No início da semana o volume de água armazenado na Barragem de Pedra do Cavalo, a maior do Estado e que responde por mais de 60% do abastecimento de água de Salvador e Região Metropolitana, tinha caído para 24,11%, o menor volume nos últimos 20 anos. Em um mês, quando estava com 27,85% do seu volume útil de armazenamento, a redução foi de 3,74%, o que equivale a uma perda de mais de seis milhões de litros de água, mais da metade do que Salvador consome num dia.
Na pior seca da região da Bacia do Rio Paraguaçu desde fevereiro de 2008, o lago da Barragem de Pedra do Cavalo estava com uma cota operacional de 111,44 metros na última sexta-feira, 12 metros abaixo do volume máximo de operação. Pedra do Cavalo libera diariamente para Salvador cerca de 6,8 metros cúbicos de água por segundo. O limite operacional considerado crítico para o abastecimento a partir de Pedra do Cavalo é de 106 metros, quando então o abastecimento da capital fica comprometido.
O Governo do Estado por enquanto não fala em racionamento, mas admite a gravidade da situação, e anunciou, através da Secretaria de Comunicação a implantação de mecanismos para garantir o abastecimento e evitar um colapso na Região Metropolitana de Salvador. Nas ações emergenciais, a Embasa fez a aquisição de uma bomba de reversão para aumentar o volume de captação das barragens que compõem o sistema integrado de abastecimento na RMS e fará campanhas de conscientização do consumo, fiscalização e combate ao desperdício.
O abastecimento de água na RMS é feito de forma interligada pelas barragens de Pedra do Cavalo (60%), Joanes I e II, Ipitanga I e II e Santa Helena. A barragem de Joanes I está com 57,91%, mas Joanes II tem apenas 2,60%. Já Ipitanga I e II têm, respectivamente, 26,33% e 29,32%, enquanto Santa Helena está com 15,57%. As barragens do Cobre e Pituaçu respondem por menos de 1% do abastecimento de água da capital.
Gravidade
Desde o mês passado que a Embasa determinou o racionamento de água em 13 municípios da região Centro Norte do Estado, entre Jacobina e Senhor do Bonfim. Por causa da falta de chuva, a escassez de chuvas no norte da Bahia tem causado uma diminuição acentuada nos níveis de água acumulada das barragens que abastecem os municípios das regiões de Jacobina e Senhor do Bonfim. Os reservatórios de Cachoeira Grande (Jacobina 41,82%), Pindobaçu (37,96%), Ponto Novo (15,51%) e Quicé (33,00%) em Senhor do Bonfim, estão em queda contínua no volume de água desde o início do ano.
O racionamento atingiu as cidades de Jacobina, Pindobaçu Antonio Gonçalves, Campo Formoso, Serrolândia, Várzea do Poço, Caldeirão Grande, Ponto Novo, Filadélfia, Itiúba, Jaguarari, Andorinha e Senhor do Bonfim. A empresa, através de sua Assessoria de Comunicação disse que está fazendo um levantamento dos municípios que deverão adotar o racionamento, por causa de algumas chuvas pontuais, principalmente no Oeste e Sul do Estado.
Além dos municípios do Centro Norte do estado, estão em situação de alerta os municípios de Seabra, Brotas de Macaúbas, Ibitiara, Novo Horizonte, Lajedinho, Bonito, Palmeiras, Tapiramutá, Morro do Chapéu, Gentio do Ouro, Várzea Nova, todos na Chapada Diamantina. No mês passado o Governo reuniu as secretarias de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (Sihs) e de Desenvolvimento Rural, Desenbahia, Embasa, Companhia de Engenharia Rural da Bahia e Instituto do Meio Ambiente (Inema) para discutir a crise hídrica no Estado. Os órgãos deverão atuar em conjunto para acelerar a perfuração de poços.
Além das campanhas de conscientização do consumo na RMS, no interior o Governo, através da Companhia de Engenharia Rural da Bahia (Cerb) vem intensificando a perfuração de poços artesianos e tubulares para garantir o abastecimento de água. Em todo o Estado, conforme o último dado da Superintendência de Defesa Civil, aumentou para 90 o número de municípios que estão em situação de emergência, o que afeta diretamente a vida de 1,3 milhão de pessoas.
Estado adquire equipamentos para evitar o colapso
Não apenas no interior do Estado, a seca, considerada a pior nas últimas décadas, ameaça também o abastecimento de água em Salvador e Região Metropolitana, onde vivem aproximadamente quatro milhões de habitantes (25% da população do Estado), e representa 45% do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em R$ 90 bilhões. A seca reduziu o nível dos mananciais e a pouca chuva deixou os níveis das barragens abaixo do esperado.
