Rio Joanes: cianobactérias foram encontradas em manancial que abastece Salvador
(Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO)
Uma inspeção da Vigilância em Saúde Ambiental (Visamb) da Prefeitura de Salvador detectou a presença de cianobactérias na bacia do Rio Joanes I, que serve ao Parque da Bolandeira, no bairro da Boca do Rio, onde ficam as Estações de Tratamento de Água Vieira de Mello e Theodoro Sampaio. A inspeção, feita pela primeira vez em Salvador, ocorreu nos últimos dias 19, 21 e 22 de outubro. Não há ainda informações sobre o nível de cianobactérias encontrado.
De acordo com a Portaria 2.914/2011, do Ministério da Saúde, nem todas as cianobactérias produzem cianotoxinas. Por isso, é necessário fazer uma análise da cianobactéria para detectar a presença de toxinas, cujo nível máximo aceitável na água é de 1 micrograma por litro. Segundo Ricardo Lourenço, subcoordenador da Visamb, no entanto, o que foi detectado foi um nível acima disso no manancial, antes de chegar à estação.
“No manancial, o nível é bem maior, o que impacta o tratamento da água. Para evitar que a cianotoxina chegue à rede de abastecimento, onde ela praticamente não deve existir, significa que vão ter que gastar muitos produtos químicos e esse gasto de material gera uma perda de qualidade da água. Quanto mais aditivos químicos você coloca, mais você impacta numa água que poderia ser mais pura”, alerta Lourenço.
Por isso, a presença das cianobactérias já preocupa a Vigilância em Saúde Ambiental, uma vez que toxinas liberadas por alguns tipos de cianobactérias podem deixar a água com odor e paladar desagradável. A depender da quantidade de cianotoxinas eventualmente encontradas na água, é possível que elas afetem o fígado e até o sistema nervoso, desde que tenham contato direto com a corrente sanguínea.
Em 1996, 60 pacientes que faziam hemodiálise no Instituto de Doenças Renais de Caruaru (PE) morreram porque a água utilizada no processo de hemodiálise estava contaminada por cianobactérias. Como a água utilizada pelas clínicas de hemodiálise de Salvador utilizam a água da Embasa, a prefeitura vem emitindo um alerta para que tenham mais atenção com a água utilizada nos aparelhos. “As clínicas recebem a água tratada e fazer um novo tratamento, mas o ideal é que elas cheguem livre de toxinas”, explica Lourenço.
“O que a gente notou é que nos reservatórios, principalmente a Bacia do Joanes, há uma ocupação desordenada no entorno, o que pode levar um risco maior de contaminação. Isso aí leva à acumulação de sedimento, produção de cianobactérias. O crescimento desordenado chegou ao um ponto crítico e a cianotoxina na água pode levar a uma contaminação que leva até à morte, como já ocorreu em Pernambuco”, completa o subcoordenador da Visamb.
Segundo ele, a Visamb fará uma reunião com a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa) ainda esta semana para tratar das ações a serem adotadas com o intuito de solucionar o problema. A Vigilância também notou, nas primeiras vistorias, que as tubulações que passam pelo subterrâneo de Salvador precisam de manutenção.
“Outra questão é a das tubulações, que estão relativamente gastas, o que precisa de uma manutenção melhor. Salvador é um grade subterrâneo de tubulações que suportam uma grande pressão de água. Transmitir essa pressão a uma tubulação gasta poderia ser uma grande tragédia anunciada e a nossa preocupação é evitar essa tragédia”, explica Lourenço. Ele destacou que a situação é mais crítica nas grandes adutoras, como a de Águas Claras, que rompeu em abril de 2015 e deixou 34 bairros sem água por mais de uma semana.
Reservatórios
Além das duas Estações de Tratamento de Água, até o mês de dezembro da Visamb vai fazer o mesmo tipo de inspeção nos 20 reservatórios de água que servem a cidade de Salvador. O órgão aguarda uma listagem dos reservatórios da Embasa e o georreferenciamento deles para iniciar a atividade, cuja primeira fase implica em uma fiscalização das estruturas e a segunda fase, em uma parte documental.
Outro relatório de fiscalização do sistema de abastecimento de água de Salvador – o 2º relatório, elaborado em junho deste ano pela Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa) – já havia apontado desconformidades com as determinações na Estação de Tratamento de Água que serve Salvador. As cianobactérias, no entanto, não tinham sido citadas.
De acordo com o documento, foi detectado armazenamento inadequado de materiais, necessidade de proteção das tubulações e substituição das grades de proteção, necessidade de proteção das instalações elétricas, um filtro fora de operação, instalações físicas degradadas, ausência de guarda-corpo, presença de vazamento, não utilização de todos os EPIs necessários à operação, necessidade de manutenção do guarda-corpo e do reservatório elevado, necessidade de capina periódica, descarte inadequado de resíduos, fixação inadequada de tubulações, além de ausência de tela de proteção no sistema de ventilação do tanque de contato e necessidade de manutenção.
A fiscalização da qualidade da água é determinada pelo Ministério da Saúde, mas nunca havia sido feita antes em Salvador, por parte da prefeitura, nos reservatórios e estações de tratamento. Em geral, a fiscalização é feita na água que chega às casas das pessoas. A partir de agora, a Visamb pretende fazer a vistoria nos reservatórios uma vez ao ano.
Embasa
Procurada pelo CORREIO, a Embasa informou que a presença de cianobactérias em mananciais de abastecimento público é normal e que o sistema Joanes I apresenta densidade de cianobactérias esperada para mananciais inseridos na matriz de expansão urbana de grandes cidades. [
“É importante salientar que a Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, que determina os parâmetros de potabilidade da água distribuída pela Embasa, não estabelece a densidade de cianobactérias como parâmetro de potabilidade. A norma exige, no entanto, que sejam obedecidos níveis de concentração de cianotoxinas, substância produzida pelas cianobactérias que, em concentrações acima dos limites estabelecidos pela Portaria 2.914, oferecem riscos à saúde humana”, explicou a empresa.
A Embasa disse ainda que a portaria 2.914 não estabelece valor limite para a concentração de cianotoxinas na água bruta do manancial, apenas na água tratada distribuída à população. “Ao longo de 2016, os resultados do monitoramento realizado nas estações de tratamento do Parque da Bolandeira (estações de tratamento de água Vieira de Melo e Teodoro Sampaio) demonstraram que as concentrações de cianotoxinas (microcistinas e saxitoxinas) estiveram bem abaixo dos limites estabelecidos como padrão de potabilidade, sendo que na maioria das amostras não foi detectada a presença de cianotoxinas na água bruta nem na água tratada”.
O órgão salientou que o controle de qualidade da água captada nos mananciais e produzida nas estações de tratamento da Embasa é feito por um laboratório central, em Salvador, por 13 laboratórios regionais, em cidades do interior, e 470 laboratórios locais, que funcionam nas estações de tratamento de água (ETA) ou nos escritórios municipais da empresa.
Sobre as tubulações, a Embasa disse que monitora a conservação de suas redes de água e de esgoto e que vem substituindo as tubulações antigas, paulatinamente.
Fonte: Correio da Bahia