Apesar de serem menos suscetíveis, pessoas jovens também podem desenvolver quadros graves de covid-19 e precisar de internação. Esse é o alerta feito por especialistas que estão na linha de frente do combate à pandemia diante do aumento de casos desse tipo nos últimos meses e da multiplicação de cenas de aglomeração em praias e bares de diversas regiões do país.
“Os dados do governo de São Paulo publicados essa semana mostram que nas últimas 3 semanas a maior parte das pessoas internadas são jovens”, afirma a infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Raquel Stucchi.
As informações disponíveis na Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) do Estado de São Paulo mostram que entre março e novembro pessoas entre 55 e 75 anos eram maioria entre os que precisavam de leitos de covid-19. Contudo, nas últimas três semanas a faixa etária predominante passou a ser de 30 a 50 anos.
A explicação para esse cenário, de acordo com ela, está no fato de que essa parcela da população passou a descumprir as medidas de prevenção contra o novo coronavírus.
Provavelmente, os jovens ficaram mais em casa ou estudando ou trabalhando em home office e resolveram, a partir dos feriados de novembro, sair, provocando aglomerações, ficando sem máscara e adoeceram em maior quantidade, por isso que foram internados em um número maior”, analisa.
Essa situação foi o que motivou Raquel a postar um vídeo em que faz um alerta emocionado nas redes sociais na última quinta-feira (10). A infectologista começa a gravação explicando que deseja falar com quem é “jovem, sarado, saudável, que cansou de ficar em casa trabalhando em home office desde março, que não aguenta mais ter aula virtual”.
“Você sabia que os hospitais estão lotados? Estão lotados e com muitas pessoas jovens, saradas, bonitas, que se achavam saudáveis e que não adoeceriam de jeito nenhum?”, questiona. “Pois é, muitos jovens como você estão internados, brigando entre a vida e a morte”, afirma com a voz embargada.
Grandes disseminadores do vírus
Em seguida, a especialista acrescenta que o descuido da juventude também coloca em risco quem está ao seu redor e continua fazendo isolamento social.
“Os hospitais também estão lotados das pessoas com que vocês tiveram contato. Os pais, os tios, os avós. que ficaram em casa e não se cansaram da solidão, e se resguardaram. Mas receberam a visita do filho, do sobrinho e do neto, e adoeceram”.
Por fim, Raquel lembra que os jovens têm responsabilidade sobre o cenário epidemiológico – presente e futuro – da pandemia e faz um apelo: “Cuida da sua saúde. Cuide de quem você ama. Fique em casa. Não promova festa, não promova aglomerações, batizados, noivados, casamentos, amigo secreto. Ainda este ano, é tudo virtual. Se você quiser poder estar com as pessoas que você ama em 2021”, finaliza.
Durante a Live JR que foi ao ar na última sexta-feira (11), a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, também abordou o tema e fez observações que corroboram as de Raquel. “Os jovens são pessoas muito mais ativas, por isso acabam disseminando muito mais o vírus”, disse.
Sem olfato e energia
Ela destacou que mesmo quando o paciente não é acometido pela forma grave da covid-19, podem haver uma lenta recuperação e consequências para a sua qualidade de vida.
“Eu tenho casos de pacientes jovens, que corriam 10 km por dia, têm uma vida intensa do ponto de vista da atividade física e não conseguem voltar [a esse padrão] tão cedo”, exemplifica.
A médica cita outros relatos de pessoas que perderam ou tiveram distúrbios no olfato. “Tenho queixas de falar ‘olha, para mim tudo cheira a carne podre’. Qualquer comida quente, que venha o aroma, ele não consegue comer, tem que comer coisa fria”, completa.