Dentre os 39 deputados federais baianos, apenas duas são mulheres. No quadro nacional, a diferença é de 513 para 51. Assim, a deputada Alice Portugal (PCdoB) ressalta que é preciso ter “um grau de atrevimento acima da média” para galgar uma trajetória de liderança em movimentos estudantis até um cargo no Congresso Nacional. “Aqui dentro a disputa é grande, os microfones são modulados pra vozes graves, pra vozes masculinas. Eles são mais altos e aqui é a única Casa em que se trabalha de pé, então as mulheres entram nessa desvantagem física dentro de uma Câmara de Deputados, mas mesmo assim temos nos destacado”, pontua Alice, que entra na metade do seu quarto mandato na Câmara Federal. A parlamentar lembra ainda que foram necessários 15 anos de envolvimento com o sindicalismo até que fosse reconhecida pelo PCdoB para pleitear o cargo de deputada estadual em 1994. “Eu tenho uma felicidade do meu partido estimular as mulheres, hoje o PCdoB é o partido que estruturalmente tem mais mulheres e eu sou a líder [da bancada], mas mesmo assim, pra que você chegue lá, a mulher tem que ser duplamente mais competente”, acrescenta. A imposição de uma jornada dupla ou até tripla é compartilhada pelas demais parlamentares, como a deputada estadual Luiza Maia (PT). Presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Luiza reconhece que houve avanços, como a obrigatoriedade de que os partidos reservem uma cota de 30% de vagas para as mulheres, mas também destaca que há muito que se fazer até que se alcance a paridade de direitos entre os gêneros. “A mulher enfrenta muitas barreiras, muitas pedras no caminho pra que a gente não tenha acesso a esse espaço de poder e a mulher que ficou confinada no ambiente do lar, ela não se sente estimulada nem solicitada. Então, pra mulher decidir entrar pra vida política tem que ter um ataque, sair quebrando as barreiras porque homem decidir pela gente, a gente já sabe no que dá”, analisa a petista. De acordo, Alice acrescenta que uma mulher enfrenta 16 vezes mais entraves que um homem para se eleger, considerando que há uma maior dificuldade para garantir recursos para suas campanhas. “Empoderamento requer apoio político, apoio público e, na política especificamente, merece uma lei”, frisa a socialista. No entanto, essa disputa por maior espaço tem apresentado resultados positivos, ao menos no âmbito da Câmara Municipal de Salvador (CMS), que, na contramão do país, registrou um aumento de vereadoras eleitas em 2016. Agora são oito mulheres com poder de voto no legislativo municipal da capital baiana. Ainda assim, a edil Lorena Brandão (PSC), que está no seu primeiro mandato em um cargo político, não deixa de sentir uma maior dificuldade para ser ouvida e respeitada na Casa. “A mulher num cenário político é uma coisa muito nova, é uma briga muito nova e a gente enfrenta todo o tipo de preconceito”, opina a vereadora, que é também empresária, professora de Direito e bispa do Ministério Batista Internacional do Caminho das Árvores (IBCA), além de esposa e mãe, como faz questão de destacar. No seu caso, a resistência começou logo quando surgiu a vontade de se candidatar. Ela conta que sentiu um chamado divino, mas quando foi se aconselhar com seu mestre religioso, ele se espantou e tentou convencê-la de que não era uma boa ideia. Não conseguiu. “Ele disse absolutamente ‘não’, que ele não queria, que ele entendia que meu chamado era outro. Pedi pra ele orar e depois ele pediu perdão, que esse chamado não era uma invenção minha, era um projeto do coração de Deus”, lembra. Com essa benção, Lorena deu início à campanha, mas se deparou com outras batalhas. A vereadora sentia que suas obrigações, principalmente com a casa e os filhos, seriam prejudicadas – julgamento comum a figuras que assumem múltiplas tarefas. “A mulher precisa saber muito bem o que ela quer, dividir muito bem o seu tempo”, avalia. Feito isso, a crescente ocupação de espaço de decisões públicas e representatividade social por figuras femininas é vista pelas parlamentares baianas como uma quebra de padrões.