O título dá conta de que ele tinha avião à disposição para suas palestras em Angola em 2011 e 2014.
E daí?
Ele visitou obras de interesse da Odebrecht e discutiu o financiamento do BNDES para “projetos locais”.
Emílio Odebrecht estava com ele.
E daí?
De acordo com a Lava Jato, Lula servia como “garoto propaganda” da empreiteira.
Ora.
Em 1996, segundo o mesmo jornal, em matéria assinada por uma “enviada especial”, FHC esteve em Angola e África do Sul “acompanhado de uma comitiva de empresários interessados em investir num país em ruínas e que precisa reconstruir sua infra-estrutura.”
“Empreiteiras como Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, cujos representantes integram a comitiva, têm interesse na construção de represas, estradas, habitações e exploração mineral”.
Ficamos combinados, então, que no caso de Lula era sequestro à mão armada e no de Fernando Henrique benemerência.
É pouco provável, aliás, que FHC tenha passeado de ônibus e em lombo de jegue.
Se eles fazem “propaganda” dessas companhias, o que fazia o premiê japonês Shinzo Abe, que se fantasiou de Super Mario, o personagem do popular game da Nintendo, na Olimpíada do Rio?
Mas a reportagem sobre Lula fica especialmente surreal a partir de determinados trechos de misteriosos “relatórios do Itamaraty”. Segundo eles, as palestras de fato aconteceram, foram “calorosamente aplaudidas” e tiveram “ampla cobertura da mídia local”.
Lula, ficamos sabendo, deu palpites sobre a instalação dos chuveiros das casas, que ficavam do lado de fora e ele sugeriu que fossem para o interior.
O relatório também registra que em 2014 um “colóquio atraiu audiência superior a 1.200 pessoas e já foi qualificado como o maior evento internacional sobre o combate à fome já realizado”.
Finaliza lembrando que a turnê foi “muito importante” para evitar que o Brasil perdesse espaço para outros países em suas relações com Angola.
Mas não era disso que se tratava?
Como diz o ex-ministro Eugênio Aragão, esse é o ambiente da “meganhagem” nacional. Tudo é pegadinha (“Olhaí! Auditório cheio! Aplausos! Tô falando!”). Acrescente-se um público analfabeto e pronto.