interesses, não pode ser transformado em uma republiqueta de última categoria. Ou as vozes que almejam a democracia, o progresso e a justiça social se levantam com urgência e maior radicalidade, ou a direita nativa vai destruir de vez o Brasil. A questão democrática, com a defesa da soberania do voto popular, adquire hoje maior centralidade na luta de classes nesta sofrida nação.