O papa Francisco, de 86 anos, que, na quarta-feira (29), foi internado em um hospital de Roma para tratar uma infecção respiratória e que, deve ter alta neste sábado (1º), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condenado pela Justiça brasileira sem provas, e que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), da mesma forma, possui “mãos limpas”, além de ter sofrido um processo de impeachment classificado por ele como injusto. Para ele, “os políticos têm a missão de desmascarar uma Justiça injusta”.
A declaração foi feita em entrevista exibida na quinta-feira (30) na rede argentina C5N. Ela foi gravada antes da internação do pontífice.
O papa lembrou ainda, conforme a Folha de S.Paulo, dos exemplos brasileiros quando perguntado sobre o “lawfare”, termo usado para definir o uso do sistema de Justiça de determinado país para perseguição política de adversários. O sacerdote ainda citou outros países, como Equador, Argentina e Bolívia.
“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal o desqualifica e metem a suspeita de um crime. Então, faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra [a prova do delito], mas para condenar basta o tamanho desse sumário. ‘Onde está o crime aqui?’ ‘Mas, sim, parece que sim…’ Assim condenaram Lula”, afirmou o religioso.
Quando o entrevistador afirmou que Dilma foi cassada em 2016 por um “ato administrativo menor”, o líder da Igreja Católica rebateu, afirmando que a ex-mandatária é “uma mulher de mãos limpas, uma mulher excelente”.
O papa ainda citou o “fumus delicti”, termo jurídico em latim para conceituar a comprovação de um crime por meio de indícios suficientes de autoria, e ainda disse que “às vezes, a fumaça do crime te leva ao fogo, outras vezes é uma fumaça que se perde porque não há fundamento”.
Por fim, quando o jornalista encerrou o assunto dizendo que “inocentes são condenados”, o pontífice ressaltou que “no Brasil, isso aconteceu nos dois casos”, referindo-se a Lula e a Dilma. Para ele, “os políticos têm a missão de desmascarar uma Justiça injusta”.
Dilma perdeu o mandato em 2016 em processo de impeachment que tramitou na Câmara dos Deputados e no Senado. Ambas as Casas consideraram que a então presidente cometeu crime de responsabilidade pelas chamadas “peladas fiscais”, com a abertura de crédito orçamentário sem aval do Congresso.