O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, venceu nesta sexta-feira (7) o prêmio Nobel da Paz. O anúncio foi feito em Oslo, capital da Noruega, às 11h (6h em Brasília).
Santos foi premiado por suas negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), na tentativa de encerrar 52 anos de conflito. O Nobel inclui uma recompensa equivalente a R$ 3 milhões.
“Santos iniciou as negociações que culminaram em um acordo de paz entre o governo colombiano e as guerrilhas da Farc, e ele buscou de maneira consistente levar o processo de paz adiante, mesmo sabendo que o acordo era controverso”, disse Kaci Kullmann Five, líder do comitê do Nobel.
“O prêmio deveria ser visto como um tributo ao povo colombiano, que, apesar de grandes dificuldades e abusos, não desistiu da esperança por uma paz justa”, afirmou.
A notícia da vitória do presidente colombiano foi recebida com alguma surpresa, pois suas negociações foram rejeitadas durante o domingo (2) em um referendo na Colômbia, enfraquecendo sua posição política e colocando em dúvida a viabilidade da paz. O “não” venceu por uma diferença de 54 mil votos (50,2% contra 49,8%), contrariando as estimativas dos institutos de pesquisa.
Apesar de o presidente e seus interlocutores seguirem adiante com a tentativa de encerrar o conflito, o fracasso recente teve um impacto negativo nas expectativas por uma solução rápida à crise.
Para o comitê do prêmio, o revés na votação não significa a rejeição à paz em si, e sim especificamente aos detalhes do acordo apresentado. O Nobel da Paz seria, dessa maneira, um incentivo para a continuidade das negociações para satisfazer todas as partes no processo de reconciliação.
Uma das razões pela negativa ao acordo de paz no domingo foram os planos de anistia e indultos para ex-guerrilheiros acusados de delitos graves. Houve ademais atrito em torno da possibilidade de um partido político das Farc e da concessão de dez cadeiras aos guerrilheiros no Congresso nas próximas duas legislaturas.
Também surpreendeu que Santos tenha recebido o prêmio sozinho, em vez de dividi-lo com outros negociadores, como Rodrigo “Timochenko” Londoño, líder das Farc.
Na edição do ano passado, por exemplo, o Nobel da Paz foi compartilhado por quatro organizações da sociedade civil tunisiana. Nesses casos, a soma é dividida entre os vencedores.
Um número recorde de 376 candidatos concorria ao Nobel da Paz deste ano, em uma disputa acirrada. A cifra mais alta até então havia sido a de 278 candidatos em 2014.
Foram derrotadas, assim, outras candidaturas de peso, como os Capacetes Brancos sírios e a ativista russa Svetlana Gannushkina. Do total de concorrentes, 228 eram indivíduos, e 148, organizações.
Na véspera, entre o mistério a respeito do vencedor, circulavam listas com todos os tipos de apostas, incluindo o americano Donald Trump, candidato republicano à Presidência.
A vitória de Santos frustrou a intensa mobilização pela candidatura do grupo Defesa Civil Síria, também conhecido como Capacetes Brancos. Essa organização, formada por 3.000 voluntários, trabalha com o resgate em zonas controladas por rebeldes na Síria em meio a ataques aéreos.
O grupo afirma já ter salvo 62 mil vidas na Síria, sob risco constante. O jornal britânico “Guardian” havia sido um dos entusiastas dessa candidatura. Na quarta-feira (5), o diário publicou um editorial pedindo que o Nobel da Paz fosse entregue aos Capacetes Brancos.
Os voluntários de resgate não foram, no entanto, uma candidatura unânime. O regime do ditador sírio Bashar al-Assad, por exemplo, acusou os Capacetes Brancos de terem um viés favorável aos rebeldes na guerra civil. Quase 500 mil pessoas já morreram no conflito sírio, iniciado em março de 2011.
As nomeações para o prêmio Nobel da Paz são feitas até 1º de fevereiro e então revisadas por um comitê, cujos cinco membros são escolhidos pelo Parlamento norueguês. Os nomes são reduzidos a listas cada vez mais curtas e, enfim, o vencedor é escolhido ou por decisão unânime, ou por maioria simples.
As informações preliminares indicavam que a decisão deste ano havia sido tomada entre o fim de setembro e o início de outubro. Não estava claro se o voto definitivo antecedeu o referendo que rejeitou o plano de paz de Santos, no domingo (2), ou se a notícia teve algum impacto na escolha.
Outros latino-americanos já venceram o prêmio Nobel da Paz. O primeiro foi o argentino Carlos Saavedra Lamas, em 1936. Entre premiados recentes na América Latina está a guatemalteca Rigoberta Menchú, em 1992.
A cerimônia de entrega do Nobel da Paz será realizada em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel (1833-1896), idealizador do prêmio.