O movimento já não é mais embrionário e tomou corpo às vésperas da reunião do conselho político, realizada no último dia 14. O resultado foi a indefinição de uma data para a apresentação do nome do grupo para disputar com Bruno Reis (União) o comando da capital baiana.
Existe, inclusive, a discussão de um veto explícito contra Geraldo Jr. A abordagem não deve ser usada, para preservar um mínimo de civilidade política na base aliada. A leitura é que esse seria a última cartada, pois qualquer fratura no grupo ajudaria, ainda mais, os adversários – no primeiro plano Bruno, mas também o ex-prefeito ACM Neto. Ou seja, não há interessados, do lado do governador, em aumentar o poderio da oposição estadual em Salvador.
O problema, segundo interlocutores, é que Geraldinho não consegue representar a esquerda, ainda que esteja marchando com Jerônimo. Como recém-chegado ao grupo, os resquícios de quem passou muitos anos ao lado de ACM Neto e Bruno Reis permaneceria impregnado, algo que torna o vice-governador menos palatável aos esquerdistas mais clássicos. Diferente do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que se filiou ao PSB, Geraldo Jr. veio com o MDB e toda a carga de eterno governismo do partido desde a década de 1990, o que fragiliza as eventuais comparações, por exemplo.
Além disso, o vice não carrega simbolismos que a última cartada do PT em Salvador, Denice Santiago, trazia. Mulher, negra e militar, ela conseguiria, na avaliação do então governador Rui Costa e do entorno, dialogar com segmentos que Geraldo Jr. não conseguiria, caso venha a ser escolhido como candidato do grupo. Isso numa avaliação bem simplista da disputa em 2020. Apesar disso, o emedebista não é uma carta fora do baralho. Todavia, não seria alçado a condição de único nome da base de Jerônimo na capital baiana – algo que ele próprio outrora sinalizou como questão essencial para participar da disputa.
Por enquanto, há uma mobilização para que a candidatura saia da federação PT, PCdoB e PV, com prevalência da estratégia do reforço do 13, algo que todos os interlocutores avaliam como o trunfo que elegeu Jerônimo no último ano. Contudo, a falta da eleição casada com o fenômeno Luiz Inácio Lula da Silva reduz um pouco o impacto do argumento. A escolha do deputado estadual Robinson Almeida pelo PT não tem empolgado o suficiente, o que poderia gerar uma retração dos petistas em bancar a candidatura dele.
A dificuldade é que nem o PCdoB nem o PV parecem ter opções que agradem a cúpula decisória das candidaturas nas principais cidades na Bahia – leia-se, especialmente, o entorno de Jerônimo. A comunista Olívia Santana tem contra ela o peso de uma disputa contrária aos interesses do grupo em 2020, quando enfrentou Denice e o PT nas urnas. Com isso, são consideradas bem remotas as chances dela conseguir emplacar novamente para tentar a prefeitura da capital.
Quem “corre por fora” nesse processo é a deputada federal Lídice da Mata (PSB). Ainda que não tenha sido formalmente apresentada como pré-candidata, a socialista é analisada com um bom recall eleitoral e como uma fervorosa defensora do legado petista na Bahia e no Brasil. E é tida como uma figura mais autêntica para que a militância da esquerda se engajar na campanha, algo pouco provável com a candidatura de Geraldo Jr.
Enquanto a definição não acontece, trocas de farpas nos bastidores e públicas aquecem os humores dos envolvidos. A eleição de 2024 em Salvador, até aqui, não se mostra emocionante. A pré-definição dos candidatos chama muito mais a atenção do que qualquer outro tema da agenda política soteropolitana.