Com a proximidade das eleições municipais de 2024, o PDT na Bahia está intensificando suas articulações políticas, enfrentando desafios e buscando estratégias para garantir sua presença e influência em diferentes municípios do estado. Em entrevista à Tribuna, o presidente estadual Félix Mendonça Jr, destacou alguns dos pontos-chave dessa movimentação partidária. Ele revelou tensões dentro da aliança política do PDT, especialmente em relação à filiação de Débora Régis pela União Brasil, movimento que causou incômodo dentro do partido. Félix expressou sua insatisfação, descrevendo o ocorrido como um “movimento de um partido que não respeita os aliados”, o que pode comprometer alianças futuras. O deputado federal também antecipou ainda a visita do presidente do PDT, Carlos Lupi, a Salvador, indicando uma reunião do partido com autoridades locais, incluindo o prefeito da cidade. O deputado também falou sobre projetos de lei de sua autoria, incluindo um que autoriza o controle de preços e produção de insumos durante crises de saúde, e outro que permite que juízes tomem decisões anônimas em casos violentos.
Tribuna – Como estão as articulações do PDT com vista às eleições municipais em 2024? Em Salvador, inclusive, o PDT ficou com três vereadores nesse processo de filiação.
Félix Mendonça Jr – Nós temos diversos municípios. Não são muitos, são poucos os municípios que o PDT tem prefeito. Nós temos, por exemplo, alguns municípios, como o Euclides da Cunha com Luciano Pinheiro é prefeito e deve fazer o sucessor. Nós temos a vice-prefeita aqui em Salvador. E nós temos outros municípios novos, a exemplo de Irecê, onde a gente chegou com o presidente da Câmara, Figueiredo. Que é vizinha também de Morro Chapéu, onde a gente também tem a prefeita Juliana concorrendo pelo PDT. Então, a gente tem diversos pontos da Bahia, as cidades importantes como Irecê, aqui em Simões Filho vamos ter vice. Temos diversos pontos que a gente deve eleger – fora os vereadores, que são tão importantes quanto você eleger o prefeito.
Tribuna – Esse movimento que o União Brasil fez pela filiação de Débora Regis causou algum incômodo no PDT?
Félix Mendonça Jr – É um movimento que seria encarado como se fosse um partido de oposição. É claro que o partido de oposição tenta fazer esse movimento. Tirar o seu candidato. Mas o movimento foi feito pelo, então, partido aliado. Eu digo, então, porque um movimento desse não pode ser encarado como de partido aliado. Então, você reage com estranheza. E sem nenhuma justificativa, sem nenhuma conversa, sem nada, é um movimento de um partido que não respeita os aliados. Então se o partido não respeitar o aliado, estamos fazendo alianças pontuais. Vamos continuar com alianças pontuais, mas ninguém pode esquecer que em 2026 vem a aliança mais global, que é a aliança de governo. E essa então fica deteriorada com esse movimento.
Tribuna – Esse movimento que o União Brasil fez pode comprometer a aliança no futuro, nas próximas eleições de 2026?
Félix Mendonça Jr – Já comprometeu.
Tribuna – Em Lauro de Freitas especificamente, o que mudou? Como é que o PDT vai se posicionar nesse ano?
Félix Mendonça Jr – O PDT sofreu um golpe. Isso aí não deixou de ser um golpe. Faltando um ou dois dias para as eleições, para o final do prazo de filiação. A única coisa que o partido pode fazer é ficar parado. Não vai ter nenhum candidato a vereador, nem a prefeito e nem a vice. O partido ficou na prateleira mais alta em Lauro de Freitas. Mas não há nada melhor do que uma eleição após a outra.
Tribuna – Bruno Reis falou que pode anunciar a confirmação da candidatura à reeleição juntamente com a vice. Ele já conversou com o PDT mais formalmente sobre essa questão?
Félix Mendonça Jr – Não, é porque ele disse que cabe ao PDT indicar candidatos do PDT. Assim como cabe a outros partidos indicarem seus pré-candidatos. O PDT está aí com a candidatura de Ana Paula Matos. E nós também vamos receber aqui no dia 26 o presidente Carlos Lupi em Salvador. Ele vem para um evento e vai aproveitar e ter uma reunião do partido com a gente e também com o prefeito de Salvador e, provavelmente, com o Governo do Estado.
Tribuna – Por falar nisso, o senhor acha que esse cenário nacional, não só nacional, mas estadual também, de impopularidade de Lula e de certa forma ter um pouco de Jerônimo na questão da educação e segurança, vai influenciar o eleitorado?
Félix Mendonça Jr – É claro. Você lembra daquele fenômeno dos fiscais de Sarney, quando o MDB ganhou no Brasil inteiro? Estava todo mundo contra a remarcação de preços, todo mundo fiscalizando. E aquilo foi a maior vitória que o MDB teve em todo o Brasil. Então a economia e a segurança influencia diretamente na eleição.
Tribuna – A articulação política do Planalto, na sua opinião, ainda continua problemática?
Félix Mendonça Jr – Para mim, continua problemática porque o governo passou o primeiro ano de euforia. Ganhou uma eleição, tal… E não pensaram nada. Apenas falar que ganhou a eleição, que passou o ano inteiro com a vitória, com a euforia da vitória. Nós estamos no segundo ano já. E agora parece que está caindo a ficha. Cai na ficha do governo para ver que a economia não anda tão bem. E que nenhuma população fica satisfeita com a economia patinando. As pessoas querem progredir e que seus anseios de uma eleição sejam alcançados. E não é isso que a gente está vendo.
Tribuna – A gente vê também que, dentro do próprio governo, existem correntes que estão em disputa. Por exemplo, em relação à questão da Petrobras. O senhor acha que isso também pode causar danos para a economia e para o próprio governo?
