Um grupo de pesquisadores do Paraná deu início a uma pesquisa inédita no Brasil e na América Latina para analisar variações genéticas do Sars-CoV-2 (coronavírus). Um dos principais objetivos é detectar por que o vírus se desenvolve de formas diferentes em variados organismos.
Ao longo de quatro meses serão coletadas amostras de sangue e tecidos de pacientes com a Covid-19 com os mais diversos sintomas: leve, moderado e grave. Essas amostras estão sendo obtidas de instituições de saúde dos estados do Paraná e de São Paulo, entre elas o Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen), em Curitiba.
“A grande pergunta é: por que alguns grupos ou alguns indivíduos estão mais propensos a desenvolver a forma grave mesmo sem estar no grupo de risco? E por que pessoas no grupo de risco muitas vezes se saem bem? Será que às vezes é um fator genético inerente a esses indivíduos que os tornam mais ou menos propensos a desenvolver a forma grave da doença? E se existem, quais são esses fatores?”, explica o professor David Livingstone Figueiredo, presidente do Instituto para Pesquisa do Câncer (Ipec), em entrevista ao G1.
Segundo Figueiredo há uma grande quantidade de amostras já disponíveis e a expectativa é que o sequenciamento completo do vírus seja realizado em torno de um a dois meses. O resultado final da pesquisa, no entanto, deve ter seu resultado publicado entre o final de 2020 e início de 2021.
“A gente tem olhado principalmente para o paciente, pouca gente tem olhado. A gente vai olhar para o exoma todo, sequenciar o exoma todo desse paciente e buscar correlações genéticas e alterações genômicas que possam estar correlacionados com isso”, afirma.
Para obter um melhor resultado na pesquisa, as amostras dos pacientes com a Sars-CoV-2 serão divididas em três grupos compostos da seguinte maneira:
- Um grupo de pacientes com quadro clínico grave e mantidos na UTI com ventilação pulmonar;
- Um grupo formado por pacientes com quadro clínico da Covid-19 moderado, internados na enfermaria, que foram curados sem a necessidade de transferência para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI);
- E um grupo formado por pacientes com quadro clínico leve ou assintomáticos em isolamento social.
O resultado da pesquisa pode auxiliar na produção de remédios eficazes no combate ao coronavírus ou até mesmo para amenizar sintomas durante a fase de infecção do vírus.
“Entender quais são as variantes que causaram a patologia mais grave, isso é importante, até do ponto de vista epidemiológico. De onde elas vieram, qual foi a migração, onde começou esse quadro”, diz Figueiredo.
“Olhar para o paciente para mim é muito mais importante. Quando a gente olha para o paciente a gente vai entender que alguns, por exemplo, têm uma expressão acentuada de receptores específicos para o vírus. Se a gente conseguir provar isso, por exemplo, pode ser alvo de drogas para bloquear a gravidade dos casos”, completa.
O projeto será desenvolvido pela Rede Genômica IPEC/Guarapuava, com pesquisadores de doze instituições de pesquisa do Paraná: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Faculdades Pequeno Príncipe (FPE-Curitiba), Instituto Carlos Chagas (Fiocruz/PR), Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Quatro instituições paulistas também fazem parte do projeto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), Faculdade de Ciências Farmacêuticas (UNESP-Araraquara), Universidade de Araraquara (UNIARA) e a Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA).