Após uma adolescente de 14 anos ser encontrada morta pela mãe com marca de asfixia, nesta quarta-feira (19), a polícia não confirma o desafio “Choking Game” (jogo da asfixia), como motivo da morte da jovem. A adolescente foi encontrada morta dentro da casa onde morava no bairro de Itinga em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), com suspeita de enforcamento.
De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, uma equipe da 27ª Delegacia Territorial (DT), que investiga o caso, esteve na casa da garota e recolheu o computador e um diário dela. Após a delegada Elaine Laranjeiras, titular da 27ª (DT), ouvir o pai e um vizinho que ajudou a socorrer a jovem, além de outras testemunhas, afirma que nada indica que a morte tenha relação com o jogo da asfixia. A investigação segue outra linha e o caso está sendo tratado como suicídio.
Apesar da polícia descartar o jogo da asfixia como motivo da morte da adolescente, o Bocão News conversou com B.F., um garoto de 17 anos, de Salvador, que joga online há cerca de seis anos e explicou como funciona o League Of Legends e os desafios propostos. “Geralmente, essas apostas são feitas entre ‘amigos’ que jogam online quando o personagem morre no jogo ou acaba a partida sem alcançar a divisão. E, quando você perde a partida, dizemos que ‘caiu da liga'”, explica.
O adolescente ainda afirmou que essas apostas são propostas pelos próprios jogadores que usam chats e webcam durante a partida e que não há relação com o jogo. Ele ainda completa: “pode ter grupos de seis a 10 pessoas jogando no mesmo chat, dependendo da partida”.
Ainda segundo o estudante, muitos adolescentes de Salvador jogam o game. No Brasil 27 milhões de pessoas jogam “League Of Legends”, mesmo game que garota morta em Itinga teria jogado antes de morrer.
O que diz o especialista
A reportagem do Bocão News entrevistou o psicólogo e professor universitário Júlio César Hoenisch, que analisou o perfil do novo adolescente, o “adolescente digital”. O especialista diz que os jovens que são ligados a internet são um tipo de adolescente nunca visto, pois vive a gama de possibilidades que a internet permite.
“A rede, por si só, não é nem boa, nem má, a questão está no uso dela. No caso desse adolescente, ele se vê às voltas com um período de grandes transformações em sua vida, que vão desde as mudanças corporais e psicológicas a maneira que o mundo o trata e como ele mesmo se vê. Os riscos estão em algumas características que encontramos nos adolescentes, tais como a impulsividade, a onipotência (a ideia de que nada acontece com eles) e a disposição para desafios”, explica.
Júlio César também disse que sem a supervisão dos pais ou responsáveis, esses traços podem ser fatais, a exemplo dos jogos de desafio de asfixia ou enforcamento. “Os adolescentes, em sua média, se julgam acima da morte. Talvez por isso, de forma involuntária, a desafiem”, analisa.
Nos desafios, o psicólogo analisa o que realmente está em jogo. “Está em conta, nesse tipo de desafio, uma busca de reconhecimento e diferenciação junto a seus pares, que usualmente são as pessoas que lançamos desafio. Os resultados podem ser, como já ocorreu em algumas partes do mundo, a morte ao vivo. É importante destacar, que aceitar o desafio nem sempre corresponde a medir com clareza o risco de morrer”, afirma.
Porque as brincadeiras de desafios atraem tanto as pessoas e em especial os adolescentes? Júlio César também explica esse aspecto da nova brincadeira juvenil arriscada. “As novidades sempre atraem a humanidade em geral, os adolescentes em particular. Os adolescentes, de uma maneira geral, padecem de excesso e, ao mesmo tempo, falta de autoconfiança”, explica o especialista.
Júlio é taxativo e aponta o principal risco das brincadeiras virtuais. “Entre os principais riscos está a morte, seja por bullying, vazamento de fotos íntimas, chantagens ou desafios tais como o da asfixia. A morte é o maior e mais irreparável risco”.
Para os pais e responsáveis, o psicólogo Júlio César deixa uma série de recomendações:
“Na condição de pessoas em formação é extremamente importante que os pais supervisionem o que os filhos estão fazendo e conversem com eles a respeito dos riscos reais e imediatos da internet. Os riscos passam pela morte por atender a desafios, no fim das contas, “bobos” como estes, que resultam em morte. É importante que os pais desse sujeito em desenvolvimento assumam suas responsabilidades sobre eles. Não é fácil. Os adolescentes nao gostam, se rebelam, etc. Não tem problema. Os pais devem entender e barrar essas ‘crises’, buscando estabelecer ao mesmo tempo alguma privacidade aos filhos, sem que essa seja extrema ou irresponsável”, recomenda.
Outro caso
Um caso parecido aconteceu em São Vicente, no litoral de São Paulo, no último sábado (15). Um garoto de 13 anos, identificado como Gustavo Detter, morreu menos de um dia após ser encontrado dentro do quarto do pai com uma corda enrolada no pescoço, sustentada em um saco de boxe no teto e em frente a um computador.
Após o enforcamento, o estudante chegou a ser socorrido ainda com vida para o Hospital Municipal de São Vicente. Depois foi transferido para o Hospital Ana Costa, em Santos, e morreu na manhã de domingo (16).
De acordo com o tio de Gustavo, ele jogava o game League of Legends. Quando alguém perdia o jogo, os participantes davam ao perdedor o desafio do “Choking Game”. Segundo o boletim de ocorrência, ele brincava com outros três colegas quando aconteceu o enforcamento.
Fonte: Bocao News
Por Tony Silva e Brenda Ferreira | Fotos: Ilustrativa