Para começo de conversa, vale explicar que o dia (20) e mês (novembro) da Consciência Negra só é polêmico, problemático ou duvidoso para quem se sente desconfortável em assumir que vive em um dos mais racistas dos países. E também para quem está cheio de privilégios e com resistência em assumi-los.
Pois é. O mito da democracia racial ainda impede que exaltemos nossos heróis e heroínas negras porque, afinal de contas, “estamos em um país miscigenado”, onde “não existe dia da consciência branca”, onde “#SomosTodosMaju”, onde “não existem raças, somos todos humanos”, e onde “a miscigenação é nosso grande tesouro nacional” e bla, bla, bla… Bullshit!
O Brasil ainda é um pais onde quem mais sofre com o machismo é a mulher negra, onde quem mais sofre com a violência policial é o homem negro, onde quem mais sofre com a hipersexualizaçao é o corpo negro, onde quem mais sofre xenofobia é o/a imigrante negro/a, onde quem mais sofre agressão racista é o povo preto.
Então, para entender e respeitar o importante mês da consciência negra, primeiro precisamos (AINDA!!) ser didáticos e apresentar esta triste realidade brasileira.
Junto a tal triste realidade, faço questão de apresentar diversos grupos de ativistas a favor de cotas raciais nas universidades, grupos contra o genocídio da população jovem negra e periférica, coletivos contra o racismo institucional, projetos por maior visibilidade negra nos meios de comunicação e nas redes, etc, etc…
Ou seja, estamos vivos, resistindo, lutando. Mais do que isso, estamos reverenciando o nosso líder Zumbi dos Palmares sim! E Dandara também, e Luiz Gama também, e Claudia, e Eduardo, e Amarildo, e todos outros que estão PRESENTES. Sim, nossos mortos ainda vivem. Não vai ser qualquer um que vai nos silenciar com o discurso fajuto e hipócrita do “SOMOS TODOS IGUAIS”.
Não somos iguais e todos sabemos disso. No dia em que veremos negros formados nas faculdades na mesma proporção que brancos, quando tivermos maioria negras assumindo posições de poder, quando o negro não for mais destaque do genocídio, quando a pobreza, a fome, a falta de educação não forem mais pautas da população negra periférica, quando punirmos os covardes que cometem crimes de racismo, quando valorizarmos as culturas africanas… Ai SIM, cara pálida: Aí falaremos da “consciência humana”.
E, ainda assim, gritarei “Zumbi Vive!”. Porque ele e muitos outros vivem. A minha consciência tem milhares de vozes, e cada voz traz milhares de histórias. E que venha o dia 20 de novembro! Comoremos. Ubuntu.
Rafael Cirne
Morador de Itinga
Orientador Social
Sacerdote de Terreiro