Carta aos Associados do Vilas do Joanes e aqueloutros que não se dizem associados e gozam das benesses da Associação
Sou Celinei Ramos, proprietária e moradora da Qd 02 Lt 11 e cumpridora das minhas obrigações referentes à Associação.
Ontem tive um tempinho para a academia deste condomínio , por volta das 14 hs, depois de uma semana exaustiva de trabalho. Ouvi dois enunciados que me fizeram pensar e que me encetaram a propor essa retórica perante aos moradores. Poderia ficar silente, e fingir que não ouvi, mas como ciente do racismo estrutural e atuante na defesa dos direitos humanos do direito, continuamente no meu múnus público e prática cidadã , resolvi ecoar minha voz em face dos enunciados eivados da cultura da desinformação do racismo estrutural brasileiro. Afinal o que ouvi: sendo a única pessoa que estava na academia: “ eu não sabia que gente assim morava no condomínio. “ e o outro respondeu: “ aqui mora Delegado, Traficante”. Contra a desinformação nada melhor do que a epistemologia, Alguns vão pensar: lá vem ela com esse mimimi. Mas como dizia minha avó : pimenta não dói nos olhos dos outros. A nossa alteridades egocêntrica não se preocupa com o sentir do outro e o encobre historicamente tirando sua voz. Pois, destrate , grito, pessoas como afro ameríndias podem morar nesse condomínio que não é nenhuma Miami Beach ou nenhum chateau no sul da França, mas pessoas como eu podem morar até em lugares suntuosos com o suor do seu trabalho , de gerações de famílias de trabalhadores, como meu bisavô estivador que foi o primeiro presidente do Sindicato dos Estivadores na Bahia, por falar inglês no atendimento aos transatlânticos, um dos fundadores do Filhos de Gandhi e do bairro negro da Liberdade, outrossim , minha avó, quando as mulheres não trabalhavam, minha avó negra foi uma operária das fábricas do sisal, Memórias de resistência e luta que vcs não podem apagar com cinismo vulgar. Meu pai negro foi oficial do Exército brasileiro e eu não por meritocracia , mas por saber aproveitar a oportunidade de estudo que meus pais me deram , pude comprar sozinha uma casa neste condomínio. Düssel já fala do Encobrimento do outro do Ego eurocentrista. Mas como boa brasileira tenho sangue italiano do meu bisavô da Ligúria e não vou me calar. Pelo direito intergeracional dos meus netos que brincarão nesse condômino e frequentarão suas áreas comuns . E de muitos outros afro ameríndios que morem aqui ou que venham morar. O comentário nivelando o cargo de Delegado de Polícia a traficante , talvez de drogas ilícitas, não seria proferido se eu fosse uma Profissional loira dos olhos azuis, pois há um crucial discrimen entre ser Delegado de Polícia e ser traficante, o primeiro na nossa Carta Cidadã de 1988, que muitos teimam em rasgar quando se fala de direitos e prerrogativas do outro, e sobrelevar no que tange aos seus privilégios, insculpi sua função essencial de defender direitos sociais In loco como bombeiro social, que todos independente da classe social e da etnia podem precisar num país que segundo o Atlas da Violência de 2020 tem sua violência aumentada a cada dia. O outro , o ilegal com poder econômico, o traficante de drogas que poderia morar aqui seria p do atacado da empresa multinacional do capital que o tráfico de drogas e, segundo Alba Zaluar, não o excluído , jovem , negro ou pardo que fica na linha de front . Vão ter que aceitar eu morando aqui com minha multietnicidade, vão ter que respeitar a alteridade multicentrica . Ah, mas ela não é tão preta assim, isso é colorismo e não cola. Não vou aceitar violência simbólica e e meu dever como sujeito pensante e ter voz e gritar : Não ao racismo!o meu dinheiro tem a mesma cor do que o seu, e e digno , fruto de muito trabalho honesto defendendo pessoas mormente que não podem se defender nos seus direitos fundamentais. Racistas, pensem antes de falar, o meu sangue e da mesma cor do que os seus e meu coração pulsa forte e meu cérebro sabe muito bem como operar o direito contra a injúria racial. A próxima vez, não passará. O paradigma da lei para os que recalcitrarem.