Era meados de 2001 quando uma gigante da informática percebeu um fato curioso: seus funcionários dormiam ou cochilavam na maior parte dos caríssimos cursos de capacitação e treinamento.
Intrigados com tal descrédito por parte de seus colaboradores ante o elevado investimento da empresa, os Gerentes resolveram fazer algumas experiências sociológicas. Em reservado e sob garantia de anonimato perguntam a alguns colaboradores tidos como bons funcionários, por qual motivo dormiam durante as capacitações. Esperando criticas a didática, ou ao conteúdo elegido os gerentes foram surpreendidos por uma resposta muito simples: tudo que está sendo falado eu já sei na teoria ou na prática.
Diante do resultado, e incrédulos que a caríssima consultoria de treinamento estaria fazendo os colaboradores perderem tempo, eles resolveram aplicar um “teste de nivelamento” a todos os colaboradores que estavam prestes a assistir um treinamento a respeito de um novo padrão processadores que estavam surgindo. Cerca de 35% dos funcionários obtiveram um conceito maior que 50% de acerto no teste de nivelamento (antes do treinamento) , percentual similar aos 38% que obtiveram o mesmo conceito após o treinamento . Na prática a caríssima capacitação agregou apenas 3% de “conhecimento liquido” aquela organização.
Criou-se então uma verdadeira rebelião a indústria do treinamento, com criticas as “farras de diárias” e despesas de hotelaria, refeições e passagens gastas em funcionários que pouco aprendiam sobre o que se falava. No Brasil uma famosa empresa da área de fertilizantes foi surpreendida, quando na inauguração de sua planta na cidade de Candeias-BA, percebeu que quase nenhum funcionário sabia operar na prática uma balança eletrônica, a qual dois dias antes haviam sido treinados a faze-lo . Surgiu então o conceito de capacitação Low Cost. A expressão em inglês quer dizer simplesmente: De baixo custo.
O slogan se espalhou como uma epidemia, de forma que empresas passaram a atribuir selos de low cost a operações inteiras, tidas como eficientes. Empresas como a EasyJet e no caso do Brasil a família Constantino por meio da Gol Linhas Aéreas inauguraram modernos centros de treinamento low cost. Mas afinal que cargas da água isso tem de diferente?
Sabe aqueles 35% de funcionários que já tinham domínio do que iria ser ensinado pela caríssima empresa de capacitação e treinamento? As empresas perceberam que elas simplesmente poderiam criar um processo para “depurar” o seu banco de talentos e assim criar funcionários padrões, modelos, capazes de formar outros funcionários modelos. E ao invés de pagar diárias ,hotelaria, passagem e professores a centenas de funcionários, poderia simplesmente mandar dois ou três destes, que socializariam o conhecimento com seus pares. Assim surgiu a maior a escola mecânica de aviação do Brasil, montada pelo Gol e com enorme selo de “low cost” (literalmente estampada na placa da empresa).
No setor público essa aplicação de conceito é ainda mais simples. Em toda repartição temos o chamado funcionário “referencia”. Geralmente servidores e servidoras com muitos anos de serviço, com alguns vícios, mas extremamente conhecedores do fazer diário . São tidos como “aqueles e aquelas que resolvem” e geralmente são facilmente localizados pelo excesso de papel em suas mesas. São os primeiros a se aposentarem, quase nunca tiram férias e quando o fazem você já sabe: seu alvará vai atrasar.
O conceito de capacitação Low Cost no setor público urge tal sua necessidade. Aquele servidor, cansado, fatigado, pode e deve socializar seu conhecimento com outros, fazendo mais como ele, e porque não melhor que ele ? Pode e deve ser capacitado, para prestar seus misteres de forma mais consistente e consciente.
Em Brasilia embora a EGOV, preze pelo modelo tradicional de capacitação, há diversos minicursos onde servidor forma servidor. Com o acesso irrestrito a informação dado pela rede mundial de computadores, o conhecimento está na palma das mãos.
Modelos de capacitação pioneira, em EAD como o desenvolvido em Brasilia, formam servidores a distância a um custo baixíssimo, e com a ajuda de fomentadores locais permitem a consolidação prática tão necessária.
A prática de “job rotation” pode ser ainda mais salutar, quando em ambiente de estudo controlado, permite formar funcionários coringas, que deixam de ser alienados ao processo e conhecem o todo da entrada em estoque a saída do produto acabado.
A criação de uma “consciência coletiva do fazer” é essencial para quem como eu, prega um serviço público de excelência.
Não se cria consciência coletiva da importância do bem servir, na base do grito ou na ameaça (como ACM Neto faz com os Professores) , mas colocando métodos inovadores e por que não Low Cost? Em tempos temerários, onde o Brasil sofre com um governo pouco comprometido e ideias esquizofrênicas em pleno século 21 do “estado mínimo”, cabe mostrar a cada dia, que é possível sim, fazer um estado forte, capaz de socorrer o seu povo, capaz de ganhar um prêmios, capaz de racionalizar os escassos recursos públicos.
E isso somente é possível, capacitando os servidores públicos. Acabando com as incongruências da cadeia de comando. Permitindo que os servidores saiam da “caixinha” a quem acham estarem condenados e aflorem, coloquem para fora todo o seu potencial e o coloquem a serviço de seus patrões: o povo.
O povo merece um serviço público de excelência. E se em tempos temerários de dinheiro curto não podemos capacita-los de maneira tradicional, o que custa investir em nosso próprios talentos ?
Por Marcelo José