O miliciano Adriano da Nóbrega, que morreu na manhã deste domingo (9) após uma operação das polícias da Bahia e do Rio de Janeiro, estava escondido no sítio de um vereador da cidade de Esplanada (BA), filiado ao PSL (partido pelo qual Jair Bolsonaro e seus filhos foram eleitos em 2018 e do qual saíram no final de 2019 para criar um novo, a Aliança pelo Brasil). Esplanada é um município de 37 mil habitantes a 160 km de Salvador.
A casa é do vereador Gilson Batista Lima Neto, conhecido como Gilsinho da Dedé. Ele disse que a propriedade estava vazia, que não tinha qualquer relação com o ex-policial militar e que só soube da operação porque um vizinho lhe telefonou para avisar da movimentação. Gilsinho é irmão do deputado estadual Alex Lima (PSB).
“Estou em Recife desde terça e hoje pela manhã recebi uma ligação de um vizinho dizendo que estava tendo um assalto, que a polícia estava atrás. Tentei entrar em contato com outras pessoas que estavam lá, comecei a receber mensagens sobre o acontecido e depois pela mídia soube que era esse Adriano”, disse ele por telefone à reportagem.
Gilsinho afirma que logo depois ligou para o delegado da cidade para confirmar se era mesmo o seu sítio e perguntar se ele precisava de alguma informação, mas teria ouvido dele que a operação era da polícia especializada da Secretaria de Segurança Pública e que não tinha detalhes.
Adriano da Nóbrega, que estava foragido há cerca de um ano, foi encontrado neste imóvel em uma ação conjunta encabeçada pela Polícia Civil fluminense e pelo Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar baiana.
O governo da Bahia diz que os policiais deram voz de prisão, mas que o ex-policial teria reagido atirando. Ele foi baleado e levado pelos agentes ao Hospital São Francisco São Vicente. Uma funcionária disse à reportagem que Adriano já teria chegado morto ao local, diferentemente do que afirma o governo da Bahia. A versão oficial é de que ele ainda estaria vivo.
Um vídeo obtido pela reportagem mostra o interior da casa de Gilsinho após a operação policial. Os cômodos têm poucos móveis e a casa está bagunçada. Na sala, há uma grande poça de sangue no chão que se estende em direção a um quarto.
QUEM ERA ADRIANO DA NÓBREGA
O ex-capitão já foi preso e solto três vezes, expulso da PM em 2014, homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro duas vezes e defendido pelo presidente Jair Bolsonaro ao ser acusado de homicídio em 2005.
Também teve duas familiares nomeadas no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foi empregada em 2007 e sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, em 2016. Ambas foram exoneradas no fim de 2018 a pedido.
Quem as indicou para os cargos foi Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio que foi companheiro de Adriano no 18º Batalhão da PM fluminense e hoje é investigado por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
O miliciano é citado nessa investigação, que apura a prática de “rachadinha” no gabinete do filho mais velho de Bolsonaro na Alerj. De acordo com o Ministério Público, ele controlava contas bancárias usadas para abastecer Queiroz, suspeito de ser o operador do esquema.
Adriano estava foragido havia mais de um ano. Era acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado e de estar envolvido no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.