Para evitar que a situação chegue ao colapso, o Governo do Estado adquiriu recentemente equipamentos para fazer a reversão de água da Barragem de Santa Helena para o rio Jacumirim e com isso aumentar o volume na Barragem de Joanes II. Foram investidos R$2.5 milhões no sistema de bombeamento que possibilitará o aumento de quatro de 4 mil litros por segundo no volume de água do rio.
A Embasa também está estudando a perfuração de 14 poços em uma área próxima à Estação de Tratamento de Água (ETA). Principal, no município de Candeias, com custo estimado em R$ 50 milhões, que proporcionarão o aumento de mil litros por segundo no volume de água disponível para o sistema. A ETA Principal recebe água da Barragem de Pedra do Cavalo, que atende 60% do consumo de Salvador.
Uma das principais barragens que compõem o sistema integrado de abastecimento da RMS, Santa Helena estava, até o final de semana, com apenas15,73% do seu volume útil de água. Para aumentar a sua capacidade, a Embasa vai investir R$ 168 milhões para a ampliação da captação.O empreendimento prevê investimento total estimado de R$ 890 milhões, com projeto em elaboração para posterior captação de recursos.
A obra prevê a implantação de uma adutora de água bruta com extensão de 10,7 quilômetros, em paralelo às duas adutoras já existentes, além da instalação de cinco equipamentos de bombeamento na estação elevatória de água bruta e melhorias em sua infraestrutura. O Governo do Estado estima que a ampliação do sistema de transposição das águas de Santa Helena para a barragem de Joanes II deverá elevar em 50% a produção de água da atual demanda do sistema.
Previsões indicam menos chuvas
As análises climáticas do Centro de Previsões do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) até o mês de maio para o Semiárido,indicam que as chuvas nessa região estarão abaixo da média história para o período. Segundo o “deve-se esperar uma estação chuvosa no norte do Nordeste com grande variabilidade espacial e temporal. As demais áreas do Nordeste apresentam baixa previsibilidade climática sazonal”, diz o documento.
A previsão climática para o os próximos três meses indica que para o norte da Região Nordeste, os indicadores climáticos apontam maior probabilidade das chuvas se situarem abaixo da faixa normal climatológica. O Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inema), por sua vez, analisou que pelo menos até a próxima semana serão poucas as mudanças nas condições do tempo na Bahia, com uma intensa massa de ar quente e seco continua influenciando o tempo em grande parte do Estado.
Em todas as 24 gerências regionais do Inema, que abrangem todas as regiões administrativas do Estado e onde são coletados diariamente os índices pluviométricos e feitas previsões de chuvas a curto e médio prazo, as probabilidades de chuvas não ultrapassam os 5%, com temperaturas médias variando entre 36°C e 21°C.
Cenário
Segundo os estudos do Cptec/INPE, caso ocorra uma redução pluviométrica de até 30% abaixo da média histórica, a situação hídrica na maioria dos reservatórios de abastecimento de água do norte da Região Nordeste não terá recuperação significativa nos próximos meses, que são considerados os principais da estação chuvosa do Semiárido. Isto implicará em acentuado risco de esgotamento da água armazenada nos médios e grandes açudes, entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018.
O estudo adverte ainda que poderão ocorrer “impactos severos” para a agricultura e a pecuária durante o período chuvoso principal, com predominância de áreas de seca severa no interior da região semiárida, principalmente no leste do Piauí, sul do Ceará, oeste de Pernambuco e centro-norte da Bahia. “Se o cenário for de chuvas 30% abaixo da média, projeta-se que 68% da área do semiárido serão impactadas pela seca, nas quais 11% da região serão afetadas por seca severa ou extrema”, diz.
Chuva ficou entre 40% e 60% abaixo da média
Dados do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) registram que na Região Metropolitana de Salvador o volume de chuva ficou entre 40% e 60% abaixo da média, no período entre fevereiro de 2016 e janeiro de 2017. Em Salvador, foram registrados 1.116,8 mm (46,7% abaixo da média), em Lauro de Freitas 1.330,8mm (34,3% abaixo da média) e, em Camaçari, 1.112,7 mm (43,7% abaixo da média).
Até o último dia 02 de março, conforme o Boletim de Monitoramento das Barragens, feitos pelo Inemao nível de água na Bacia do Rio Paraguaçu continuava a cair. A situação mais crítica é no município de São José do Jacuípe, onde fica o reservatório do mesmo nome, que está com apenas 11,13% do seu volume de água armazenado. No interior, na Bacia do Rio de Contas, as Barragens do Paulo e do Antonio estão completamente secas.
Fonte: Tribuna da Bahia