Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
A única dúvida restante é o placar final: 3 a 0 ou 2 a 1 pela condenação.
Lula já estava condenado antes de Sergio Moro anunciar sua sentença no ano passado, a partir do momento em que o juiz se aliou aos procuradores da Lava Jato que fizeram a denúncia do triplex nos interrogatórios do ex-presidente.
Qualquer que seja o resultado, no entanto, Porto Alegre não é o fim da história. É apenas mais um capítulo da longa batalha judicial que será travada nos tribunais superiores até a véspera da eleição, ou mesmo depois da apuração dos votos.
E o que estará em jogo não é apenas o destino de Lula, mas das próprias eleições presidenciais e dos rumos da nossa jovem democracia.
Para quem quer tirar Lula do jogo, pouco importam os autos do processo, as provas que não existem de um crime indeterminado que o próprio juiz Moro já admitiu não ter ligação com a corrupção na Petrobras.
Escrevi aqui mesmo neste blog, ainda em 2012 (favor ver arquivo), depois do julgamento do mensalão, que “o alvo agora é Lula”.
Como agora demonstram à exaustão todas as pesquisas, a única maneira de impedir uma nova vitória do ex-presidente nas urnas é impedi-lo de concorrer.
Este era desde o início o principal objetivo da Operação Lava Jato para a montagem do roteiro de um julgamento político que agora entra nos seus momentos decisivos.
“Não olho para a capa do processo, mas para os autos”, sempre costuma dizer o ministro Marco Aurélio Mello, do STF.
Neste caso, porém, só o que importa é o nome que consta da capa. Fosse outro o réu e não estariam fazendo todo este carnaval em torno do julgamento que começará daqui a 15 horas.
Por que Lula é o único presidenciável e líder de expressão nacional a ser julgado em segunda instância a nove meses da eleição?
Mais de dois mil políticos de todos os partidos foram denunciados pelos delatores da Odebrecht e da JBS, muitos deles com provas contundentes – vídeos, gravações, malas de dinheiro – e nenhum foi até agora levado a julgamento no STF.
No afã de cumprir seu objetivo o mais rápido possível, os juízes de Porto Alegre passaram por cima de outros sete processos anteriores para colocar o de Lula na pauta, mas isso é só um detalhe no conjunto de atropelos praticados ao longo da Operação Lava Jato.
Até aqui, sem resultados, como mostra o estudo feito pelo jornalista e cientista político Fábio Vasconcellos, citado na nota “Massa de pão” da coluna de Ascanio Seleme, no Globo deste domingo.
“As intenções de voto em Lula cresceram 19 pontos percentuais desde que ele foi levado coercitivamente para depor, em março de 2016”, constatou Vasconcellos, que baseou sua análise nas pesquisas do Datafolha (ver em fabiovasconcellos10.wordpress.com).
No mesmo período, Bolsonaro, que se apresenta como a antítese de Lula, também cresceu de 6% para 18%, enquanto Marina caiu 13 pontos e Alckmin perdeu quatro.
O grande dilema dos que não querem ver o ex-presidente de novo no Palácio do Planalto é exatamente este: achar um candidato competitivo.
O governador paulista Geraldo Alckmin, que já disputou e perdeu a eleição de 2006 para Lula, quando teve menos votos no segundo turno do que no primeiro, apresentado como principal opção do centro governista, não consegue desempacar nas pesquisas.
Após quatro derrotas consecutivas, o PSDB tenta reviver a aliança com o (P)MDB e o DEM (antigo PFL), junto com os partidos abrigados no Centrão, para isolar Lula e garantir recursos de campanha e tempo de TV.
A grande esperança dos anti-Lula é que a Justiça dê um jeito nisso, mas é para esta mesma Justiça que o ex-presidente apresentará recursos após o julgamento de Porto Alegre, até chegar ao Supremo Tribunal Federal.
Pela primeira vez em nossa história, é nos tribunais e não nas ruas, nos debates e nos comícios, pelo que vimos até agora, que se decidirá a eleição de 2018, que será uma com Lula e outra bem diferente sem o petista na urna eletrônica.
Lula decidiu que continuará em campanha. No dia seguinte, qualquer que seja o resultado no TRF-4, o PT apresentará as linhas centrais do seu programa de governo, e já marcou para março uma nova caravana, agora pela região Sul.