Estudantes da rede municipal, integrantes de movimentos populares, moradores de ocupações urbanas e artistas que expressam os sentimentos das comunidades de Lauro de Freitas tiveram espaço na tarde desta quarta-feira (05), para dialogar sobre suas experiências, cotidiano na periferia e a partir de suas necessidades propor contribuições durante a Caravana Participativa. As proposições colhidas no encontro, realizado no Cine Teatro, nortearão a formulação do Plano Juventude Negra Viva (PJNV) com políticas de enfrentamento a violência praticadas contra essa população.
Em parceria com o Comitê Municipal de Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial e da Secretaria Municipal de Juventude, o município foi o primeiro do Brasil a realizar uma etapa livre. A iniciativa coordenada pelo Ministério da Igualdade Racial percorrerá todos os estados do país para colher os relatos e contribuições na construção coletiva do PJNV. “Já passamos por oito estados e este é o primeiro município a realizar seu momento de escuta com metodologias que se adequam a realidade desta região. Toda contribuição tem sido muito importante para a construção do Plano e para que ele seja fruto a partir de uma perspectiva autônoma da sociedade civil a partir das experiências vivenciadas por elas”, explica Luiz Paulo Bastos, coordenador de Política para Juventude Negra do Ministério da Igualdade Racial.
Além dos debates, o filme ‘Sem descanso’ relatou a semelhança entre a dor de famílias enlutadas pela violência vivida friamente dentro de suas casas. Na tela a vida de Geovane, em 2014 o jovem foi abordado e preso pela polícia militar e desde então nunca mais foi visto com vida. O documentário mostra a luta do pai de Geovane, seu Jurandir, que não descansou até descobrir o que tinha acontecido com seu filho. O curta abriu o debate sobre os fundamentos históricos da violência policial do Brasil, uma das mais violentas do mundo, fazendo vítimas principais jovens negros.
Assim como na tela no Cine Teatro a vida de Geovane, brutalmente interrompida foi demonstrada em vídeo, na plateia centenas de mães e pais, famílias inteiras de jovens que tiveram o mesmo triste desfecho se identificavam com o descaso nas apurações, na falta de informação do paradeiro dos corpos e motivações dos crimes. ” Eu não sou a primeira mãe que teve seu filho morto dessa maneira e tenho certeza que infelizmente não serei a última. Já fazem oito anos que meu filho Davi foi sequestrado e morto pela polícia militar da Bahia e o Estado não me deu o direito de enterrar meu filho. Entendo a dor de todas as mães que estão aqui, nós fazemos do luto nossa luta. Nós também estamos aqui para falar de esperança em dias melhores “, declarou Rute Fiuza, mãe de Davi, morto em 2014.
Um questionário foi preenchido pelos participantes, nele poderiam ser apontados os principais problemas dos bairros de modo geral e relacionado especificamente a segurança pública. “Lauro de Freitas assume esse protagonismo nacional e a partir do questionário ou das pessoas que utilizaram o microfone nós dizemos ao Ministério quais são as demandas específicas desta cidade. O grito da juventude negra de Lauro de Freitas faz uma ressonância para este lugar de ouvir”, frisou o integrante do Comitê Municipal de Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial, Ricardo Andrade.