A véspera de eleição tem sempre, apesar dos atos de última hora dos candidatos, um certo tom de reflexão.
Nesta, mais do que em outras, um reflexão silenciosa.
Não controlei o sorriso irônico ao, no carro, ouvir uma repórter de rádio usar, sobre o dia de amanhã, o velho bordão de “festada democracia”.
Não há um clima de festa – e bem que poderia haver, por estarmos afinal terminando um governo golpista e desastroso, abrindo o tempo de um novo governo, no qual pudéssemos renovar esperanças.
Não há esperança, há dois venenos no ar: o medo e o ódio.
Contra eles, cada um de nós está obrigado a injetar-se, nestas próximas horas, os antídotos da coragem e do amor pelo nosso povo.
Nossa elites financeiras, midiáticas e judiciárias, em nome de seus projetos mesquinhos, não hesitaram em reduzir a escombros o sistema político, sem o qual uma sociedade só pode ser tirânica e selvagem. Nunca deram atenção ao “efeito colateral” dos ataques ao “petismo”: a aniquilação de todo o centro e centro-direita, ao ponto de sobrar apenas um fanático tosco para representar a insatisfação que elas insuflavam.
Não deixaram, sequer, que se construísse uma tal “terceira via”, porque o que fizeram levou a todos de roldão.
O antipetismo foi tão cevado e fermentado que moldou um monstro.
Tanto que é possível sentir, mesmo na classe média com pouca ou nenhuma simpatia com o PT, diante do que construíram, um clima de medo do que daí pode vir.
Sentem, e com razão, que a vitória de um sujeito que aponta armas para todos, fala em matar, torturar, metralhar pode (e iria, com certeza) “soltar os bichos” da parcela mais violenta, mas estúpida, mais brutal das instituições e da sociedade, com um “liberou geral” para a truculência.
Ou, neste caso, as urnas não estariam dando licença para bater, dar porretadas, atirar em todos quantos considerassem “nocivos”?
O medo, porém, a nada nos leva senão à derrota, porque é a mais perfurante arma nas mãos de quem oprime: é a que fere fundo, na alma, e sem sequer uma lâmina, nos tira a capacidade de resistir e lutar.
Lutar, sim, porque é preciso primeiro ganhar uma batalha para, adiante, vencer a guerra.
Contra o medo, respire coragem: ligue para os amigos, fale com eles, divida as preocupações. Não se preocupe em ganhar votos, mas em tirá-los da aventura fascista que, tolamente, podem estar permitindo tornar uma hecatombe para as liberdade e para o convívio pacífico.
Nada é muito, nada é demais nesta hora em que, mesmo ainda remoto, a liberdade e a democracia estão em risco.
Não são coisas com as quais se brinque.