Sempre surge algum comentário em rede social dizendo que o povo foi ingrato com o Presidente Lula, por não ter ido às ruas lutar contra a sua prisão, após tudo o que fez para reduzir a miséria em nosso país e ter governado prioritariamente para o povo pobre.
Outros dizem que o povo age como rebanho, mesmo perdendo direitos caminha mansamente para o matadouro.
Sempre combati essas “interpretações” sobre a desmobilização da população, pois ninguém luta sem saber pelo que está lutando. Ao longo de décadas, nós é que abandonamos a população da periferia, deixamos de fazer o papel que cabe aos militantes comprometidos com as causas populares, de ir aos bairros periféricos contribuir com a formação e organização da população que é abandonada pelo poder público, e que só encontra nos meios de comunicação do poder econômico a (des)informação.
E sempre dou como exemplo para comparação, a apatia de grande parte dos professores e estudantes das universidades públicas, que mesmo diante do golpe, do avanço do reacionarismo, da violência que se comete contra as universidade, apenas se mobilizam esporadicamente, e depois retornam para suas salas de aula.
Se professores ditos marxistas, em grande parte, não saem das salas, o que podemos exigir da população que cotidianamente luta para sobreviver?
E ai temos que considerar também setores considerados por alguns como expoentes da luta pela democracia e da esquerda brasileira.
Randolfe, Luciana Genro, entre outros, ao longo de grande parte do período golpista, se notabilizaram por defender a Lava Jato. Diziam eles, que enfim o Brasil estava caminhando a passos largos para por um fim na corrupção!
Alguns, como um certo líder de um partido dito de esquerda pura, em artigos chegou a comemorar a prisão do Lula e do Zé Dirceu!
Por mais que surgissem denúncias da manipulação e partidarização da Lava Jato, por setores que não se pode dizer de esquerda, continuavam a defender a quadrilha do Paraná.
Alguns, quando não era mais possível fazer de conta que a quadrilha do Paraná era parte indissociável do golpe, passaram a se afastar da defesa da Lava Jato, admitir que houve um golpe, mas em contrapartida seus discursos incorporaram uma exigência de que o PT fizesse uma autocrítica pública de seus erros.
E por acaso, fizeram autocrítica da defesa que fizeram da Lava Jato? Do apoio ao Dallagnol, Moro e companhia? Assumiram que suas posições, de uma forma ou outra, colaborou para que o golpe se concretizasse?
Agora, vemos que o Randolfe foi um instrumento do Dallagnol, conforme as mensagens divulgadas pelo The Intercept.
E, ao mesmo tempo, assistimos o “diálogo civilizado” entre Janaína e Freixo, as vésperas da tentativa de mais um golpe contra o Presidente Lula.
Alguns dirão, é preciso construir uma ampla unidade em defesa da civilização contra a barbárie!
Eu vos direi no entanto, enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, como escreveu Belchior, eu repetirei, tem limites!
Nesse momento, após todo esse processo de perdas imensas que tivemos, da ameaça real obscurantista que paira sobre todos nós, não podemos nos confundir com aqueles que são os responsáveis pelo golpe e suas consequências.
Se estão arrependidos, e diria que é uma farsa, basta ver a votação do fim da previdência social, eles que façam a parte que lhes cabe para barrar o golpe, e nós temos que fazer a nossa.
E a nossa é perder de uma vez por todas a “crença” no dito republicanismo, no estado de direito, no parlamento como espaço privilegiado de luta e resistência aos golpistas, e fazer o que deixamos de fazer ao longo de anos, que é organizar a população e a classe trabalhadora.
Temos parlamentares valorosos, que honram os votos que receberam, mas é pouco o que podem fazer, caso não exista nas ruas um amplo movimento de luta em defesa dos nossos direitos.
Temos que ter os partidos de esquerda, as centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais, frentes, dispostos a construir um amplo movimento de unidade em defesa de uma saída do golpe, que explicite para a população um projeto claro de país, que garanta direitos sociais, igualdade, liberdade e democracia.
E como Raul, alguns perguntarão, mas “e daí?”
E a resposta que tenho é “não ficar sentado em um trono de apartamento (ou sala refrigerada), com a boca escancarada, esperando a morte chegar”, pois temos coisas grandes para conquistar.
Dizem que a esquerda é incapaz de se unir, o que a história confirma. Que reproduz a disputa por cargos ou “aparelho”, o que em grande parte também é verdade.
Mas, a história mostra, também, que em alguns momentos, mesmo com diferença, fomos capazes de construir poderosos movimentos de resistência e luta.
Essa é a hora. Temos milhões de homens e mulheres nas periferias das cidades, que possuem inúmeros motivos pelos quais lutar, é ai que temos que fazer a disputa, não entre nós, mas contra nossos inimigos.
E é também ai que poderemos provar quem tem mais capacidade de luta e as melhores propostas, que podem mobilizar a população.
Não é entre nós.
Walter Takemoto