Félix Mendonça Jr – Acho que não. Se o governo souber, tiver um curso, essa disputa interna vai ser superada. Não é problema, né? Porque o governo tem um sistema presidencialista. Então, mesmo a disputa, a decisão é do presidente, é do governador, é do prefeito. Agora, se o presidente não decidir… até o momento de ele ficar na indecisão, gera uma crise. Se essa decisão for errada ou se for tardia essa crise pode não ser recuperada. Então, no sistema que nós vivemos, que é uma democracia no sistema presidencialista, a decisão cabe ao presidente e ele está retardando um pouco essas decisões.
Tribuna – Essa semana a Comissão de Defesa de Consumidor aprovou um projeto de sua autoria que autoriza o poder Executivo a controlar preço e assumir diretamente a produção e transporte de insumos e produtos considerados essenciais para endemias e pandemias. Do que se trata esse projeto?
Félix Mendonça Jr – Esse projeto é para, se nós tivermos, e Deus nos livre de termos um novo problema de saúde, um conflito. O governo passa a ter uma autoridade de pegar uma indústria e dizer ‘olha, você não vai fabricar mais esse produto aqui’ que é o produto que o Brasil está precisando. Então, isso é uma interferência do poder público, diretamente na indústria e na fabricante. Por quê? Porque é o bem da população em geral. Isso é um caso temporário. Ou seja, é uma pandemia em que brasileiros e brasileiras podem estar sofrendo, morrendo inclusive. O governo pode chegar e dizer ‘você que é uma fábrica disso aqui, você vai passar a fabricar respirador, você vai passar a fabricar aqui esse remédio que está necessitando’ independente da vontade, do lucro, do resultado daquela própria indústria. Isso é drástico, mas temporário e revertido após voltar à situação normal.
Tribuna – Tem um outro projeto seu em tramitação que permite a juízes tomarem decisões anônimas em casos violentos. O senhor acha que isso pode permitir que os juízes se sintam livres para cumprir a lei com rigor?
Félix Mendonça Jr – Se o juiz vai julgar lá na audiência de custódia um bandido conhecido, ele vai saber quem é o juiz que está julgando, onde os seus filhos estudam e onde sua mulher trabalha. Então, o juiz tem que preservar primeiro a si próprio e a sua família. Ele não vai ficar temeroso em exercer o poder público. Para que possa decidir sem o advogado do bandido ficar sabendo. Vai ser a mesma decisão justa, só que aquela pessoa que supostamente é o bandido não vai saber quem decidiu.
Tribuna – Fala-se muito em Elmar Nascimento como favorito para suceder Arthur Lira na presidência da Câmara Federal. O senhor acha que ele teria chances de vencer se a eleição fosse hoje?
Félix Mendonça Jr – Se a eleição fosse hoje, acho que Elmar seria presidente. Ele está na frente. Além do apoio de Lira, ele é independente. Ele não irá presidir ouvindo simplesmente o que o Governo quer ou ter um líder por trás dele dizendo o que tem que fazer. O líder dele serão os deputados. Claro que pode acontecer uma coisa e pode mudar. Ninguém vai querer uma pessoa subordinada ao Governo. São os deputados que vão eleger. O presidente tem que resguardar a Casa como um dos poderes do Brasil. E isso o Elmar está indicando que fará muito bem.
Tribuna – O senhor acha que Antônio Brito, sem o apoio de Arthur Lira, conseguiria se cacifar para poder disputar e talvez até ter chance de vencer?
Félix Mendonça Jr – Eu gosto muito de Antônio Brito, é um bom rapaz, mas ele não tem essa força por si só. A força dele está no partido dele, está no Kassab, está em outra liderança do partido. E do Governo, ele já declarou por diversas vezes que ele é um deputado governista. Então, a gente não quer nenhum deputado governista ou oposicionista da presidência da Casa. Isso não importa. A gente quer um deputado independente, que possa presidir com independência em um dos poderes. Por que o deputado tem que ser governista ou tem que ser oposicionista? Não tem que ser, não. Ele tem que ser independente e presidir outros poderes, como é o presidente da República e o presidente do poder Legislativo tem que ser assim também.
Tribuna – O que o senhor achou dessa aprovação do Senado desse projeto que criminaliza o porte de qualquer quantidade de droga?
Félix Mendonça Jr – Veja bem. É uma redundância do que existe na Constituição. Se a droga é proibida, ela é proibida em qualquer quantidade. Na verdade, aí é o Poder Judiciário que está legislando. Dizendo ‘não, é proibido, mas a quantidade assim assado’ ela deixa isso ser crime. Quem disse isso? O Poder Judiciário não pode dizer isso. Tem que ter lei. E o que está se aprovando lá é uma lei pra dizer, ‘não, vocês estão legislando o que não é de sua competência, por isso, está tendo que ter uma lei dessa’. Para dizer que qualquer quantidade é crime e não é admitido.
Tribuna – O Governo da Bahia tem combatido a violência, que se mostra cada vez mais tensa?
Félix Mendonça Jr – Infelizmente, o Governo do Estado não está adotando as práticas que deve adotar para conter a violência na Bahia. A violência se dá nos grupos marginais, a violência está no afrontamento às leis do país. Tem grupos que dizem ‘vamos invadir e é isso mesmo’. E aí o Governo do Estado está lá apoiando. Você não pode apoiar a invasão, quando o Estado pode fazer, sim, a reforma agrária, por exemplo. Isso é uma forma de violência também. Mas tem outras violências, como deixar bandidos organizados invadirem e tomarem conta das cidades. A lei tem que ser cumprida na Bahia. Bandido não pode se sentir bem. O bandido não pode achar que a Bahia é um lugar de se viver. A Bahia tem que ter tolerância zero.
Por Henrique Brinco
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