Lucas Terra foi morto com requintes de crueldade em 2001. Na época a vítima tinha 14 anos
Em uma cruzada para ver presos os três acusados pela morte do filho, um pai atravessa as fronteiras do País em busca de justiça. Em viagens que incluem até um apelo à Organização das Nações Unidas (ONU), na Suíça, a via-crúcis já contabiliza quase duas décadas e cerca de 120 mil km mundo afora – o equivalente a três voltas no planeta.
É o que conta Carlos Terra, 62, no recém-lançado ‘Lucas Terra – Traído pela obediência’ (EGBA, R$ 30), livro no qual narra em detalhes sua luta para esclarecer o crime brutal do qual o filho, Lucas Vargas Terra, foi vítima, em 21 de março de 2001, aos 14 anos.
“Creio que, um dia, esses covardes cairão derrotados e envergonhados. E, se não pagarem por seus crimes aqui, pagarão na eternidade”, afirma Carlos Terra, logo na introdução. Em 330 páginas, a publicação mostra, sobretudo, os vários capítulos e reviravoltas do caso, que se arrasta há mais de duas décadas sem desfecho.
O autor, que chegou a concluir a Faculdade de Direito para se inteirar de todo o processo, também traz à tona a crueldade com que teriam agido os suspeitos: conforme laudo pericial, Lucas foi amarrado, amordaçado, violentado e queimado vivo. “Não há fim lucrativo. O objetivo é lutar por justiça e contar fatos que a imprensa e a sociedade não tiveram acesso”, afirma Carlos Terra, que conta com a ajuda da mulher, Marion Terra, 59, na divulgação do livro.
“Queremos trazer o o caso à memória da sociedade. O que aconteceu com Lucas não pode ficar impune de jeito algum”, diz a mãe do garoto. ‘Lucas Terra – Traído pela obediência’ pode ser adquirido pelo e-mail carlosterra@hotmail.com.
Mais dois vão a júri
Em novembro de 2005, o então pastor Silvio Roberto Santos Galiza foi apontado como autor do assassinato de Lucas. Levado a júri popular em duas ocasiões, foi condenado a 18 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado. Em 2006, uma reviravolta no caso: Galiza, que hoje cumpre o resto da pena em regime aberto, acusou Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, membros da Igreja Universal, como culpados.
Em novembro de 2013, a juíza Jelzi Almeida, porém, os inocentou, sob a justificativa de que não havia provas suficientes. Em setembro último, após recurso da acusação, o Tribunal de Justiça reformou a decisão e entendeu que ambos irão a júri.
STJ vai apreciar recurso
O advogado César Faria, que atua na defesa de Fernando e Joel, informou ter ingressado com um recurso especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por, segundo ele, haver contradições na denúncia oferecida pelo Ministério Público. “Não há cabimento em acusá-los, uma vez que a denúncia nunca soube dizer qual o motivo do crime.
Em cinco depoimentos, Silvio Galiza apresentou versões diferentes para transferir sua responsabilidade”, diz. “Vamos arguir a nulidade do processo, pois essas contradições não permitem a realização do júri”. Os acusados aguardam em liberdade.
“Mais uma manobra”
O advogado Daniel Keller, que representa a família de Lucas, diz que o recurso levado ao STJ “é mais uma manobra da defesa para ganhar tempo”. “Acredito que esse recurso não vá prosperar. O TJ-BA reformou a decisão por entender que há, sim, fortes indícios sobre os acusados. O MP já apontou que é praticamente impossível Galiza ter cometido o crime sozinho. O julgamento vai ocorrer, mais cedo ou mais tarde”, pontua.
O promotor David Gallo, por sua vez, explica que o recurso em questão não tem poder para barrar o júri. Ele também define o instrumento como “manobra protelatória”. “A defesa recorre de tudo em busca da prescrição. Não há outra explicação. Infelizmente, nossas leis favorecem criminosos”, critica. Procurado, o TJ-BA não se posicionou até a conclusão desta edição. A reportagem não conseguiu contato com a Igreja Universal nem com a defesa de Silvio Galiza.
Fonte: A Tarde