Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Na última segunda-feira, matéria constrangedoramente “morista” – ou antilulista – do Estadão flerta com a galhofa ao dizer que Moro será “ainda mais meticuloso” com Lula (!?).
Como assim, “ainda mais meticuloso”? O que teve de “meticulosa” a sentença que condenou Vaccari a 15 anos PRESO sem existência de provas, por conta, apenas, das acusações de gente que lucrou acusando o ex-tesoureiro do PT?
O Houaiss define assim o adjetivo “meticuloso”
1- que tem receio; temeroso, tímido, timorato
2- que se deixa impressionar, que tem escrúpulos ‹temperamento m.›
3- preso a detalhes, a pormenores; minucioso ‹professor m.›
4- que demonstra cautela, precaução; cuidadoso, cauteloso
Vaccari foi trancafiado dois anos atrás sem julgamento e condenação, mas esta não tardaria. Em poucos meses, saiu a condenação sumária e sem produção de provas, segundo o TRF4, ou seja, a segunda instância.
Moro não foi meticuloso, foi irresponsável. Condenou um idoso a terminar seus dias na cadeia sem que contra ele houvesse uma única prova aceitável perante a lei. Mas o Estadão diz que será “ainda mais meticuloso”. Se tivermos que interpretar isso literalmente, teremos que entender que Lula será condenado com mais dureza e com menos provas que Vaccari.
O jornal chega a citar a decisão de Moro contra Vaccari para explicar a necessidade de o magistrado ser mais “meticuloso”.
Segundo o Estadão, “A decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) de reformar a decisão de Moro e absolver o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso desde 2015, colabora com essa expectativa” – de Moro tomar mais cuidado ao escolher motivos para condenar Lula.
O jornalão da família Mesquita, antilulista há mais de 30 anos, reconhece só parte da dificuldade de Moro para condenar Lula, mas reconhece:
“(…) Tanto no Judiciário paranaense quanto no entorno de Lula, a notícia [da absolvição de Vaccari] foi interpretada como um sinal claro do tribunal de segunda instância para a Lava Jato (…)”
A pérola do texto, porém, vem a seguir:
“(…) Fontes próximas a Moro (…) avaliam que, para condenar o petista, o juiz teria de aplicar a teoria do domínio do fato, alegando que Lula tinha controle sobre tudo o que acontecia. Do contrário, as provas recaem sobre a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro em decorrência de um aneurisma cerebral – foi Marisa quem decidiu comprar uma cota da Bancoop no prédio do Guarujá e quem mais vezes esteve no imóvel”
Para os mais leigos ou mal-intencionados, o ato de decidir comprar o modesto imóvel no Guarujá é um mal em si mesmo. Vão condenar a falecida dona Marisa pelo domínio do fato? Vão condenar Lula por ter controle sobre o governo federal mesmo estando fora do Poder desde 2010?
Moro vai pisotear a falecida mesmo? Porque o Estadão já massacrou com essa matéria nojenta. Enfim, são esbirros da ditadura que se instalou no país. O trabalho deles é torturar os adversários políticos. Hoje em dia, torturam psicologicamente.
Mas há outra razão mais forte para a dificuldade de Moro condenar Lula: o caso Aécio Neves. O povo em geral nem sabe quem é Vaccari Neto, mas todos viram, ao vivo e à cores, o caso do tucano ser abafado pelo Supremo. Uma condenação de Lula agora provocaria revolta até em quem não é petista.
Moro está esperando as pessoas esquecerem de Aécio para condenar Lula. Porém, tanto faz condená-lo agora ou daqui a um mês. Aliás, quanto mais tempo demorar, mais a candidatura do petista ficará consolidada, na medida em que não houver mais tempo hábil para condená-lo em segunda instância antes das eleições de 2018.
Na verdade, a julgar pelo que as ofensivas de Moro contra Lula vêm causando politicamente a este, talvez fosse até bom que houvesse mesmo essa condenação…
Explico: em 19 de março do ano passado, duas semanas após a condução coercitiva de Lula, segundo o instituto Datafolha a rejeição dele era incomparavelmente mais alta do que hoje. À época, 57% dos eleitores não votariam no petista.
A partir daquele março fatídico, a vida de Lula virou um inferno que culminou com a morte da companheira no início deste ano. Porém, ao passo que ataques da mídia, de Moro e do MPF a Lula aumentavam, a popularidade dele passou a subir e a rejeição passou a despencar.
Em dezembro de 2016, segundo o mesmo Datafolha, a rejeição ao ex-presidente caíra a 44% – 13 pontos percentuais a menos. E, em nova pesquisa desse instituto publicada na semana passada, a rejeição a Lula estaria hoje em 46%, um aumento de 2 pontos percentuais em relação a dezembro, dentro da margem de erro da pesquisa.
Aliás, essa pesquisa também sinalizou 1 ponto percentual a menos nas intenções de voto de Lula em alguns cenários, tudo sempre dentro da boa e velha margem de erro.
O fato é que não houve efeito algum da nova ofensiva da Lava Jato contra Lula. O único efeito é que as intenções de voto dele são as mais altas e, em alguns cenários, ele poderia se eleger em primeiro turno.
Está ficando claro para o país que há uma perseguição a Lula enquanto os Aécios e os Temeres da vida são tratados como bibelôs por essa justiça partidarizada e defensora dos ricos e de seus despachantes na política. Desse modo, condena mesmo Lula, Moro. Use essa teoria de “domínio do fato” ou o diabo que o valha. Ficará tudo muito mais claro para a sociedade.