O professor Gúbio Soares | Foto: Divulgação / Assufba
Subiu para 52 o número de pessoas acometidas na Bahia pela doença misteriosa que vem intrigando pesquisadores e autoridades em saúde pública desde dezembro. A informação foi confirmada à Satélite pela diretora da Vigilância Epidemiológica da Sesab (Divep), Maria Aparecida Araújo. Somente na última semana, foram contabilizadas 22 novas vítimas, de acordo com o balanço atualizado na sexta-feira passada pela Divep. No total, 50 pacientes de Salvador apresentaram os sintomas da enfermidade: dores musculares intensas que surgem subitamente no pescoço e tórax, acompanhadas de urina escura em alguns. Outros dois vieram de Lauro de Freitas e Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, cujo paciente acabou morrendo. “Nesse caso específico, o óbito não foi causado pela doença. Ele certamente possuía outras comorbidades (patologias). Era hipertenso, por exemplo”, assegurou Maria Aparecida.
Sob suspeita
Familiares do paciente de Vera Cruz afetado pela doença, cujo nome e idade não foram informados pela Divep, contaram aos médicos que os sintomas surgiram após ele ter comido peixe assado em uma barraca de praia da Ilha de Itaparica, mas não souberam informar o tipo. Coincidência ou não, grande parte dos primeiros casos registrados se refere a pessoas que também ingeriram peixe antes do surgimento das dores musculares. Os pesquisadores e técnicos da Sesab evitam relacionar a doença à contaminação alimentar através de pescados, mas não descartam a hipótese.
Os exames para identificação do surto ocorrido em dezembro, causando dores musculares e urina preta, estão atrasados por falta de verbas para a compra de reagentes químicos. Segundo informações do jornal Correio, o professor Gúbio Soares, do Laboratório de Virologia da Ufba, afirmou que está próximo de identificar o microorganismo relacionado ao surto, mas que falta dinheiro para a pesquisa. “Encontramos indícios de dois vírus nas fezes de pacientes. A única dúvida é se é um ou outro”, disse o professor. Para concluir a apuração, é necessário o uso do reagente para realizar o sequenciamento do material genético do vírus. “Fazer esse sequenciamento é caro. Um reagente desses custa em torno de R$5 mil. É um material importado. A Ufba não tem dinheiro”, informou. Foram encontrados indícios de Enterovírus e Parechavírus. “É muito importante identificar o vírus e notificá-lo às autoridades”, avalia.
Segundo nota técnica divulgada nesta quarta-feira (4) pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), dezenas de casos suspeitos de mialgia aguda (dores musculares) foram registrados entre 14 e 30 de dezembro, nos municípios de Salvador, Vera Cruz e Lauro de Freitas. As prefeituras e a Sesab investigam as ocorrências.
Em dezembro, chegou a ser levantada a suspeita de que a doença desconhecida esteja relacionada ao consumo de peixe. Gúbio Soares, por sua vez, acredita que deve concluir sua pesquisa entre o final dessa semana e início da próxima, adquirindo o reagente com uma empresa alemã que tem representante em São Paulo, postergando o pagamento. “Se for levantar a verba através de edital, vai demorar muito. Teria que elaborar um projeto. Não temos tempo. Vou conversar com a empresa e pago depois de fazer o projeto”, explicou o professor, que reclama da falta de apoio da Sesab. A pasta afirma que não foi procurada pelo pesquisador. Paralelamente, o infectologista Antônio Bandeira, do Hospital Aliança, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), investiga parte dos casos. Ele encaminhou amostras de fezes de pacientes e pedaços de peixes para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e para o Ministério da Saúde. Parte do material analisado pelo primeiro teve resultado parcialmente negativo e foi encaminhado para o Instituto Adolfo Lutz em São Paulo.
Fonte: Correio da Bahia