As pesquisas eleitorais às vezes são manipuladas, mas nem sempre. Quando realizadas perto dos pleitos, geralmente mostram tendências. Ainda que com reservas, é prudente considerar as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha, que apontam numa mesma direção. E não desconsiderar a da Record (1º de outubro) que indica outra direção.
Nas duas primeiras, Bolsonaro e Haddad saíram de um empate técnico na pesquisa anterior e abriram em poucos dias uma diferença de 10 e 11 pontos percentuais em desfavor do Haddad, em cada uma pesquisa. Não fica claro o quanto o Ibope apreendeu o impacto da extraordinária mobilização das mulheres do dia 29. A pesquisa foi feita entre o sábado e o domingo, e a grande mobilização foi no sábado. A pesquisa do Datafolha, contudo, já foi posterior às grandes jornadas. Fica a indagação: o efeito positivo das enormes passeatas não repercutiu?
O tempo já não permite muitas providências, mas cabem considerações e ajustes.
Examinando a pesquisa do Ibope em seus pormenores, vemos, estarrecidos, que o principal grupo onde o Bolsonaro cresceu foi o das mulheres, onde saltou de 18 para 24 pontos percentuais, ganhando a maior parte das indecisas que eram 11 e ficaram em 5. Subiu também 6 pontos entre os evangélicos, onde o Haddad caiu 2. O desempenho por regiões mostrou que nos estados do sul e sudeste o Bolsonaro subiu 15 pontos, enquanto o Haddad caiu 9! E mais. Entre o sul e o sudeste, o pior desempenho foi no sul, onde Bolsonaro cresceu 9 pontos e o Haddad decresceu 6.
Mesmo com ressalvas, esses resultados do Ibope são preocupantes, mormente se acrescidos com os mostrados pelo Datafolha, que são piores. Apesar do tempo já não permitir muitas mudanças, uma coisa parece certa: mais do mesmo, não é uma atitude sensata. Agrego algumas reflexões e sugestões:
1) Perdemos mais no meio das mulheres e no Sul e, contudo, temos uma mulher, a Manuela, como vice, das maiores revelações dessa campanha e recordista de votos em disputas de cargos proporcionais em um dos mais importantes estados do sul.
A Manuela tem atuado intensamente na campanha, mas não nas aparições mais importantes, nos horários nobres da TV. Mesmo nas últimas horas, caberia abrir-lhe espaços significativos no programa de TV, pois ela poderia ajudar a ganhar mulheres e estados do sul.
2) Nossa população é grandemente religiosa. Nós respeitamos as religiões. Foi Jorge Amado, deputado pelo Partido Comunista do Brasil, quem apresentou, na Constituinte de 1946, a emenda que garantiu a liberdade religiosa na Constituição então aprovada. Isto não pode ser lembrado em algum momento? Não haveria mais tempo para visitas à CNBB, a algum evangélico de projeção e a algum terreiro de Umbanda ou Candomblé?
3) Temos desconstruído pouco o Bolsonaro nos programas de TV, embora nas “redes” isto tem ocorrido. O Brasil “profundo” ainda vê muito a TV aberta e não sabe, pela boca do Bolsonaro, algumas das posições que ele defende.
4) Aquela pergunta do Ciro sobre “constituinte exclusiva” suscitou resposta confusa do Haddad, não por causa do Haddad, mas porque a posição está errada. Como outros debates ocorrerão, é preciso não gastar muito tempo nas respostas a certas questões. Pode-se aproveitar o tempo de certas respostas para aprofundar outras questões.
5) Nossa determinação em retomar o desenvolvimento com inclusão social precisa ser mais levantada. Afinal, tudo que estamos fazendo é para, através da democracia restaurada, enveredarmos pela busca do desenvolvimento. Mas, por que meios?
6) A população mais simples tem razões para estar assombrada com a violência que permeia as periferias. Este tema deveria comparecer mais na propaganda e nos debates.
7) Por último, há que reavivar a perseguição jurídica recorrente a Lula e a interferência despropositada do Juiz Sérgio Moro no processo eleitoral, liberando partes das delações de Paloci, a seis dias das eleições. O assunto poderia ser tratado por um locutor em off, que faria uma espécie de comunicado, preciso, conciso e contundente, tipo:
“Nossa campanha denuncia e protesta conta a intromissão descabida do Juiz Sérgio Moro na campanha eleitoral em curso.
O ex-ministro Antonio Paloci foi preso em setembro de 2016 e condenado a mais de 12 anos de cadeia. Convicto de que se fizesse delação que envolvesse o presidente Lula sua pena poderia ser reduzida em 2/3, levantou aleivosias e calúnias diversas contra Lula, produzindo uma delação sob encomenda, que muito diz sobre a deformação de seu caráter.
Como não conseguiu nenhuma prova sobre o que disse, o Ministério Público recusou sua delação e ela foi posta de lado, ficando sob segredo de Justiça, desde abril deste ano.
Agora, a seis dias da eleição, o Juiz Sérgio Moro autorizou a divulgação de partes dessa delação que caluniam o presidente Lula, mesmo sabendo que não há nenhuma prova sobre o que elas dizem. Isto apenas poderia prejudicar o candidato apoiado por Lula nessa campanha, Fernando Haddad.
Queremos manifestar a nossa repulsa veemente a essa interferência indevida de um Juiz na campanha eleitoral, o que comprova e acentua a perseguição jurídica de que o presidente Lula é vítima. O povo dará nas urnas a resposta que essa iniquidade merece.”
Haroldo Lima é membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil