Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
O racha na bancada do Senado foi escancarado nesta segunda-feira pela postagem do presidente do partido e líder do Governo, Romero Jucá, negando que pretenda disputar a presidência da Casa e dizendo haver consenso em torno do nome do atual líder do partido, Eunício Oliveira. Jucá ouviu de Renan Calheiros uma proposta para que se lançasse candidato a presidente com seu apoio, cedendo-lhe a presidência do partido, posto que daria mais cacife a quem vai trocar o alto da Mesa pela planície do plenário. Jucá não apenas recusou como foi à rede social explicitar sua posição, que é apoiada por Temer. E com isso, restará a Renan o posto de líder da bancada, mesmo assim se conseguir a maioria de votos para ser eleito.
Na Câmara a situação não é muito diferente. A maioria da bancada votou contra Temer no projeto de renegociação das dívidas estaduais, suprimindo a exigência de contrapartidas. Uma parte da bancada, alinhada com o Centrão, é contra a candidatura de Rodrigo Maia, do Democratas, a um segundo mandato na presidência da Câmara. A disputa de fevereiro promete aprofundar as fissuras que começam a aparecer na ampla base de apoio a Temer, a tábua de salvação em que se agarra, diante da impopularidade, do evidente colapso econômico e das denúncias da Lava Jato.
Mas ainda que Temer sobreviva no cargo até 2018, como um pato manco, arrastando as correntes da impopularidade e da fragilidade, o projeto de poder do PMDB já foi para o espaço.
Temer vacilou muito quando os peemedebistas que hoje compõem o núcleo duro de seu governo (Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel e Henrique Alves, que já caíram), em longas tertúlias no Jaburu, buscavam convencê-lo de que “o cavalo estava passando selado” em sua porta e era preciso montá-lo. Ou seja, dar o golpe, tomar o governo e viabilizar o tal projeto próprio de poder. Pois, afinal, depois da Constituinte, o papel do partido foi dar sustentação a governos de outros partidos, exercitando com maestria a arte do fisiologismo, da troca de apoio por nacos do Estado. Assim foi com Fernando Henrique, com Lula e com Dilma. As duas candidaturas presidenciais do PMDB, a de Ulysses Guimarães em 1989 e a de Quércia em 1994, sofreram derrotas humilhantes. Mas com o golpe, esta sina poderia mudar. Temer finalmente foi convencido e um dos primeiros movimentos reveladores de que entrara na conspiração foi aquela carta dos queixumes a Dilma. Em seguida Romero Jucá, como presidente do partido, comandou o desembarque do governo. Este foi o verdadeiro dia do golpe.
Pouco antes, o documento “Ponte para o Futuro” fora elaborado para dizer ao país que o PMDB tinha programa para concluir o governo de Dilma e seguir no comando do país. Seis meses depois, não há ponte, apenas uma pinguela, segundo FHC. O futuro é um grande ponto de interrogação pairando sobre o país que se desmancha.
Na disputa de 2018, mesmo que Temer não caia antes, estarão no jogo o PT com Lula, o PSDB, possivelmente com Aécio Neves, Ciro Gomes, pelo PDT, Marina Silva, pela Rede, e os outsiders que fatalmente vão aparecer, como Bolsonaro e semelhantes, pela direita ou pela esquerda. Ao PMDB, restará apoiar os tucanos. A Lava Jato não deixará ninguém em condições de disputar a presidência, nem mesmo como um candidato figurativo no primeiro turno, para barganhar apoio no segundo.
Eles se enganaram com Temer, superestimaram sua dimensão e sua capacidade para liderar um país em crise política, econômica e ética. Subestimaram os setores que resistiram ao golpe e conseguiram difundir a narrativa sobre a verdadeira natureza do impeachment de Dilma. Sacrificaram a democracia e estão sacrificando a economia nacional por nada. Não há projeto de poder para o PMDB no horizonte de 2018.