Foto: Reprodução / LGBT PT
Normalmente considerados mais conservadores, os municípios pequenos foram responsáveis por quase metade das eleições de políticos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) no Brasil. Um levantamento da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) contabilizou pelo menos 16 candidatos LGBT no País todo, sete deles em cidades com menos de 100 mil habitantes. Um prefeito – Têko (PHS), em Itapecerica (MG) – e seis vereadores fazem parte desse grupo. Se considerados todos os candidatos, inclusive os que não foram eleitos, a representatividade LGBT nas urnas cresceu 1.916% de 1996 para cá. Naquele ano, eram apenas seis candidatos, segundo levantamento da ABGLT. Em 2016, foram pelo menos 115. “Tem candidaturas do norte ao sul do País, das mais diversas cidades e das mais diferentes correntes partidárias”, afirma Keila Simpson, vice-presidente da ABGLT e presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em relatório sobre as candidaturas trans de 2016. Everlei Martins (PCdoB), vereador reeleito em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, foi o primeiro parlamentar LGBT do município. “Meu mandato foi desafiador, por entrar pela primeira vez em um espaço machista e conservador. Eu era o único LGBT na Câmara e tínhamos só uma mulher”, conta. O diretor executivo do Grupo Dignidade, Toni Reis, explica que esses políticos precisam enfrentar, além da maratona da candidatura, os estigmas de pecadores ou doentes. Brenda da Silva Santunioni (PP), vereadora eleita em Viçosa (MG) sabe bem disso. “Algumas pessoas ouviram dizer que eu não poderia ganhar porque os professores ensinariam os alunos a serem gays, ou que eu transformaria a Câmara em Parada Gay”, relata. Único prefeito declarado LGBT eleito em 2016, Têko afirma que ainda há muito preconceito em Itapecerica. “Um dia acordei e o muro da minha casa estava pichado. Feriu muito o meu orgulho, mas só me deu mais força para continuar batalhando e seguindo com a minha campanha.” Mesmo assim, ele diz que percebeu uma mudança de paradigma nos últimos anos e que sua chegada à prefeitura é uma prova disso. Toni defende que os eleitos LGBT vão precisar fazer um trabalho excepcional para se destacarem. “Eles vão ter que ser muito bons. As pessoas vão ficar observando. Não podem só olhar para a comunidade LGBT, não devem ser candidatos corporativos.” Everlei afirma que foi eleito por causa de suas propostas principalmente nas áreas de cultura popular e saúde. “A pauta LGBT acaba vindo junto por eu fazer parte desse grupo. Não é o único foco da minha campanha nem do meu mandato.” Brenda completa: “A minha pessoa é, por si só, a causa LGBT, mas essa é apenas uma das minhas vertentes.” Os três eleitos foram unânimes em afirmar que desejam ser reconhecidos pelo trabalho como políticos, não pela identidade de gênero ou orientação sexual. “Prefiro combater os preconceitos com meu trabalho. Quero que as pessoas olhem mais para a minha eficiência e não para a minha sexualidade”, afirma Brenda.Outro ponto em que concordam é que, apesar das conquistas nas eleições, ainda há muito para ser feito no combate ao preconceito contra pessoas LGBT. Keila Simpson concorda, mas lembra, no relatório sobre candidaturas trans em 2016, que o avanço foi substancial. “Este caminho que aqui se inicia não terá volta. Não será dado nenhum passo atrás a partir daqui”.