Uma agenda de lives com os cantores favoritos nessa quarentena e os Stories do Instagram viram arena de disputa sobre quem bebe mais. Ainda não há dados consolidados sobre o aumento no consumo de álcool em casa nesse período de quarentena, mas é só chegar nos supermercados ou se atentar um pouco mais às redes sociais para perceber que tem muita gente se “afogando no álcool”.
Não à toa a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou autoridades e recomendou que limitassem o consumo dessas substâncias durante a pandemia. A preocupação da entidade internacional é para as consequências que beber demais pode trazer: piora nas condições de saúde, aumento dos comportamentos de risco, tendências à violência e problemas de saúde mental.
A psicóloga Priscila Rolemberg Duarte explica que entre esses problemas estão ansiedade, pânico, fobia e depressão.
“O que estamos vivendo hoje tem nos colocado em situações com as quais não estamos acostumados e não estamos sabendo lidar com o próprio isolamento social, a insônia, o medo de contrair o novo coronavírus, a falta de uma rotina, tédio e ansiedade”, enumera.
Recorrer ao álcool pode ser uma maneira perigosa de lidar com esse estresse, porque o relaxamento inicial para quem consome a bebida logo dá lugar à tristeza, ao medo e à solidão que tentavam se manifestar. A especialista alerta que o efeito é pior para quem tem diagnóstico de ansiedade e depressão, por causa do medo e angústias novos, diferentes dos já experienciados até aqui.
A memória que associa álcool a lazer, encontro com amigos e confraternizações pode explicar a tendência ao consumo exagerado em meio a essa crise. Mas Priscila reforça a importância de ressignificar essa lembrança.
“O álcool é apenas um ingrediente para esse lazer, para essa alegria, essa emoção que a pessoa está vivendo. Ele não é o único responsável pelo entretenimento. Consumir bebidas alcoólicas não vai resgatar ou fazer com que você vivencie na quarentena sensações de bem estar com pessoas que você estava acostumada a conviver. Álcool é apenas fuga da realidade, mas traz consequências nocivas para o nosso organismo e para a nossa saúde também”, acrescenta.
O que fazer, então
Se perceber que a dose está maior do que deveria e já causou os danos que você não gostaria, a psicóloga Priscila Duarte recomenda a busca pro ajuda especializada. Na psicoterapia, por exemplo, é possível identificar os motivos que levaram ao excesso e auxiliar na resolução desses conflitos, permitindo uma construção de maturidade capaz de lidar com as adversidades sem ser preciso recorrer à bebida.
Ainda nesse período de distanciamento social, algumas atitudes podem ser tomadas para aliviar o estresse. Ocupar a mente com atividades de lazer, cuidar da higiene pessoal e praticar atividades físicas em casa mesmo são algumas alternativas. Priscila cita também ler, assistir a filmes ou séries na TV, brincar com crianças, abusar da tecnologia com videochamadas para matar a saudade de amigos e familiares…
“Tudo isso pode ajudar no alívio do medo que a gente está vivendo hoje. Definitivamente, beber não é uma solução viável, muito pelo contrário. A gente tem que cuidar nessa quarentena da nossa saúde mental”, acrescenta.