Com índice percentual de 1,2 numa escala que vai de 1 a 3,9, Lauro de Freitas seria hoje um município em situação de “alerta” para a ocorrência de dengue, zika e chikungunya, mas longe do risco de viver um surto. É o que garante o último Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa), divulgado em novembro.
A informação é do Ministério da Saúde, que trabalha com dados fornecidos pelos próprios municípios. Uma das mudanças no LIRAa este ano é que a notificação da situação de infestação é compulsória. Quem não faz o registro, fica sem a segunda parcela do Piso Variável de Vigilância em Saúde. Mesmo assim, dos 5.570 municípios brasileiros apenas 3.946 forneceram informações. Desses, 2.450 foram classificados como satisfatórios, 1.139 estão em alerta e 357 estão em situação de risco.
Cabe aos funcionários municipais visitar os imóveis da cidade para levantar o “índice de infestação predial” (IIP). Acima de 4% dos imóveis infestados há risco de surto. Salvador, município conurbado a Lauro de Freitas, também está em alerta, mas com índice maior: 2,3. Já Camaçari, outro vizinho, beira o risco de surto, com IIP de 3,9%. O ministério não divulgou os índices por região da cidade, que podem variar consideravelmente.
O armazenamento de água no nível do solo (doméstico), como tonel, barril e tina, foi o principal tipo de criadouro de larvas encontrado nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. O retrato de Lauro de Freitas, Salvador e Camaçari segue essa tendência, mas um terço dos criadouros locais está em depósitos móveis, caracterizados por vasos/frascos com água, pratos e garrafas retornáveis, que são predominantes no Sudeste. Nas regiões Norte e Sul o maior número de depósitos encontrados foi em lixo, como recipientes plásticos, garrafas PET, latas, sucatas e entulhos de construção.
No dia 8 de dezembro acontece o Dia D de mobilização contra o Aedes, com ações de limpeza em residências, estabelecimentos privados e órgãos públicos. Outra ação anunciada foi a compra de 650 equipamentos de nebulização para espalhar inseticidas. O Ministério da Saúde afirma ter assegurado o fornecimento dos larvicidas Malathion e Pyriproxyfen para eliminar o mosquito nos estados até o ano que vem.
O Malathion é um inseticida autorizado para uso no Brasil, mas pode causar efeitos cancerígenos conforme organizações como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Questionado sobre o uso da substância, o ministro da Saúde Ricardo Barros disse que ela é segura.
A boa notícia é que entre janeiro e novembro deste ano as notificações de doenças transmitidas pelo Aedes tiveram queda na comparação com o mesmo período de 2016. Os casos de dengue diminuíram 83,7%, assim como os óbitos, que tiveram redução de 82,4%.
Já os registros de zika foram 92,1% menores e a taxa de incidência passou de 103,9 por 100 mil habitantes no ano passado para 8,2 por 100 mil em 2017. As notificações de chikungunya também seguiram essa tendência de queda e tiveram redução de 32,1%.
A má notícia é que a zika não é mais a única infecção por arbovirose a ser considerada letal para um bebê em desenvolvimento. Um estudo científico detectou que a dengue também pode representar um risco à vida do feto. Ter dengue durante a gestação quase dobra a probabilidade de um bebê nascer morto ou morrer durante o parto, enquanto a dengue severa aumentaria em cinco vezes as chances de um natimorto – nome dado à morte do feto acima de 500g dentro do útero ou durante o parto.
O achado, publicado na edição de setembro do periódico The Lancet, foi obtido a partir da análise dos registros de sistemas de informações brasileiros. Para chegar a tais resultados, os pesquisadores cruzaram os dados de mais de 162 mil natimortos e 1,5 milhão de nascidos vivos, sendo que, desses, 275 natimortos e 1.507 nascidos vivos tinham sido expostos a dengue. Este é o primeiro estudo realizado em larga escala a demonstrar a associação. Apenas um estudo anterior, com uma pequena amostra de um hospital, indicou a relação entre a infecção e natimorto.
O artigo contou com a autoria de pesquisadores da Fiocruz Bahia em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/ UFBA), Universidade de São Paulo (USP) e da London School of Hygiene & Tropical Medicine, no Reino Unido.