Por Shayana Busson
Na análise dos Planos de Governo dos candidatos ao Estado da Bahia, a temática das mulheres aparece estampada e repetida em suas 324 páginas do total, 200 páginas do Plano de ACM, e 124 do Plano de Jerônimo.
Chama atenção, no Plano de Governo de Jerônimo, o nível de diversidade de ações propostas para o enfrentamento de “questões femininas”, propostas essas que não se resumem a projetos diretos de proteção à vida das mulheres, tão importantes, como ampliação de delegacias específicas, centros especializados de atendimento às mulheres em situação de violência, casas de abrigo ou rondas.
Na Bahia, o governo do campo da esquerda está prometendo a essa parcela da população: maior oferta de editais em campanhas de sensibilização contra machismo, cursos de capacitação em gênero, incentivos em projetos liderados por mulheres, compra de equipamentos para empreendimentos das mulheres, plataformas comerciais, programa de dignidade menstrual, permanência de mães estudantes, economia solidária e cooperativas que priorizem iniciativas femininas.
Já ACM Neto, propõe quase as mesmas políticas de combate à violência contra mulheres que Jerônimo, mas acrescenta a continuidade de seu projeto de “rede de observatório de segurança”, além disso, defende maior acesso delas ao mercado de trabalho, cotas para mulheres no emprego, salários iguais para homens e mulheres, apoio ao empreendedorismo feminino, reformas de até 7 mil em casas prioritariamente chefiadas por mulheres, políticas de microcrédito, e núcleos de produção associativa feminina, tudo também citado, em outras palavras, por Jerônimo.
Jerônimo parece mais robusto na defesa da mulher, enquanto ACM dá uma enrolada ao falar de projetos que já existem, e que não são exatamente da alçada do governo, como: comissões de mulheres na OAB, no MP e em “outras entidades”, Hã?
No campo da saúde da mulher, é mais emblemática a diferença entre 2 projetos políticos, enquanto ACM Neto advoga muito genericamente por uma saúde integrada e especializada da mulher e por zerar a fila de espera para atendimento de alto risco, Jerônimo fala de algo interessante: a criação de uma plataforma eletrônica de saúde que acompanhe mulheres suspeitas de câncer de colo, de mama e cirurgia de endometriose.
Acho, de um modo geral, que o Plano de Governo de ACM, apesar de conter 76 páginas a mais que o de Jerônimo, é panfletário e superficial ao falar da mulher, não demonstra conhecer a fundo os problemas femininos.
Jerônimo inova ao colocar a questão da mulher na ciência e na tecnologia (debate universitário em foco no momento), trata de direitos sexuais e reprodutivos, faz referência às mulheres com deficiência, pautas totalmente ausentes em ACM.
A sensação é que na criação dos Planos de Governos desses candidatos, Jerônimo teve intensa participação feminina, enquanto ACM deixou as baianas de lado e se trancou num gabinete cheio de rapazes.
Shayana Busson- é escritora doutoranda da Ufba em gênero e ciência