O fim do governo Temer foi anunciado ontem pelo vazamento da delação do lobista da Odebrecht Claudio Melo Filho. Ao invés de esperar por um descarte humilhante, seja por que via for, Temer prestaria um grande serviço ao Brasil renunciando ainda este ano, evitando mais um desastre político, a eleição indireta de um presidente pelo atual Congresso. Sua renúncia seria um presente de Natal para o Brasil, garantindo a convocação de eleições diretas sem a necessidade de um remendo constitucional em 2017. Na terça-feira os movimentos sociais farão atos em todo o país pedindo seu impeachment e diretas-já. Objetivamente, deviam pedir renúncia-já.
O maremoto Odebrecht apenas começou, mas as informações sobre uma primeira delação, publicadas nesta sexta-feira pelo Buzzfeed, reproduzidas pelo 247, confirmadas pela Folha de S. Paulo e finalmente lançadas com força ao ventilador pelo Jornal Nacional, acabam com as ilusões sobre uma travessia com o atual governo até 2018. Elas mostram que a “pinguela”, como diz FHC, só tem tábuas podres.
O PSDB, agora também atingido pela revelação de pagamentos ilegais da empreiteira à campanha de Geraldo Alckmin, afora citações anteriores a Aécio Neves e José Serra, neste momento deve estar reavaliando sua estratégia, de fazer a travessia com Temer até 2018. Feito o “serviço sujo” do arrocho fiscal, estariam em condições de vencer a eleição presidencial. Mas com o plano falhando, terão que mudar o jogo. Afeito a uma “conciliação pelo alto”, o PSDB pode embarcar nas indiretas com um salvador da pátria, seja ele FHC ou Nelson Jobim, ou mesmo Carmem Lucia.
As conjecturas sobre a queda de Temer precederam a delação do lobista da Odebrecht. O senador Luis Antonio Reguffe apresentou emenda reduzindo de dois para um ano o período de vacância no cargo em que a eleição de um novo presidente seria indireta. O deputado Miro Teixeira apresentou emenda semelhante na Câmara. Uma delas pode ser aprovada numa emergência, se houver desfecho em 2017. Se Temer não premiar o Brasil com uma renúncia ainda este ano.
Os amantes do parlamentarismo sonham com a possibilidade de uma nova adoção emergencial da mudança do sistema de governo. Mas com este Congresso podre? Dificilmente a população chancelaria esta opção num plebiscito. O impeachment de Temer? O Congresso , depois do maremoto que mal começou, não terá autoridade alguma para afastar o parceiro do golpe contra Dilma.
No ritmo normal do Judiciário e da Lava Jato, quando as delações forem concluídas e homologadas, alguma atitude será tomada pelo procurador-geral da República, inclusive em relação a Temer. Mas isso não acontecerá antes de março, na melhor das hipóteses. E ainda com a incógnita sobre o que faria o STF, depois de vencido o pudor de decidir em nome da “governabilidade”. Por tudo, enquanto os sinos das delações badalam, “correr com a sela”, como disse Ciro Gomes, seria uma alternativa mais confortável para Temer e menos danosa para o país. Temer, corra com a sela antes que o bicho pegue!