Jornalistas se comportaram como cordeiros em café com Bolsonaro
Esse café da manhã no Palácio do Planalto, com Bolsonaro e sua trupe, é a antientrevista sob medida para o antijornalismo, este, em voga no Brasil.
Primeiro, não há nada mais improdutivo, anti-higiênico e jeca do que entrevistar e ser entrevistado durante as refeições. Falar e comer, como se sabe, é um péssimo hábito. Essa coisa de tomar café da manhã, almoçar, lanchar e jantar com fontes é um vício de Brasília alimentado (sem trocadilho) pela cultura da boca livre.
Ademais, pelo que pude entender, os jornalistas são tratados como gado no curral, impedidos de gravar ou transmitir informações antes do fim do tal café, quando não instruídos a somente perguntar sobre temas preestabelecidos pela secretaria de imprensa da Presidência da República, o que é, antes de tudo, ridículo. Repórter que aceita uma coisa dessa desonra a profissão.
Mas, infelizmente, a maioria aceita.
Por medo de ser demitido, por medo de perder a fonte, por ordem do editor, que é mais covarde do que o repórter e, não raras vezes, aquele tipo de bajulador que arreganha os dentes para baixo, mas geme baixinho para cima.
Então, o general Heleno dá aquele chilique vexaminoso para o mundo todo ver e pede prisão perpétua para Lula.
Um general que, sob o comando de Lula, então presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas, recebeu a missão de pacificar o Haiti – ponto mais alto e único de alguma relevância em sua carreira na caserna. Missão que sujou de sangue a comandar uma operação desastrada que, segundo todos os observatórios de direitos humanos do planeta, despejou 22 mil tiros sobre uma comunidade pobre de Porto Príncipe, matando mulheres e crianças.
Essa cavalgadura, aos berros, batendo a mãozinha na mesa, derrubando talheres, pediu a prisão perpétua de Lula.
E nenhum repórter sequer levantou a voz para, ao menos, lembrá-lo que, na legislação do Brasil, não existe prisão perpétua.
Leandro Fortes, jornalista