O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fez o alerta: cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes não voltam às aulas neste ano no País. Na Bahia, o abandono é uma realidade que traz dados alarmantes sobre a ausência nas salas de aula. Em Ibicuí, por exemplo, a evasão chega a 31,2% do 1º ao 5º ano do ensino fundamental na zona rural, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Essa foi a maior taxa de evasão apresentada no estado, considerando anos iniciais e finais (5º ao 9º). A Bahia tem uma média de desistência de 1,55% para essa etapa da educação. A cidade só ficou atrás de Nova Soure (26,3%) e Maragogipe (24,1%).
Motivos
Os motivos para a falta de frequência são distintos, vão desde questões de segurança à gravidez na adolescência. Segundo Caio Sato, coordenador do núcleo de inteligência do Todos pela Educação, os problemas que levam à ausência devem ser enxergados conforme cada faixa etária.
“Chegamos à conclusão de que não existe uma política (pública) única que será capaz de resolver esse problema. Precisamos lançar mão de políticas que são um pouco diferentes, que começam com uma melhoria da própria oferta da pré-escola e, para aqueles mais velhos, políticas endereçadas à atratividade e o clima escolar”, acredita Sato.
Evasão
Ibicuí, em 2018, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contava com 1.982 alunos matriculados no ensino fundamental. Desse total, segundo a plataforma QEdu, 110 eram estudantes de sete escolas espalhadas pela zona rural. Todas oferecem apenas os primeiros anos de ensino.
A secretária de educação, Marta Valéria, reconhece a evasão. De acordo com ela, alunos que vivem longe da sede e que precisam enfrentar até 23 km de estrada – maior parte de terra – para chegar ao local de ensino depois de um dia inteiro de trabalho braçal estão mais propensos a desistir.
“A maioria são alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que precisam ir até a cidade depois de um dia inteiro de trabalho na roça. Tivemos de mudar o horário da merenda que servíamos no meio da noite. Como muitos vêm direto do trabalho, além de muitos cansados, eles chegam com fome. Muitos não aguentam levar adiante a rotina”, revela a secretária.
Aluna volta à escola após ação do unicef
A estudante Bruna Ferreira teve que sair de casa por uma desavença familiar. Mudou-se, em 2018, do município de Camaçari para Lauro de Freitas, também Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde passou a morar com uma tia.
A mudança de endereço fez com que ela deixasse os estudos de lado, até seu caso chegar aos ouvidos das educadoras que participam da Busca Ativa da Unicef.
Agora, adolescente está cursando o 8° ano na modalidade EJA. O caso dela é um dos 222 são acompanhados por agentes da plataforma com o apoio da gestão municipal de ensino.
BUSCA ATIVA É OPÇÃO PARA REDUZIR EVASÃO
Mas há uma corrente disposta a fazer com que esses índices se tornem menores. Um esforço conjunto entre gestores municipais, agentes de educação e o Unicef. A estudante Bruna Ferreira, 16 anos, por exemplo, retornou à escola depois de alguns meses longe.
O caso dela foi identificado pela professora Raquel Ribeiro, coordenadora do programa do Unicef Busca Ativa Escolar na cidade de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). “Nós identificamos crianças e adolescentes de 4 a 17 anos. Cadastramos essas pessoas numa plataforma online e, a partir daí, começamos o acompanhamento que dura um ano, até que esses casos sejam dados como resolvidos”, conta a professora.
Iniciativa
A Busca Ativa Escolar é uma plataforma gratuita para ajudar os municípios a combater a exclusão escolar. A intenção é apoiar os governos na identificação, registro, controle e acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão. A adesão é espontânea e compete a cada gestão municipal.
Ibicuí e Nova Soure aderiram à plataforma mas nunca chegaram a utilizá-la. Enquanto Maragogipe sequer realizou o cadastro.
A secretária de educação de Maragogipe, Marli Medina, afirma ter percebido o problema e se diz “preocupada com a realidade da cidade”.
“Nós elaboramos uma nova estratégia para lidar com os alunos que apresentam uma distorção idade/série. Percebemos que quando eles repetem (de ano) acabam se desestimulando porque passam a estudar à noite na modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA). Por isso, estamos criando turmas diurnas com aceleração para possibilitar a garantia da continuidade desses alunos no ambiente escolar até o ensino médio”, disse. A reportagem não conseguiu contato com a pasta de educação de Nova Soure.
Fonte: A Tarde OUL | Publicado em 02 de fevereiro de 2020