São tão frequentes – e tão inúteis para encaminhar uma solução duradoura para a falta de segurança no Estado – que nem deveriam chamar atenção. Em 2018, a intervenção de Temer chama atenção por um efeito colateral interessante para o governo.
Permite esconder a grande derrota política de sua existência, que envolve o fiasco anunciado na reforma da Previdência. Isso porque o artigo 60 da Constituição veta a aprovação de emendas durante períodos de intervenção federal, estado de sítio e estado de emergência. Em função disso, o governo poderá fingir que a reforma não foi derrotada – apenas que não foi votada. Um consolo, para fez tantas promessas a seus patrocinadores.
Ao deslocar as Forças Armadas para fazer o papel de polícia Temer também pratica seu esporte favorito, que é agradar o governo dos Estados Unidos.
Um dos dogmas de estratégia de superpotência de Washington consiste em convencer governos aliados do Continente a rebaixar seus militares para tarefas de combate ao tráfico de drogas e outros crimes, deixando os conflitos entre Estados e missões mais relevantes para as tropas dos EUA.
A teatralidade da intervenção tem a finalidade óbvia de tentar garantir algum oxigênio para um presidente incapaz de sair da UTI dos recordes de impopularidade. Apresentar-se como um presidente que se ocupa da segurança de um Estado que é cartão postal do país é uma alternativa clara de quem procura sair bem na foto – em qualquer foto.
Um ponto importante do decreto é que o general Braga Netto irá prestar contas diretamente ao Planalto, o que lhe permitirá compartilhar possíveis sucessos e façanhas.
Numa conjuntura como a atual, essa atuação é vista como a última esperança de Temer encontrar um lugar ao sol no deprimente fim de feira que se transformou seu governo, incapaz de nomear uma simples ministra do Trabalho.
Depois da segunda desistência de Luciano Hulk, com um Geraldo Alckmin que não sai do chão, e uma Marina Silva que desperta cada vez mais desconfiança é preciso reconhecer um fato relevante. Faltam seis meses para o registro das candidaturas e o golpe está sem candidato. Mesmo balões de ensaio na linha Rodrigo Maia – e coloque-se balões nisso aí – não têm ânimo para se apresentar pelo alto risco.
Nessa condição, a candidatura Temer apoia-se numa necessidade óbvia. Mesmo dificílima, impossível em qualquer levantamento profissional, trata-se de sua chance de manter o foro privilegiado e livrar-investigações a partir de 2019.
Num país com instituições estropiadas como o nosso, no qual o mais popular candidato a presidente da República pode ser retirado da disputa numa condenação sem provas, é bom prevenir-se contra ideias fáceis e preconcebidas.
Pense, por exemplo, na possibilidade de Michel Temer estar de olho numa possível candidatura presidencial.
Pode rir. Eu, você, a torcida do Paraíso do Tuiuti temos certeza de que se trata de uma hipótese absurda. É mesmo. Já estou ouvindo as gargalhadas.
Mas, num país onde o voto direto tem sido humilhado todos os dias desde que Dilma Rousseff foi derrubada sem crime de responsabilidade configurado, não custa lembrar que mesmo os valores mais sólidos podem se desmanchar no ar.
Isso explica porque, em torno de assessores palacianos, a conversa presidencial de Temer tem se tornado mais frequente do seria saudável imaginar. Pode rir de novo.