Escolas e comunidades de Lauro de Freitas estão recebendo há mais de uma semana o projeto Intercambiando Saberes. Parceria da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), com o Femmes Dans Le Monde Institute, a experiência internacional proporciona a troca de conhecimentos entre mulheres francesas e os cidadãos do município. As atividades do projeto foram iniciadas no dia 3 e seguem até a próxima sexta-feira (17).
Na manhã desta segunda-feira (13), o grupo de Montreuil (França) participou da oficina “O índio que habita em nós”, na reserva indígena Thá-Fene. Na atividade, o grupo conheceu um pouco da história e cultura da reserva, assistiu a tradicional dança do Toré e experimentou a arte da pintura indígena. Pela tarde, as francesas compartilharam conhecimentos no quilombo do Quingoma. No diálogo com a comunidade foi discutida a importância do território para o quilombo e a violência externa social que atinge as mulheres. O samba de roda do grupo Renascer do Quingoma encerrou as atividades do dia.
Dentre as atividades de arte e educação, o projeto Intercambiando Saberes destaca como foco principal os diálogos sobre violências de gênero e raciais. A francesa Kadjidia Ducouré, diretora da Esperanto Montreuil, fala sobre a proposta do projeto. “Viemos com o projeto que visa combater a violência contra a mulher através da troca de saberes. Percebemos que aqui na Bahia, a cultura da violência ainda está muito enraizada pelo machismo e sexismo. O que construímos com essas atividades são forças e informações para enfrentar essa violência, e principalmente, incentivamos os jovens a abraçarem essa luta”.
Quando perguntada sobre a atividade na reserva indígena, Kadjidia – com apoio de uma tradutora – descreve a experiência com emoção. “Uma bela e enriquecedora atividade cultural. O Brasil é uma terra acolhedora”, afirmou.
Fatima Karaté é uma das mais jovens do grupo de franceses. Aos 14 anos, ela relata como o intercâmbio de saberes está contribuindo para o enfrentamento das violências. “Todas essas atividades abrem uma reflexão sobre a realidade dos dois países. Na França, se uma mulher apresenta queixa de violência, isso é levado em conta. Aqui no Brasil, percebemos que esse processo demora mais tempo. Também temos o problema de que a polícia não está preparada para ouvir tais queixas. Por isso é importante ter segurança especializada, como o trabalho da Ronda Maria da Penha, uma conquista das mulheres brasileiras”.
Ao finalizar sua fala, Fatima deixa uma mensagem para as mulheres que sofrem qualquer tipo de violência. “É preciso não temer, é preciso ter coragem. Se uma mulher tomar coragem, todas as outras mulheres irão tomar”, completou.
Acompanhando o desenvolvimento do intercâmbio, Débora Fontes, diretora pedagógica da Reserva Indígena Thá-fene, destaca que aprender, ensinar e trocar são palavras-chave da reserva. “Somos um núcleo de resistência e representamos 1% da população. Nosso objetivo é fazer com que outros países vejam como estamos vivendo e como a manutenção da nossa cultura é importante. Além dos ensinamentos que preservamos e que contribuem na educação, também apresentamos nossas atividades culturais, que com a troca de saberes desse projeto, fortalece a luta do combate ao feminicídio”.
Fonte: ASCOM PMLF