m menino de 12 anos, morador do bairro da Vila Laura, em Salvador, sofreu racismo nas redes sociais, na última quarta-feira (27), ao ser agredido verbalmente por um perfil fake.
Fã de literatura, Adriel Bispo criou, há dois anos, o Instagram “Livros do Drii”, que fala sobre a paixão dele por livros. Segundo a mãe dele, a dona de casa Deise Oliveira, Adriel tinha poucos seguidores, apenas amigos e familiares, até que um perfil fake enviou uma solicitação de mensagem: “Porco gordo. Eu achava que preto era para estar cavando mina, não lendo. Para de ser trouxa e volta para a sua realidade, seu merda. Você foi criado para ser pobre e preto”, diz o conteúdo enviado.
Mesmo triste com a situação, Deise recomendou que Adriel não se importasse com as ofensas. “Não tenha vergonha de ser negro. Nós somos guerreiros, somos sobreviventes”, aconselhou ao filho.
Após escutar as palavras da mãe, o menino decidiu divulgar o print, sem revelar o perfil do agressor, e respondeu às agressões.
“Fui criado com educação o suficiente para não ligar para esse tipo de coisa, mas, se fosse com outra pessoa e ela não tivesse o mesmo pensamento que eu, isso poderia acabar com o psicológico dela. O racismo e o preconceito ainda têm uma taxa muito alta, mesmo na sociedade atual em que nós vivemos. E isso é uma coisa muito ruim, já que 50% da população de hoje são pessoas negras. As pessoas têm que parar e pensar porque fazem esse tipo de coisa. Isso não me afeta, mas poderia afetar outra pessoa. Pensem”, publicou o menino.
O fato repercutiu nas redes sociais e Adriel viu o número de seguidores chegar a mais de 422 mil, em pouco menos de três dias.
A repercussão foi tanta que ele recebeu o apoio de anônimos e famosos, como a escritora Thalita Rebouças, o ator Bruno Gagliasso e a vencedora do BBB 20, Thelma Assis. “Fiquei chocado quando Thelminha falou comigo”, celebrou o garoto, em entrevista ao BNews.
Amor pelos livros – A paixão pela leitura começou quando Adriel tinha 5 anos de idade. “Na época, houve uma oportunidade para ele ganhar uma bolsa em uma escola particular, mas para isso ele precisava saber ler”, contou a mãe do menino. Foi aí que uma professora que dava banca no bairro, Rita de Cássia, se ofereceu para dar aulas para ele.
Adriel aprendeu a ler e conseguiu a bolsa, mas acabou não entrando na escola, pois os livros didáticos eram muito caros. “Tinha que pagar R$ 1.500 em livros. Eu não tinha condições”, lembrou Deise.
Hoje, o menino é aluno do Colégio Estadual Brigadeiro Eduardo Gomes, no bairro de Matatu de Brotas, e mora com a mãe e o padrasto.
“Ele é meu xodó, minha respiração”, se derrete a mãe e diz que não tem pretensão de processar a pessoa que escreveu as ofensas no Instagram. “Ele já excluiu, já bloqueou. Não preciso de mais problema. Só quero que ele seja uma pessoa de bem”, garante.
Apaixonado por livros de fantasia e leitor assíduo de John Green e Morgan Rhodes, Adriel conta que quer ser jornalista ou biólogo quando crescer. Enquanto isso, o jovem aproveita a fama repentina e já tem até fã clube. “Ele está recebendo muito amor e muitos livros. É isso que eu quero, que ele estude muito para ser alguém na vida”, ressaltou a mãe do garoto.