Do blog Viomundo:
Acabar com a “carreira” de Aécio Neves. Literalmente. É este o potencial de uma delação premiada de Frederico Pacheco de Medeiros, primo do senador afastado da presidência do PSDB que está preso em Minas Gerais.
Primeiro, um alerta. Leia tudo o que vem a seguir com uma ponta de sal. É comum que se anunciem “delações premiadas” na mídia apenas para atingir objetivos obscuros. A IstoÉ, por exemplo, já antecipou como seria uma delação de Antonio Palocci. Pode ser mentira, pode ser uma forma de extorsão, pode ser um alerta a aliados, pode ser um pedido de socorro…
O delator Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, primeiro disse que havia doado por fora R$ 1 milhão à campanha Dilma-Temer, em 2014. Depois, quando Dilma demonstrou que o cheque havia sido destinado ao vice-presidente, Otávio mudou sua versão, livrando Temer de qualquer embaraço.
José Antonio Sobrinho, da Engevix, disse que havia entregue R$ 1 milhão ao coronel João Baptista Lima Filha, o coronel Lima, amigão de Temer, como forma de agradecimento pela obtenção de com contrato em Angra 3. Depois de sair da cadeia, em Curitiba, Sobrinho afirmou, sem esclarecer os detalhes, que não teria havido interesse das autoridades em sua delação premiada.
Ou seja, o mercado das delações premiadas parece — insistimos, parece — contaminado por interesses políticos. Ou, simplesmente, pela força do dinheiro. O ex-braço direito do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, de nome Marcelo Miller, simplesmente bandeou-se para a advocacia e participou do acordo de delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista.
Deveria ser um escândalo alguém atuar nas duas pontas de uma investigação, mas estamos no Brasil…
Frederico Pacheco de Medeiros, o primo de Aécio, é uma pessoa importante.
O Lupa fez um resumo da carreira dele:
FREDERICO PACHECO DE MEDEIROS
Pacheco foi preso na quinta-feira (18) em sua casa, no condomínio Morro do Chapéu, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em seu currículo, desde 2003, acumula diversas passagens por cargos públicos. Em janeiro de 2003, Fred – como é conhecido – foi nomeado como secretário adjunto do governo mineiro de Aécio Neves.
Permaneceu no cargo até outubro de 2006.
A informação vem da gestão atual do Estado de Minas Gerais.
No período eleitoral de 2006, entre julho e setembro, ele trabalhou na campanha de reeleição de Aécio.
Em seguida, com a vitória do primo, em outubro daquele ano, reassumiu o cargo de secretário adjunto e lá ficou até junho de 2008.
No mês seguinte, virou secretário geral do governo de Minas Gerais e lá permaneceu até março de 2010, quando retornou ao seu cargo antigo, como secretário adjunto do governo mineiro.
Em 2011, quando Antonio Anastasia assumiu o governo com apoio de Aécio Neves, Fred foi nomeado diretor de Gestão Empresarial da Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (Cemig).
Em 2014, Fred trabalhou como administrador financeiro da campanha de Aécio Neves à Presidência da República.
Fred deixou a Cemig em 2015.
Fonte graduada do Viomundo em Minas Gerais diz que Frederico foi o articulador da venda de 1/3 das ações da estatal Cemig – a Companhia Energética de Minas Gerais – à empreiteira Andrade Gutierrez.
Conforme denúncia publicada por nós, aqui, foi um negócio da China para a empreiteira:
Para viabilizar o negócio, a Cemig comprou, em 2009, a participação da Andrade Gutierrez na Light do Rio de Janeiro por R$ 785 milhões, pagos à vista.
A Andrade Gutierrez, por sua vez, deu R$ 500 milhões de entrada na compra de 33% das ações ordinárias da estatal mineira, ficando o restante do valor da compra, no total de R$ 1,6 bilhão, para pagamento em 10 anos com a emissão de debêntures a serem adquiridos pelo BNDES, a juros e taxas facilitadas.
Na prática, a Andrade Gutierrez fez um negócio da China. De 2010 a 2013, recebeu mais de R$ 1,7 bilhão em dividendos da Cemig.
O poder da empreiteira na estatal não se restringe à participação nesse item.
No acordo de acionistas a Andrade Gutierrez garantiu, por meio de artifícios embutidos no documento, o direito de indicar seu representante na Diretoria de Desenvolvimento de Negócios e Controle Empresarial das Controladas e Coligadas, que simplesmente é quem conduz os investimentos da Cemig, em especial as grandes construções.
Trocando em miúdos, a Andrade conduzia os investimentos da Cemig nas construções que ela, Andrade, era capacitada para fazer!
Pelas gravações divulgadas pela Operação Patmos, Frederico Pacheco de Medeiros foi um homem da mala relutante de Aécio Neves. Ele parecia pressentir que daria confusão.
Em conversa com Ricardo Saud, o homem da mala da JBS, Frederico disse:
“Outro dia estava pensando. Acordei à meia noite e meia, o que estou fazendo? O que tenho com isso? Eu não trabalho para o Aécio, eu não sou funcionário público, sou empresário. Trabalho para sobreviver. Eu tenho com o Aécio um compromisso de lealdade que o que precisar eu tenho de fazer. Eu falei, olha onde eu tô me metendo”,
As informações de que ele considera fazer uma delação premiada nos foram dadas por uma fonte de Minas Gerais que diz ter contato com integrantes do Judiciário local.
Esta fonte diz que uma mensagem do pai de Frederico foi divulgada na rede interna dos desembargadores da ativa do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
“Meu filho Frederico Pacheco de Medeiros está preso por causa de sua lealdade a você, seu primo. Ele tem um ótimo caráter, ao contrário de você, que acaba de demonstrar , não ter, usando uma expressão de seu avô Tancredo Neves, ‘um mínimo de cerimônia com os escrúpulos’. Vejo agora, Aécio, que você não faz jus à memória de seu saudoso pai, Aécio Cunha. Falta-lhe, Aécio, qualidade moral e intelectual para o exercício que disputou de Presidente da República. Para o bem do Brasil, sua carreira política está encerrada. Lauro Pacheco de Medeiros Filho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais”.
Segundo nossa fonte, Lauro foi indicado para o TJ por Tancredo Neves. Mas, Frederico não seria exatamente a pessoa idealizada pelo pai: “Cobrava, quando diretor da Cemig, até por audiências com empresários”.